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Reflexão da Palavra | 5º Domingo da Páscoa – Ano B

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs, Regional Leste 1

Leituras: At 9,26-31 – Sl 21 – 1Jo 3,18-24 – Jo 15,1-8

O povo de Deus é apresentado sob a imagem agrícola da vinha. A insistência da leitura, porém, não está na imagem global do povo, e sim na comunhão ou na possibilidade de não-comunhão entre os membros desse povo a Cristo. Isso pode explicar a redução da imagem da vinha à imagem da videira. João faz isso na leitura do Evangelho.

A situação das primeiras comunidades cristãs é exemplar para entendermos as tensões pelas quais hoje também passa a nossa Igreja. A comunidade cristã de Jerusalém, a primeira a ser formada de modo estável, com sua organização em torno dos Apóstolos, tende a se tornar prevalentementea guardiã das tradições, a fechar-se em si mesma e a olhar com suspeitas para quem quer que modifique as fórmulas doutrinais e a praxe habitual. O peso dos formalismos, dos rubricismos litúrgicos obscurece o mandato missionário do Senhor ressuscitado e a sua abertura a todas as nações pagãs, o diálogo com todas as culturas; impede, por vezes, a capacidade de rejuvenescimento que provém da perene novidade do Ressuscitado. Foi assim no tempo da Igreja primitiva e continua sendo em nossos dias.

A História mostra que, com a morte dos discípulos, com a destruição de Jerusalém e a consequente dispersão da comunidade cristã, o centro dinâmico das comunidades é o Senhor Ressuscitado. As comunidades cristãs de toda a face da terra constituem seu corpo que cresce e se edifica no amor, na caridade.

A perícope do evangelho de hoje põe em evidência a tensão de crescimento da Igreja; ela é a nova vinha que substitui a antiga; o povo de Israel, que no Antigo Testamento é indicado, frequentemente, pelo alegoria da vinha. A nova vinha nasce de um único tronco, Cristo Jesus, e que está destinada a cobrir toda a terra com seus frutos. Como todo o crescimento, o da Igreja é acompanhado de tensões, de desequilíbrios, tanto no campo fisiológico, como no social e político, tensões estas que podem tornar-se fecundas… Não o serão quando se transformam em sectarismo = intransigência, intolerância, que obstrui a diversidade, o diferente, a diversidade, o diálogo. E nestes casos, a fraternidade entre os povos é rompida. A intolerância e a excomunhão recíproca se insentifica a cada dia, nas relações políticas, sociais, mas também religiosas. E na Igreja, isto tem-se visibilizado no interior da nossa convivência, das nossas pastorais, dos nossos trabalhos comunitários. Falamos muito de pluralismo, mas ainda não compreendemos que isto exige maturidade, muita capacidade de diálogo, respeito e amor. E, se em meio a tudo isto tivermos dúvidas sobre o caminho a seguir, o critério para se verificar se existe – ou pode existir – comunhão entre os cristãos = ramos que somos da videira, basta observarmos os frutos. Se estamos ligados ao Cristo, nossa videira, nossos frutos só poderão ser “uvas”, jamais laranjas ou bananas… sem metáforas: se ligados a Cristo, nossos frutos serão de justiça social, equidade nos relacionamentos, simplicidade na postura, acolhimento aos vulneráveis, poder e influência exercidos como serviço. O que foge disso, em se tratando de seguimento a Jesus, é questionável. Que entendamos isto!

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