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A PROFECIA DE BENTO XVI SOBRE O FUTURO DA IGREJA APONTA PARA AS CEBs

Por Toninho Kalunga

15º Intereclesial das CEBs Foto: Comunica15/ Renan Dantas

Em abril de 2022, numa visita à Malta – país europeu, que fica entre o Sul da Itália e o norte da Tunísia, no continente Africano – Papa Francisco disse que Bento XVI havia sido um profeta:

“O Papa Bento XVI foi um profeta desta Igreja do futuro, uma Igreja que se tornará menor, perderá muitos privilégios, será mais humilde e autêntica e encontrará energia para o que é essencial”.

“Será uma Igreja mais espiritual, mais pobre e menos política: uma Igreja dos pequeninos”. E continuou: “Como bispo, Bento disse: preparemo-nos para ser uma Igreja menor. Este é um dos seus insights mais profundos”.

Essa “revelação” do Papa Francisco tinha como base uma fala do então padre Joseph Ratzinger, numa rádio na Alemanha em 1969, portanto, no pós Vaticano II, na qual disse:

“Da crise de hoje surgirá a Igreja de amanhã, uma Igreja que perdeu muito. Ficará pequena e terá que recomeçar mais ou menos do início…. À medida que o número de seus adeptos diminuir, perderá muitos de seus privilégios sociais. Ao contrário de uma época anterior, ela será vista muito mais como uma sociedade voluntária, na qual se entra apenas por livre escolha. Como uma pequena sociedade, exigirá muito mais da iniciativa de seus membros individualmente”.

E continua Padre Ratzinger, falando sobre o futuro da Igreja:

“Mas em todas as mudanças que se possam imaginar, a Igreja reencontrará sua essência e com plena convicção naquilo que sempre esteve no seu centro: a fé no Deus trino, em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, na presença do Espírito até o fim do mundo. A Igreja será uma Igreja mais espiritual, sem as pretensões de um mandato político, flertando tanto com a esquerda quanto com a direita”, disse o futuro Papa Bento XVI, na época.

Ora, ora: É isso que Leonardo Boff, Gustavo Gutiérrez, e jesuítas como Juan Luis Segundo e Jon Sobrino defendem. Esta é a Igreja das CEBs! A igreja dos pobres, a Igreja que tanto queremos e buscamos! Não é a Igreja das pompas e castelos, do clericalismo hostil ao povo e distantes da realidade e do sofrimento dos menos favorecidos. Exatamente o oposto da Igreja que o próprio Ratzinger, acabou sendo visto como um de seus principais representantes, que era uma Igreja pequena e elitista. E aqui reside um ponto curioso.

Os ultraconservadores Católicos apostam numa Igreja para poucos, para uma casta de privilegiados que têm uma compreensão estreita do papel da Igreja para o mundo e de dentro da Igreja para os próprios seguidores. Para esta pequena, mas barulhenta porção da Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja é um local que se resume ao templo físico e que está reservado para esta casta que compreende o chamado de Jesus para pouquíssimos eleitos, com regramentos e cheios de apontamentos sobre o pecado e castigos divinos, esta Igreja é diametralmente oposta a outra pequena Igreja: esta proposta pelas CEBs, próxima dos pobres e marginalizados, onde o fardo é leve e o julgo suave, onde o Deus, visto como sendo Todo Poderoso pelos ricos, é visto como um Deus Todo Amoroso, pelos pobres, onde o poder e a força de Deus está na acolhida, na tolerância e no perdão, conforme podemos ver no Evangelho de João, capítulo 12,37-41:

37Apesar de Jesus ter realizado na presença deles tantos sinais, não acreditaram nele. 38Assim se cumpriu a palavra dita pelo profeta Isaías: “Senhor, quem acreditou em nossa mensagem? Para quem foi revelada a força do Senhor?” 39O próprio Isaías mostrou a razão pela qual eles não podiam acreditar: 40‘‘Deus cegou os olhos deles e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e não compreendam com o coração, a fim de que não se convertam, e eu tenha que curá-los.” 41Isaías falou assim porque viu a glória de Jesus e falou a respeito dele.

Então, os mais afoitos dirão: mas as CEBs são ligadas à esquerda, logo, não é essa Igreja que Bento XVI estava se referindo em 1969, quando ainda era padre. Eu digo e afirmo, somente quem não conhece a CEBs, têm essa concepção!! E digo mais: As CEBs não são ligadas à esquerda, o que as CEBs fazem é rejeitar a política dos poderosos que maltratam e matam os pobres! As CEBs são ligadas à Teologia da Libertação. Se a esquerda política adota as práticas da defesa dos direitos dos povos, sugeridas e entendidas como sendo das CEBs ou das Pastorais Sociais como um todo, o que posso fazer?

Ampliada Nacional das CEBs JAN/2024 Foto: Renan Dantas

As CEBs são ligadas ao Evangelho de Jesus Cristo, que revelou aos pobres e pequeninos este Deus TODO AMOROSO, em contraponto ao Deus que os ricos e poderosos pregam para manter seus privilégios e afastar os pequeninos da libertação que Jesus anuncia a estes. Vejam a quantidade de regras e medos que esta teologia da necrorreligião, ligada a essa gente que se intitula, estes sim, de direita e não se envegonham de serem identificados como sendo de extrema direita. Que o digam os Gandras!

