Shadow

Reflexão da Palavra | Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Leituras: Gn 3,9-15.20 – Sl 97 – Ef 1,3-6.11-12 – Lc 1,26-38

O tema da Imaculada é central no Advento, que se prepara para reviver o “mistério da Redenção” em acontecimentos nos quais a graça irrompe superabundantemente. A cena da anunciação a Maria – descrita por Lucas – é a página da sua cooperação na obra da salvação. O seu “sim” foi mantido e acentuado durante toda a vida de Jesus, até o Calvário. Maria nos ensina que entrar no mistério do Cristo, querer contribuir no mistério da salvação é colocar-se a serviço. Sendo escolhida para ser mãe, faz-se serva. Mesmo não entendendo o que estava acontecendo, respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”.

Fazendo-se humano, Cristo não conheceu o pecado, ainda que tenha convivido com o mal e com pecadores. Ele, santo e imaculado, chegou até nós pelo “sim” de Maria, sua mãe, também imune do pecado e da culpa, a fim de ser modelo e possibilidade para nós. Com ela, o mal foi definitivamente vencido. A virgindade de Maria ultrapassa o âmbito da visão de sexualidade que a nossa cultura impregnou de erotismo, de um estigma pecaminoso, que tanto prejudicou – e ainda prejudica – uma humana vivência da sexualidade humana. Para muitos cristãos, sexo tornou-se um mal necessário para cumprir o mandato da Criação, do “Crescei e multiplicai-vos!” Confundimos virgindade com castidade e reduzimos a riqueza sexual ao âmbito do pornográfico e do proibido. No campo da espiritualidade, fica difícil seguir e ter como modelo uma mulher como Maria, está longe demais de nós…

Ao contrário, somos todos convidados/as – homens e mulheres! – a vivermos, como Maria, uma autêntica fidelidade ao nosso amor maior que é Deus. Maria não conheceu outros amores, outros deuses, não se perdeu na idolatria do ter, por isso é Imaculada. Manteve-se fiel a Iahweh, – a Virgem Fiel – oferecendo-lhe seu amor puro e único! Maria contrasta com a figura de Eva: pelo seu “sim”, ela fortalece e possibilita a presença do bem e do amor num mundo marcado pelo mal e pela violência. Maria é modelo de fé adulta, esclarecida, convicta e responsável, que repercute na vida, no cotidiano. Assim como na teologia bíblica contrapomos Jesus, o Novo Adão – humanidade nova – ao Adão da antiga criação, o Homem Velho, com Maria temos o sinal de uma nova mulher, não frágil e submissa como muitos a veem, mas forte, decidida e disposta a assumir o projeto de Deus, concretizado em seu Filho. A figura de Maria pode nos ajudar a criar força e coragem neste momento de tanta violência contra nós, construindo uma sociedade mais fraterna e menos violenta.

Algumas expressões culturais das leituras bíblicas, quando descontextualizadas, tiram-nos do foco central da mensagem que é passada. Perdemo-nos nos detalhes das palavras ditas sobre o grande Mistério da Encarnação do Filho de Deus, romantizamos um evento nada fácil para a Mãe de Jesus e não captamos o que está sendo afirmado “por trás das palavras”.

A saudação do anjo é um convite à alegria! E aprendamos com Maria que só se pode ser alegre em comunhão com os que sofrem e em solidariedade com os que choram. Só tem direito à alegria quem luta para a torná-la possível e real entre os humilhados. Só pode ser feliz quem se esforça por fazer os outros felizes. Só pode celebrar o Natal quem sinceramente procura fazer nascer uma pessoa nova dentro de si e outras no seio do mundo. Ele vem… está chegando… já ouvimos os seu sinais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.