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Reflexão da Palavra | 29º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Leituras: Is 45, 1.4-5 – Sl 95 – 1Ts 1,1-5b – Mt 22,15-21

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

A frase “Dai a César o que é de César” bastante conhecida por todos nós, é mais que uma frase-resposta de efeito que Jesus dá àqueles que queriam armar-lhe uma cilada. É uma resposta irônica com a qual Jesus responde sem se perturbar, precisando bem os limites de campo e as relações recíprocas entre Estado e Igreja. O Evangelho – Mt 22, 15-21 – nos põe diante do conflito que travamos: como conciliar em nosso cotidiano duas realidades, por vezes excludentes: a autoridade política e a autoridade religiosa? Como integrar aspectos, aparentemente antagônicos como fé e política? Os judeus estavam sobre o domínio romano, e o pagamento do tributo era prova de sujeição ao imperador. Se Jesus respondesse que o povo deveria pagar o imposto, perderia sua popularidade, seria acusado de trair sua nação e perderia qualquer pretensão messiânica. Caso respondesse que não deveriam pagar o imposto, seria acusado de rebelião contra o império e seria preso. Mas Jesus ultrapassa a questão do lícito ou ilícito – hoje do pode não pode – e conduz seus interlocutores a uma reflexão mais profunda: a autoridade política não pode tomar o lugar de Deus! A sujeição ao imperador romano era sinal de idolatria. Ao perguntar de quem era a figura e a inscrição da moeda, Jesus toca no âmago da questão: os judeus usavam a moeda romana, logo, não tinham por que se opor ao pagamento do imposto. Mas acrescenta: “Dái a Deus o que é de Deus”. O verbo “dar” no grego significa também “devolver” e já que a imagem de Deus está inscrita em nós, devemos “devolver” nossa vida em adoração a Ele, cumprindo a sua soberana vontade, e a prática de devolver a Deus o que é de Deus destrói toda idolatria! César/moeda representa o projeto político humano, que deve ser respeitado, mas Deus é o Senhor desse projeto também. O projeto político pode e deve fazer parte do grande projeto do Reino de Deus. O Reino não é algo que será conquistado após a morte… Ele já está acontecendo entre nós, nos sinais de justiça, de alegria, de partilha, de amor e de misericórdia, de paz. E para isso não podemos descartar a mediação política, temporal, das organizações que detém o poder. Mas não podemos nos esquecer que esse poder, todo ele, emana de Deus e que temos que “devolvê-lo” a Deus… senão é idolatria! Dar a César a parte que lhe toca pelo poder que lhe atribuímos na construção do Reino já, agora, na história. Mas mesmo o que damos a César é Deus… A esperança cristã de um mundo melhor para o nosso mundo passa pelo “poder de César”, da política, dos políticos que nos representam, das potências mundiais que conduzem a realidade humana. Em tempos difíceis como o que estamos vivendo – duas guerras em curso! – muitas asneiras são ditas, até com fundamentalismos bíblicos para justificar o injustificável! Nada pode justificar o massacre de crianças, o abate de um hospital, a fúria mortífera que destrói vidas, sonhos, países… ainda que compreendamos algumas motivações históricas que conduzem as guerras, temos que encontrar métodos pacíficos de solução ! O que vemos são “quedas de braço” daqueles aos quais a guerra traz benefícios políticos e econômicos. Mas Deus está acima de César! E as nossas atitudes e posições políticas devem ter isso como referência. Não se trata de duas esperanças, de dois momentos, uma aqui na terra e outra lá no céu. É uma só esperança, que se encontra entrelaçada com poderes que, muitas vezes, não estão a serviço do bem comum, da solidariedade, da partilha, da paz e da justiça. Que o Senhor nos ajude a discernir bem um e outro

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