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Primeireo com o Papa Francisco os processos para o futuro pastoral da Igreja

Por André Luiz Bordignon, teólogo

Arte: https://agustindelatorre.com/

Com Francisco queremos construir pontes

Apoiamos o sucessor de Pedro porque ele trilha evangelicamente os passos da sua missão: construir pontes. O Papa Francisco não se coloca como autorreferencial ou messias eclesiástico, e sim como continuador dos passos de Jesus e disposto a edificar os fundamentos do Evangelho. A construção dessa ponte ele chamou de Igreja “em saída” sempre alegre e pronta para ir ao encontro. Por isso, vivemos uma época privilegiada da Igreja para dialogar com as questões e demandas humanas, sem medo ou condenações.

As críticas ao seu pontificado são as expressões contrárias ao Evangelho e do fechamento cômodo, que não cura e distancia-se das pessoas. Essa distância com o invólucro frágil das roupas clericais, cânones, véus, repetições doutrinais tridentinas que escondem os escapes reservados ao preceito do confessionário e pessoas manipuladas. Infelizmente o clericalismo perpetua-se com a necessidade comercial e da “auto salvação”, que obstaculiza tanto bons padres e fiéis. Saliento que há obstáculos à eles, pois infelizmente o medo ou a falta de conhecimento das letras do Evangelho impedem construir novos caminhos.

Por isso, apoio o Papa Francisco! Ele nos convida a ousadia e coragem do Evangelho para sairmos na direção das periferias reais e existenciais, possibilitando a escolha de ir ao encontro, escutar e se abaixar. Essa escolha motiva a construção de pontes sólidas, diferentemente de remendar a Igreja. A sua ousadia e coragem de ser criticado para construir pontes é a construção no tempo e não nas discussões estéreis do espaço.

Apoio Francisco neste tempo favorável

Esse tempo favorável chama-se Evangelli Guadium, pois essa exortação apostólica do Papa Francisco tem sido uma bússola para a Igreja neste tempo de mudança de época acelerada (LS 101). O seu norte é uma Igreja alegre e missionária que não pretende ficar fechada, adoecendo e tornando-se refém de seus interesses mesquinhos. Tais mesquinhez alimentam a vida clerical e os agressores políticos-religiosos, pois com seus interesses escusos necessitam atacar e agredir para subsistir.

O escrito papal traz o remédio e o foco para a Igreja, que se materializa em relações de proximidade, escuta, discernimento, reflexão e o sair de si para o outro. O Evangelho da Alegria (Evangelii Gaudium) apresenta o itinerário teológico pastoral para a Igreja se renovar missionariamente. A proposta da Igreja “em saída” aproxima e dá credibilidade para o diálogo com a humanidade, como por exemplo, a questão sobre a migração, mudanças climáticas, cessar as guerras, as causas da pobreza e o respeito às particularidades humanas.

Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco tem construído pontes dentro e fora da Igreja. O Sínodo sobre a sinodalidade tem sido o encontro de várias pontes, que dialogam sobre as várias questões emergentes na evangelização. Os passos dados  neste processo sinodal começaram a serem dados com a clareza de trazer a periferia para o centro da Igreja, de perder o medo, de se arriscar na evangelização, de conversar com os diferentes temas da humanidade, do encontro com as religiões, da pobreza para a Igreja estar com os pobres, da centralidade da palavra de Deus e no combate ao clericalismo. Quanta coisa a Igreja tem processado nessa década antes escondidas e alvo de polêmicas controladoras.

Arte: https://agustindelatorre.com/

Primeireo* com o Papa Francisco esses processos

Iniciar processos é o caminho para a renovação eclesial, possibilitando construir pautas necessárias para a missionariedade e humanização. A práxis do se abaixar as realidades para se envolver nas questões exigirá a escuta dos que sofrem as dores do descarte. Exemplo dessa sinodalidade pastoral foram a Fiduncia Suplicans e a tentativa de uma investigação ao Pe Júlio Lancelotti da pastoral de rua da Arquidiocese de São Paulo. Esses dois fatos denunciam a hipocrisia religiosa e política, e ao mesmo tempo, como pensam clérigos e fiéis, pois as diversas manifestações trazem os moralistas-vigaristas e os envolvidos nas questões abordadas.

Muitas Igrejas no processo sinodal e bispos levantam como acolher os casais homossexuais e de novas núpcias (já presente em AL). Os Sínodos dos Bispos realizados no pontificado da Igreja “em saída” proporcionou favoráveis e críticos se manifestarem nessas situações, que exigem uma posição pastoral da Igreja. Escrevo uma posição pastoral, pois muitas iniciativas e práticas pastorais que acolhem e acompanham os homossexuais e de novas uniões existiam em diversas comunidades e igrejas particulares. Contudo, esse kairos eclesiológico propõe a pastoralistas e teólogos primeirearem na contribuição de fundamentação e  reflexões, para o cuidado da fidelidade da Igreja com os feridos e descartados das comunidades eclesiais. Por isso, a rica contribuição dessas situações pastorais serem trazidas para um Sínodo com clérigos e leigos aponta que os processos sinodais iniciados possibilitam a renovação de novos caminhos.

As pontes e não os alfandegários existentes

Nos “pontificados gavetas” as questões que exigiam diálogo e escuta aberta eram escondidas ou silenciadas. Os problemas da pedofilia, abusos e homossexualidade do clero resolvidos com o corporativismo clerical. O que mais se torna estranho são os clérigos homossexuais ou promíscuos se tornarem os grandes juízes alfandegários da benção aos homossexuais, recasados ou aliados a políticas conservadoras.  Desinstalar essas alfândegas imorais significa criar os processos de escuta e participação a partir da verdadeira doutrina católica: os Evangelhos. O teólogo von Balthasar descreve em sua obra “Católico” que Jesus foi o maior católico da história, pois sabia romper as fronteiras e incluir no Reino as pessoas desprezadas pelo sistema político e religioso dos legalistas da Lei.

Incluir a todos abre nossos olhos, coração e mãos as pessoas concretas, possibilitando verificar que existem muitas pessoas necessitadas da nossa missão evangélica, e não ficar na tensão dos polarizadores. Essas tensões tiram o nosso escopo da missão samaritana, da unidade e do todo.

Por isso, apoio o Papa Francisco que nos testemunha a construção dessa ponte segura e necessária para a Igreja. Adoecer e ficar fechado nos confrontos não irá fazer superar os conflitos, contudo, colocar-se “em saída” envolvendo-se com as questões das ovelhas.

*Primeirear é o neologismo usado pelo Papa Francisco sobre a Igreja “em saída” na Evangelii Gaudium 24.

Arte: https://agustindelatorre.com/

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