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Biblista destaca importância de atuar nas margens da sociedade

Gibran Lachowski/Equipe Comunica 15

Crédito/fotos: Renan Dantas

Jesus era leigo, nunca foi sacerdote – disse assessora Tea Frigerio durante atividade nesta quinta (20), no terceiro dia do encontro, que ocorre em Rondonópolis (MT)

O verbo “sair” é o fio que costura o texto bíblico e deve animar as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nos dias de hoje a desenvolver uma atuação encarnada na realidade concreta a partir das margens da sociedade. É o que afirmou a religiosa, militante feminista e assessora pastoral Tea Frigerio nesta quinta-feira (20), no terceiro dia de realização do 15º Intereclesial, que ocorre em Rondonópolis (MT) reunindo cerca de 1,5 mil representantes de comunidades de todo o Brasil para refletir a respeito da realidade social e eclesial do país e da América Latina.

O encontro começou na terça (18) e se estende até o sábado (22), com atividades distribuídas em várias paróquias situadas na cidade de Rondonópolis.

Responsável por fazer uma síntese das discussões sobre os desafios das CEBs e propostas de resolução, a biblista e missionária xaveriana destacou as trajetórias de Jesus e Paulo como exemplos de “saída missionária”, do legalismo religioso judaico em direção à espiritualidade cotidiana, do poder imperial romano às relações de igualdade.

Essa perspectiva tem expressão emblemática em Atos dos Apóstolos (2, 42-47), passagem bíblica que trata das primeiras comunidades cristãs e é considerada pelas CEBs como símbolo de sua herança teológico-pastoral.

“Jesus nunca foi sacerdote. Jesus era leigo. Ele saiu de Nazaré para Cafarnaum em direção às margens da sociedade. Aproximou-se dos pescadores, dos pobres, das mulheres e homens do povo”, ressaltou Tea, que é biblista e missionária xaveriana, durante atividade realizada na parte da manhã no Centro de Eventos Santa Terezinha, no bairro Jardim Belo Horizonte.

Para Tea, as CEBs são “liminares”, ou seja, atuam nas bordas da sociedade, na construção de uma realidade mais justa e igualitária, o que corresponde às palavras do profeta Isaías (65, 17), ainda no Antigo Testamento, quando fala da importância de criar “um novo céu e uma nova terra”. Essas mesmas palavras compõem o lema do Intereclesial e se conectam com o tema do encontro: “CEBs – Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas”.

A expressão “Igreja em saída” vem se popularizando há alguns anos no meio sociorreligioso. O termo tem relação com a postura do papa Francisco, que a utiliza para defender uma ação pastoral voltada para fora do templo e em contato direto com as múltiplas realidades sociais e eclesiais.  

Gritos e esperançar

As ponderações de Tea Frigerio foram baseadas nos apontamentos feitos pelos representantes das CEBs na quarta (19), que se distribuíram pelas plenárias/biomas “Casa Comum”, “Amazônia”, “Caatinga”, “Cerrado”, “Mata Atlântica”, “Pampa” e “Pantanal”.

Os gritos e o esperançar foram apontados por representantes de cada bioma, que subiram a um palco central no Centro de Eventos Santa Terezinha (“Casa comum”). Os participantes fizeram falas ao microfone, declamaram poemas, entoaram cantos acompanhados pela equipe de música do Intereclesial, expuseram cartazes e ressaltaram palavras de ordem.

Em suma, os gritos/reivindicações apontaram para: o envelhecimento das comunidades; diminuição do protagonismo das leigas e leigos; centralização de poder no clero e nas paróquias; múltiplos problemas sociais, como desemprego, fome, falta de políticas públicas, machismo, LGBTfobia e racismo.

No geral, as propostas de superação dos problemas (“esperançar”) indicaram a importância de: retomar/fortalecer a leitura popular da Bíblia; resgatar/intensificar a participação de leigas e leigos no planejamento e execução das ações pastorais; garantir a inclusão da juventude na caminhada da Igreja a partir de uma participação efetiva, que lhe assegure espaço de empoderamento na atuação.

O sociólogo Pedro Ribeiro, assessor pastoral das CEBs há cerca de 40 anos, também contribuiu com a discussão, ponderando que os gritos e o esperançar trazido pelos participantes do Intereclesial relacionam-se com um complexo e amplo contexto, envolvendo várias crises (climática, geopolítica, do patriarcado e política). 

A seu ver, e a depender da postura diante desse contexto, as CEBs podem expressar um importante exemplo na lida com esta realidade desafiadora.

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