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Reflexão da Palavra | 33º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Leituras: Pr 31,10-13.19-20.30-31 – Sl 127 – 1Ts 5,1-6 – Mt 25,14-30

No domingo passado refletimos sobre a prudência, que significa previsão do risco, cautela para o que pode vir acontecer. Hoje as leituras nos alertam para o despertar da responsabilidade que sempre é um risco… convidam a uma reflexão sobre a parcela de contribuição que devo oferecer ao mundo e à realidade que me cerca, e, muitas vezes, isso não acontece.

A parábola dos talentos pode ser interpretada de muitas maneiras. Um senhor entregou seus bens aos seus empregados para que os administrassem na sua ausência e viajou para o estrangeiro. Dividiu de acordo com a capacidade de cada um. Os dois primeiros logo fizeram com que seus talentos se multiplicassem… o que recebeu um talento, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão. O restante da parábola é bastante conhecido: a ira do patrão e o castigo aplicado. A razão adotada pelo servo preguiçoso parece, à primeira vista, um raciocínio justo: é mais sensato conservar o pouco que se tem do que perdê-lo. Seu argumento é plausível – o Senhor “colhe onde não semeou” – é como se dissesse “Eu sou justo, tu é que não és”. No fundo, seu raciocínio tem uma certa lógica: Deus exige perfeição; a lei exprime sua vontade; só uma observância escrupulosa da lei nos põe em segurança.

Mas a lógica do senhor da parábola é diferente. A Salvação passa através do risco: “Sabias que colho onde não semeei, portanto…”. O dom deve ser multiplicado. Quem não se arrisca não pode lucrar! A defesa é a tática da desconfiança. Não ousar pode parecer prudência, mas pode ser uma forma de preguiça. Empenhar os próprios talentos não é “acumular” uma fortuna para si, nem usar as próprias capacidades unicamente em benefício próprio, nem tampouco desperdiçá-las, mas colocá-las a serviço.

Este servo não tem interesse pelas coisas do seu senhor, nem pelos seus “bens”; não ama o seu senhor, tem-lhe medo. Não sabe o que significa responsabilidade, não é fiel ao seu senhor. Não se envolve nos seus projetos. Devolve-lhe exatamente o que recebeu: “Aqui tens o que é teu!”.

Somo os administradores dos bens de Deus, do nosso Senhor. Ele os entregou ao nosso cuidado, para que os multiplicássemos. Com qual dos três servos da parábola nos identificamos? Que riscos corremos para que este mundo seja mais justo e melhor, mais habitável, menos desumano? Que responsabilidades tenho assumido para que se torne possível a paz, a harmonia e a equidade entre todos nós?

Em tempos de guerras, de grandes conflitos sociopolíticos, de crises climáticas e ambientais, vale pensar sobre tudo isto. Pensemos na responsabilidade do nosso voto, no peso da nossa omissão, no resultado da nossa indiferença. Não podemos nos recusar a assumir a nossa parcela de responsabilidade por tudo que acontece na nossa cidade, no nosso estado, no nosso Brasil e no mundo. No Dia Mundial dos Pobres pensemos na nossa contribuição para este cenário de fome, violência, desemprego, miséria, injustiça e morte: nada fazer é corroborar, concordar; é aceitar tudo que nos oferecem, que nos impõem goela abaixo; calar é o mesmo que enterrar o meu talento. Pensemos nisso. Amém.

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