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Romaria dos Mártires da Caminhada, sinal de esperança

Romaria dos Mártires da Caminhada, sinal de esperança

Publicado em 21/07/2016 às 09h04

Romaria dos Mártires da Caminhada, Sinal de Esperança Para Um Povo que Luta Pelo Reino  Por Luis Miguel Modino e  Leoni Alves Garcia

Uma das frases mais conhecidas de Dom Pedro Casaldáliga é aquela que diz: “Minhas causas valem mais que minha vida”. Para o profeta do Araguaia isso não é só uma frase bonita e sim um jeito de viver que o leva a estar presente e fazer memória do que tem feito parte de sua vida, lutar pela justiça como profeta que se coloca ao serviço para criar um mundo melhor para todos e todas. A Dom Pedro Casaldáliga aos 88 anos se une seu “irmão Parkinson”. Mas isso, mesmo sendo uma limitação, um impedimento para muitas pessoas, não lhe fez desistir de estar presente numa nova edição da Romaria dos Mártires da Caminhada, se tornando um ícone daquilo que significa ser Profeta do Reino, temática desta Romaria, em que se fez memória dos 40 anos do martírio do jesuita João Bosco Burnier, assassinado em 1976 em Ribeirão Cascalheira, uma pequena cidade do interior do Mato Grosso que faz parte da prelazia de São Félix do Araguaia, onde Dom Pedro Casaldáliga foi bispo por mais de 40 anos.  O bispo missionário, cuja presença profética tem animado  o povo se fez romeiros com os milhares de homens, mulheres  de todas as idades e de muitos lugares que ao longo deste final de semana, num número que superou as expectativas dos organizadores, participaram  deste momento singelo que acontece a cada  cinco anos.   O clamor por justiça trazido pelos povos indígenas, perseguidos sem piedade nos últimos tempos. Em seus testemunhos relataram os massacres que estão sofrendo em suas aldeias espalhadas por todo o  território brasileiro.  A participação e protagonismo feminino provocou uma reflexão  sobre o papel das mulheres na sociedade e na Igreja, culminando com a proclamação das Bem Aventuranças feito  por uma mulher, mostrando que é possível um jeito de celebrar mais próximo daquele que era comum às primeiras comunidades cristãs.  Na Romaria também esteve presente a atual situação política brasileira. A perda dos direitos sociais, conquistados ao longo de muitos anos de luta é uma preocupação para todos os presentes. Também não foi esquecido de falar sobre o problema do Cuidado da Casa Comum, a partir da Encíclica Laudato Si, o que levou os romeiros a refletirem sobre a situação do Cerrado, devastado em conseqüência do desmatamento e das queimadas para plantar soja e criar gado, o que tem provocado terríveis conseqüências meio ambiente e muito sofrimento para as comunidades tradicionais e para os povos originarios. Na celebração estiveram presentes bispos de diferentes confissões. O Bispo da Igreja Anglicana,  afirmou que estar do lado de Jesus, adorar Deus, é estar na luta com o pobre e que tudo o que não seja isso faz que a religião se torne idolatria. Com palavras semelhantes, Dom Adriano Ciocca, bispo atual de São Felix do Araguaia, diz que esta economia mata e que não devemos nos aliarmos com a corrupção que assola o Brasil, incidindo em que não é a Lei e sim a Misericórdia o que nos salva. Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho e presidente do CIMI, Conselho Indigenista Missionário, convidou os presentes a quebrar as correntes da morte, a defender os povos originários, seguindo a “santa teimosia” que sempre falou e assumiu Dom Pedro Casaldáliga. Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretario Geral da CNBB, quem sucedeu Dom Pedro Casaldáliga como bispo de São Felix, diz que os mártires viveram a Palavra, ousaram dar a vida, o que é um estímulo diante da situação de corrupção pela que o país está passando, com um Congresso Nacional que aprova leis contra a vida, contra os povos originários, contra as crianças e os adolescentes. Diante desta situação não podemos nos calar, temos que ser profetas de um Deus que está do nosso lado e nos ama. Finalmente, Dom Eugenio Rixen, bispo da diocese de Goiás, insistia em que não podemos perder a alegria e a esperança, denunciando a criminalização que sofrem os movimentos sociais no país. Na Romaria foram assumidos oito compromissos, que devem ser concretizados nos diferentes lugares onde os presentes vivem a fé, o que sem dúvida vai ajudar a fazer realidade uma Igreja mais próxima dos excluídos. Acompanhar as CEBs na sua caminhada do dia a dia; cultivar o cuidado e o respeito às diversidades de gênero, crença, etnia; respaldar particularmente os direitos dos povos originários; cuidar da Casa Comum, da “Ecologia Integral”; Participar dos movimentos populares dando a nossa contribuição específica; acompanhar as vidas e as lutas das juventudes; envolver a Campanha da Reforma política, acompanhar e fiscalizar a vida política em nossos municípios; fazer das Romarias dos Mártires uma graça e uma missão. Tudo o que foi vivenciado nos dias da Romaria partiu da necessidade de anunciar e denunciar, sempre amparados num Deus que é fonte de consolo e que movido pela sua grande Misericórdia escuta os clamores de seu Povo. Nunca podemos perder a esperança que um mundo melhor para todos é possível.

 

 

 

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