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CEBs do Leste II a caminho do XV Intereclesial

Texto de Denílson Mariano

Os representantes das Comunidades Eclesiais do Leste II, Minas Gerais, reuniram-se em Belo Horizonte, na Paróquia  Nossa Senhora do Belo Ramo, para organização e fortalecimento da sua participação no XV Intereclesial das CEBs a ser realizado em Rondonópolis-MT, nos dias 18 a 22 de julho de 2023. Foi um momento de espiritualidade, reflexão e articulação da caminhada das Comunidades em Minas Gerais. Partiu-se do impacto da realidade sobre as comunidades, passando pela análise eclesial da possibilidade de uma “implosão” e, por fim, a definição da composição do quadro de articuladores e assessores da CEBs de Minas.

Mística do sábado pela manhã

O impacto da realidade sobre as Comunidades

Duas questões nortearam os trabalhos da manhã do dia 04 de março: o impacto da realidade do país sobre as nossas comunidades e o impacto da realidade eclesial sobre as CEBs. Em trabalhos de grupos, com representas das várias dioceses, partilhou-se o resultado das reflexões vindas das comunidades. Esse momento favoreceu um olhar sobre a realidade das Comunidades Eclesiais de Base no momento atual.

Entre outros pontos, sobressaiu: o crescimento do arrocho econômico; a volta do Brasil ao mapa da fome, demonstrando a urgência da CF 2023 – “Fraternidade e Fome”; o crescimento da desestruturação familiar; a acirrada polarização que dividiu famílias, pastorais, grupos e comunidades, a ponto de reconhecer uma divisão no seio da própria Igreja; e ainda, o avanço de Fake News (notícias falsas) que cria uma “realidade paralela” e enfraquece as formas de organizações populares e eclesiais.

Neste sentido seguiu o resultado da segunda questão sobre o impacto eclesial sobre as CEBs. Este escancara um conflito entre eclesiologias: de um lado os que se posicionam na linha da proposta de Francisco, em sintonia com a caminhada latino-americana, de uma Igreja próxima, sinodal, mais laical e profética, em saída missionária para as periferias geográficas e existenciais. De outro lado, uma Igreja tradicionalista, marcada pelo clericalismo, auto-referenciai, voltada para dentro, distante das causas populares, mais espiritualista, instrumentalizada para interesses políticos e com fortes traços de fascismo que se distancia do Evangelho e do Jesus histórico.

Na sequência, com assessoria do Pe. Manoel Godoy, passamos a dicas práticas para a participação no intereclesial, dicas para a viagem e estadia durante o Intereclesial. Depois, enfatizou a importância de firmar o termo CEBs – Comunidades Eclesiais de Base -, diante de uma pressão de alguns setores da CNBB que estão forçando a mudança para Comunidades Eclesiais Missionárias. Não podemos ignorar a tradição latino-americana e toda a caminhada feita até o momento.

Assessor Manoel Godoy e orientações aos representantes do 15º

Da Comunhão à Implosão.

Com esta expressão, Pe. Manoel Godoy apontou o risco da Igreja caminhar para uma “confederação de ONGs espirituais”, pois há grupos que já não comungam o mesmo senso de ser Igreja e que, de tão distantes, não se reconhecerem como membros da mesma Igreja. Citando o teólogo Pe. José Comblin, lembrou que as três brancuras: a Hóstia, a Virgem e o Papa (Comblin) já não garantem a unidade eclesial. Mas não ser trata propriamente de um cisma, uma separação, mas de uma “implosão” já pressentida e cujos sinais já podem ser vistos: a perda da relevância social da Igreja, a diminuição do número dos católicos e aumento do número de evangélicos; divisões internas com clérigos que aderem à ideologia neofascista nas redes sociais; crescimento de católicos de matriz neotradicionalista que negam o Vaticano II, o Papa Francisco e a CNBB; clero jovem voltado à vida interna da Igreja: pano, fumaça e prestígio (clericalismo); enfraquecimento da profecia, fazendo emergir uma Igreja amorfa e sem vida. Tudo isso tende a provocar uma saída da Igreja de pessoas com consciência e pensamento mais arejados.

Pe Godoy, ajudou o grupo a compreender que as raízes desse processo atual é fruto de um projeto de restauração dos dois últimos pontificados (João Paulo II e Bento XVI), com ações de “caça a teólogos”, fechamento de Seminários e Institutos de Teologias, controle na nomeação de bispos, perseguições a novas experiências de Igreja, restrição às Conferências Episcopais e ao poder dos Sínodos, bem como o grande apoio aos movimentos espiritualistas e a crítica às pastorais sociais.

Em decorrência disso houve o enfraquecimento da presença profética da Igreja na sociedade, uma “volta à sacristia”, o aumento de grupos tradicionalistas, do devocionismo, da multiplicação dos santuários, a caça aos “comunistas” e o enfraquecimento das Comunidades Eclesiais de Base, clima que favoreceu o surgimento dos “católicos neofacistas”. Este quadro indica a possibilidade de uma implosão eclesial a qualquer momento, fazendo surgir inúmeros agrupamentos, como um conjunto ONGs espirituais, com a consequente perda da propalada comunhão e unidade eclesial.

Pedro Ribeiro de Oliveira, sociólogo, ex-assessor da CNBB, pontuou que, dentro de um quadro mais amplo da realidade nacional, o pivor da crise atual em suas mais variadas facetas parece ter sido gerada pelo “combate ao patriarcalismo” em que o homem é o chefe, o “dono” da terra (poder), dos escravos (trabalhadores), das mulheres. Não é sem motivo o retrocesso que experimentamos no tocante à violência sobre as mulheres e o aumento do feminicídio, o crescimento do racismo e do ódio aos pobres, a homofobia e agressões ligadas às questões de gênero. Neste sentido, a título de exemplo lembrou-se a acentuação do clericalismo pelo qual o padre renuncia ao poder de chefe da família para ter o poder de chefe da Igreja, e uma vez que a maioria da presença é de mulheres, converte-se também em “chefe das mulheres”.

Quadro de articuladores e assessores                                                     

A manhã do domingo, segundo dia do encontro, iniciou com a celebração eucarística, na Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora do Belo Ramo, em Belo Horizonte-MG, presidida por Dom Paulo Mendes Peixoto, encarregado de acompanhar as CEBs, concelebrada pelos demais padres presentes e com a participação da comunidade paroquial. Na reflexão após o Evangelho Dom Paulo destacou quatro eixos: o tempo da Quaresma com seu caminho de conversão; a importância da Campanha da Fraternidade para a superação do flagelo da fome; o Ano Vocacional 2023 valorizando cada uma das vocações e a importância das CEBs.

Na continuidade dos trabalhos, agora em pequenos grupos aconteceu a definição dos novos articuladores e assessores da caminhada das CEBs Mineira. Pe. Simony de Unaí e Magda Melo de Belo Horizonte serão os novos articuladores; Pe. Manoel Godoy e Edna, de Itabira, ou Suzana, serão os assessores das CEBs no Leste II. Depois dos agradecimentos aos atuais assessores e articuladores, com especial ênfase à pessoa da Santinha, de Juiz de Fora, num clima de fraternidade, intimidade com Deus e compromisso com a vida, foi feita a oração de envio sobre os representantes das Comunidades Eclesiais Base no Intereclesial de Rondonópolis-MT.

Momentos do encontro em Belo Horizonte
Homilia de Dom Paulo Peixoto no Domingo

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