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O NATAL DOS TEMPOS ATUAIS (I)

Por ANTONIO SALUSTIANO FILHO

  1. Introdução*

Estamos no Advento. Aquele período de tempo que nos preparamos para o Natal! A palavra Advento vem do termo latim “ad-venio”, que quer dizer “vir, chegar”. Nós, o(a)s cristã(o)s católica(os) celebramos esse tempo na perspectiva da espera da data celebrativa/festiva do Nascimento de Jesus, o Filho de Deus. 

Fazendo eco à reflexão de Leonardo Boff[1], ouso dizer que termo “Natal” nos remete a todo um universo de símbolos poéticos e nostálgicos deste acontecimento extraordinário na História da humanidade: o presépio com a vela, as estrelas, as bolas e balões coloridos, o pinheirinho, os animais (o boi e o asno no entorno da manjedoura), os pastores, o bom José e a Virgem Mãe, o Menino repousando sobre palhas, os reis Magos.

Esses símbolos constituem o eco do maior evento da história: a encarnação de Deus, ou seja, Deus se fez Homem e habitou em carne e osso entre nós. Tais símbolos são produtos da nossa fé e, sem a conotação comercial que hoje lhes dão, falam aos nossos corações porque nos enchem de encantamentos ao memorar seus significados originais (BOFF, 2009). 

Hoje, num mundo totalmente profanizado, estes símbolos foram capturados pelo comércio e apelam para nosso bolso. No lugar do Menino-Jesus colocaram papai Noel, figura ridícula dos tempos atuais da sociedade de consumo para aliciar a fé pequena daqueles apegados ao consumo desenfreado ou às fantasias distorcidas de um mercado que aliena as pessoas para a gastança proposta pelo mercado que a cada ano quer superar o ano anterior. Porém, apesar de toda a profanização, o Natal ainda guarda sua sacralidade inviolável, sacralidade esta que representa a própria vida (BOFF, 2009).

Toda vida é sagrada e nos remete ao mistério sacrossanto de Deus. Por isso, todo atentado contra vida é uma agressão ao próprio Deus. Na vida do Menino-Jesus, nossa fé celebra a manifestação da própria Vida e a comunicação do próprio Mistério (Deus). A intuição desta profundidade não foi perdida na sociedade secularizada e profanizada. Em razão disso, o Natal é mais que todos os seus símbolos manipuláveis; é mais rico que todos os mecanismos de consumo. É mais significativo que o frenesi da festa da bebedeira e comilança dos que têm e podem gastar.

A festa natalina, sua preparação no tempo do Advento, as celebrações da nossa religiosidade para renovação da nossa fé na figura do Menino-Deus deitado numa manjedoura, a ceia singela do encontro comensal dos se amam e não esquecem dos desamparado, é uma proposta de renascimento, de renovação da vida que se reinventa em cada Natal (BOFF, 2009), quando damos a oportunidade de Jesus nascer em nossos corações. Do contrário, como dizia Angelus Silesius, místico e poeta de outros tempos, “Nasça Cristo Mil vezes em Belém e não nasça em teu coração: estás perdido para o além, nasceste em vão”.

* O presente texto é a introdução de uma reflexão nossa sobre o Natal, cujo texto maior será objeto da publicação de um livro com diversos capítulos escritos em forma de artigos em datas diferentes por ocasiões dos Natais.

ANTONIO SALUSTIANO FILHO, advogado e membros das CEBs do Regional Sul-1 e da Ampliada Nacional de CEBs, militante do Movimentos Sociais Libertários.  


[1] BOFF, Leonardo. “Natal: a humanidade e jovialidade de nosso Deus”. 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, pp.8/9.

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