É esse Deus dos pobres que reanimou o povo que estava perdido diante de uma igreja que, literalmente, virava as costas para seus fiéis ao rezar aos domingos antes do Concílio Vaticano II e que gera tanta contradição com os pobres. Daí a diferença fundamental entre Igreja e Templo. Na Igreja o povo se encontra com Deus. No templo, nem sempre. Essa é a diferença substancial entre a concepção da Teologia da Libertação e a Teologia da Prosperidade e do medo gerado pela necrorreligião, que prega a morte e o medo com mais ênfase do que a defesa da vida em abundância que Jesus traz na essência de Sua pregação.

O Concílio Vaticano II ainda hoje não é aceito por parte deste católicos que estão alinhados a esta igreja do poder das pompas e circunstâncias, medieval e anacrônica. Vejam o que prega aquele pessoal do Rio de Janeiro que os usurpam o nome de Dom Bosco e desfiguram Nossa Senhora de Fátima, com a pregação de uma igreja de extremismos ritualísticos, cheia de regras completamente distantes dos pobres, carregada de preconceitos e ataques a tudo aquilo que esta igreja da libertação, que Bento 16 diz que será o futuro.

Quando olho para CEBs e me deparo com esta percepção do Papa Francisco, enxergo a profecia de Bento XVI se cumprindo. Em minhas viagens a trabalho, tenho ido às igrejas de grandes e pequenas cidades e ouvido padres falar sobre a falta do povo na vida cotidiana da Igreja.

Vejo muitos destes reclamar que faltam crianças, jovens e adultos para se matricular na catequese. Ao perguntar quantas pastorais que vivenciam as realidades dos pobres existentes naquela comunidade, o que vejo é uma distância absoluta de tudo que questiona o sistema que oprime os pobres pastoralmente falando. Então, como pretendem ver estas ovelhas neste redil, se estas não conseguem ouvir a voz dos pastores para defendê-las dos ataques contra dos lobos destes tempos?

Não há espaço para a Pastoral da Juventude que debata a realidade e as dificuldades desta juventude. Quando muito, o que existe são encontros de jovens, carregados de emoções e vazios de propósitos. Como é que esperam cativar estes jovens então?

Não há uma pastoral da Saúde, da Moradia e da Favela, Pastoral da Mulher Marginalizada (ou será se nestas Comunidades não existem mulheres marginalizadas?), Pastoral da Criança, Pastoral do povo de rua, Pastoral do Menor e por aí, vai! Mas sobram grupos que alimentam o clericalismo que tanto machuca a própria Igreja.

São Igrejas ritualísticas, afastadas das dores e das lutas e alegrias do povo. Uma Igreja covarde que teme afrontar os poderosos locais com medo de perder o apoio para a realização das festas da padroeira, ou do santo da Paróquia local.

Neste mesmo sentido, o Papa Francisco acrescentou: “A alegria da Igreja é evangelizar. O verdadeiro problema não é se somos poucos, em suma, mas se a Igreja evangeliza… Esta é a necessidade de hoje, a vocação da Igreja hoje”.

Penso eu, que é exatamente isso que estes sacerdotes que reclamam a falta do povo não entendem. Por evangelizar, – grande parcela dos padres atuais formados durante o papado de São João Paulo II e Bento XVI, com reflexos profundos no papado de Francisco – imaginam que o povo irá se misturar à Igreja em razão da presença do sacramento recebido pelo padre e não em razão do padre assumir este Sacramento e se misturar no meio do povo, conforme vemos no Ato dos Apóstolos.

https://biblia.paulus.com.br/biblia-pastoral/novo-testamento/atos-dos-apostolos/2

Esta é a essência das CEBs e da proposta da Teologia da Libertação. Evidente que não é perfeita, pois, perfeito é somente Deus. Mas é o caminho para recuperar o ânimo do povo e trazer de volta para o convívio comunitário a presença dos jovens, das crianças e de suas famílias. Esta é também a necessidade de devolver ao povo, aquilo que Papa Francisco chama de Fiducia Suplicans, ou seja, uma Igreja aberta e em saída. Uma Igreja que ofereça a gratuidade do Amor de Deus, como sempre foi Sua vontade. Aberta a todos e todas que dela vier a precisar e pedir.

Mas para isso, parafraseando Bento XVI, resumindo: Nossa Igreja terá que ter coragem de abrir mão dos privilégios que se habituou e acumulou nos últimos 17 séculos , deverá ser verdadeiramente humilde,  e terá que recomeçar mais ou menos do início, passando a agir como uma pequena sociedade, o que exigirá muito mais da iniciativa de seus membros individualmente. Ou seja, terá que compreender sua vocação em ser uma Comunidade Eclesial de Base. Nós já vivemos esta Igreja e somos muito felizes com ela. Quem quiser, venha e veja com seus próprios olhos.

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