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Comunidades eclesiais de base e espiritualidade libertadora

Por Marcelo Barros

FOTO: Renan Dantas / Comunica15

Há apenas alguns dias, de 18 a 22 de julho, ocorreu em Rondonópolis, MT, o XV Encontro Intereclesial de Comunidades eclesiais de base (CEBs). O tema foi “CEBs: Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas!”. 

As comunidades eclesiais de base surgiram em várias regiões do Brasil, na década de 1960, como consequência do Concílio Vaticano II. Este insistiu no caráter comunitário da fé cristã e no desafio de ligar a fé à vida concreta, como testemunho de libertação e vida para todos e todas. Ao propor um caminho de fé mais centrado no evangelho, provocou que a Igreja pudesse ser espaço de comunhão e promoção de vida para todos e todas. Não somente no plano espiritual, mas em todas as dimensões da vida. Lamentavelmente, o Cristianismo chegou ao nosso continente, ligado aos impérios conquistadores. Até quase nossos dias, a hierarquia e o clero católico pareciam mais ligados à elite do que ao povo pobre. 

Na Igreja Católica, sempre houve pequenas comunidades que se reúnem em capelas no interior e fazem parte das paróquias. As comunidades eclesiais de base são diferentes. Não se reúnem apenas para a catequese e o culto. Assumem a missão de se inserir no mundo social e político, como novo modo de ser Igreja.  Atualmente, o papa Francisco propõe o que chama de “Igreja em saída”, ou seja, um modo de viver a fé aberto aos problemas do mundo e solidário às causas do povo empobrecido. As Cebs fazem isso.

Em 1975, alguns bispos e pastores que acompanhavam as Cebs no Brasil propuseram que se fizesse um encontro entre Igrejas (dioceses) que tinham Cebs para partilhar experiências e buscar caminhos comuns. Assim nasceu o 1º Encontro Intereclesial de Cebs em Vitória, ES. Nesses dias, tivemos o XV Intereclesial. Esse contou com a presença de 1.500 pessoas, entre gente de base, agentes de pastoral, religiosas/os, padres e bispos. Entre os/as participantes, havia expressivo grupo de índios e índias, de todas as regiões do país, assim como irmãos e irmãs negros, de comunidades tradicionais e remanescentes de quilombos.  

Esse encontro significou forte sinal de resistência por parte da Igreja inserida na caminhada do povo empobrecido. Foi uma festa, na qual as pessoas celebraram a alegria de que o Cristianismo da Libertação está vivo. No Brasil, há muitos grupos cristãos, decididos a viver a profecia do evangelho e o seguimento de Jesus. Mesmo com o respeito que merecem as devoções medievais e barrocas, atualmente em voga em muitas paróquias católicas; devoções  nascidas em época na qual  o povo não tinha acesso ao culto litúrgico da Igreja, as Cebs preferem os círculos bíblicos e a leitura orante da vida e da Bíblia. Na celebração inicial desse Encontro Intereclesial de Rondonópolis, foi excepcionalmente profético o ágape eucarístico presidido por nossa irmã Marilza Schuina que, sobre o pão a ser partilhado, cantou uma linda prece eucarística composta pelo saudoso Reginaldo Veloso. Indicou assim uma pista para o caminho profético que nos chama a eucaristicizar toda a vida e a ir além do clericalismo sacerdotal que ainda aprisiona a ceia de Jesus a um culto que continua sendo clerical e separado da partilha de alimento e afeto que a eucaristia deveria provocar.

A mensagem final dos/das participantes do XV Encontro Intereclesial de Cebs às comunidades afirma:

“… As CEBs, qual mulher grávida, continuam gerando o novo, recriando os caminhos de libertação, sob o impulso do verbo sair, que funciona como fio condutor de toda a nossa existência. De Gênesis ao Apocalipse, a caminhada do povo de Deus se deu sob a inspiração da Divina Ruah, fomentando um permanente sair. Do ventre da mulher ao ventre da Pachamama, saímos sempre em busca da vida plena.

O AGIR nos enviou para cuidar. Cuidar para não perdermos o entusiasmo, para não banalizarmos a missão, para que as CEBs sempre tenham o coração ardendo pela Palavra e os pés firmes na caminhada do povo periférico. Cuidar dos grupos bíblicos de reflexão como sementes de novas comunidades. Cuidar da memória martirial e profética, das estruturas de comunhão e participação, do protagonismo das mulheres e das juventudes, da vida plena dos povos originários, da aliança e parceria com os movimentos populares, da força da sinodalidade que está na comunidade e dos processos de formação permanente. E em tudo, valorizar a força dos pobres nas iniciativas comunitárias e não deixar que nos roubem as comunidades!”.

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