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Reflexão da Palavra | 1º Domingo da Quaresma – Ano B

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Leituras: Gn 9,8-15 – Sl 24 – 1Pd 3,18-22 – Mc 1,12-15

A Quaresma nos convida, como indivíduos e comunidades, a crer no evangelho, isto é, a libertar-nos de todos ídolos, de todas ideologias; a confiar plenamente no Cristo e em sua palavra; a engajar-nos profundamente no caminho por Ele indicado, passando pelo sacrifício e a cruz, visando atingir a libertação celebrada pela Páscoa.

Neste primeiro domingo da quaresma, o evangelista Marcos nos apresenta Jesus sendo levado pelo Espírito ao deserto e lá foi tentado. Imaginar Jesus sendo tentado é algo bem difícil para os cristãos que têm a ideia/imagem de um Jesus poderoso, acima do mal e das tentações humanas. E o pior, foi levado pelo Espírito a um lugar de tentações… um escândalo! Jesus não conheceu uma vida fácil nem tranquila… Viveu “sendo levado pelo Espírito”, e o Espírito não nos oferece uma vida cômoda e fácil. Jesus sentiu na sua própria carne as forças do mal, afinal era humano… A sua entrega apaixonada ao projeto do Pai levou-o a viver uma existência repleta de conflitos e tensões. Os “quarenta” dias significam muito tempo, toda a sua vida. Daí podemos apreender que seguir esse Jesus, significa deixar-se conduzir também para os “desertos” de hoje, significa vivermos constantes tempos de prova. Isto porque, Jesus pregava o evangelho dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho”.

Parece não haver alternativa a não ser nos convertermos. Converter-se é mudança de direção, de vida, de propósitos, é fazer do Reino o projeto fundamental da nossa vida. A conversão é uma atitude que envolve “todo” o nosso ser, uma nova orientação de vida. Implica frequentemente uma crise de fé – o que na maioria das vezes é muito positiva – pois pode terminar na mais profunda experiência de Deus.

Procurar o Reino de Deus e sua justiça nos leva inevitavelmente ao deserto. O deserto será o cenário pelo qual transcorrerá a vida de Jesus e também a nossa. Este lugar inóspito e nada acolhedor é símbolo de provas e dificuldades, de novas possibilidades. Nossos desertos hoje – no Brasil e no mundo – estão povoados pela violência generalizada, por guerras, pelas mentiras… Uma violência que as mídias manipulam, estrategicamente como lhes convém e que a CF 2024 propõe a refletir, convidando-nos a superar, a trocar pelo cultivo amizade social! Violência gerada por estruturas políticas e econômicas que institucionalizam as desigualdades, o crime, a morte, a corrupção, a fome, o desemprego… uma queda de braços para ver quem pode mais…

Não temos um Estado forte e sério. Um Estado que deveria proteger seus cidadãos zelando por sua saúde, educação, trabalho e garantia de vida digna para todos, age “garantindo” a paz através do medo, da força do poder das armas!

Muitos cristãos aplaudem e se valem de medidas nada fraternas, nada cristãs! Estamos em guerra! Violência gera mais violência.

Estamos preparados para isso? Estamos preparados para combater tamanha violência? Estamos num deserto… que o Espírito que fortaleceu Jesus nos fortaleça também; que saibamos perceber na “cultura da violência” uma violência estrutural e institucionalizada, desumana; violência reforçada pelos nossos dirigentes políticos que fazem com que nos acomodemos, nos acostumemos com ela e que achemos que ela é necessária para conter a própria violência que fere a nossa dignidade, que nos aliena e nos faz alimentar e perpetuar a uma realidade como a que assola o nosso Brasil e o nosso povo… Pensemos nisso: o Reino de Deus está próximo!

 Precisamos crer nisso. Amém

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