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Reflexão da Palavra | 2º Domingo da Quaresma – Ano B

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Leituras: Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18 – Sl 115 – Rm 8,31b-34 – Mc 9,2-10

As leituras deste domingo são complexas, difíceis e profundas. Inicialmente temos a passagem do sacrifício de Isaac em que Deus pede uma prova a Abraão: a vida de seu filho! O evangelista Marcos narra a Transfiguração de Jesus acompanhada da incompreensão de seus discípulos, atônitos diante do que veem. A carta aos romanos vem apaziguar o nosso coração, lembrando-nos que nada poderá nos separar do amor de Cristo.

O relato da “Transfiguração de Jesus” foi desde o início muito popular entre seus seguidores. A cena, bastante conhecida, retrata Jesus com o rosto resplandecente, roupas muitíssimo brancas e brilhantes, conversando com Elias e Moisés. A cena construída com diversos recursos simbólicos, literários e teológicos é grandiosa. Os três discípulos – Pedro, Tiago e João – ficam surpresos e não sabem o que pensar de tudo aquilo. O mistério que envolve Jesus é grande e complexo. A cena tem o seu ápice quando uma voz vinda do céu, diz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”. A indicação é que escutemos as palavras de Jesus… Aqui vale lembrar alguns pontos importantes. Aquele Jesus que está na montanha – e a montanha é o lugar de encontro e oração com Deus – é o mesmo que Marcos narra uma pouco antes desta passagem, como estando preocupado e em crise, pois percebe que não consegue agradar a todos. Aquele Jesus tem um projeto que o levará a “desfigurar-se” diante do sofrimento da Cruz, da sua tortura e assassinato. A cena colocada por Marcos nos faz vislumbrar a ambiguidade do seguimento a Jesus. Pedro gosta tanto de ver o Senhor resplandecente, luminoso e radiante que quer logo armar três tendas e ali permanecer… é bom demais! O Cristo glorioso é tentador para aqueles/as que fogem do Cristo crucificado e desfigurado! Para aqueles/as que fogem do seu projeto e refugiam-se nas “montanhas” eclesiais, nas rodas de reza, pedem e suplicam que o Cristo Ressuscitado faça aquilo que, na verdade, somos nós que devemos fazer… permanecer na montanha: é essa a tentação de muitos cristãos e cristãs, permanecer nos altares, nas sacristias e nos redutos que me afastam dos problemas do mundo, da violência avassaladora da nossa sociedade.

A indicação é para descermos à planície, lugar de confronto, de problemas, de ação. Ouvir a voz do Filho amado implica aceitar os seus ensinamentos e segui-lo; significa passar pelo caminho da Cruz, significa correr o risco da “desfiguração”, da perseguição, da difamação, da tortura e da morte, se necessário. Descer à planície, lá onde irmãos têm fome, não têm trabalho, não tem políticas públicas que garantam os seu direitos, não têm uma justiça equânime para o nosso povo tão atingido por leis que sempre favorecem os poderosos e os “senhores do mundo”; planície, lugar das guerras, da não-fraternidade.

O desafio das leituras desta semana é conseguirmos ver no nosso povo “desfigurado” no rosto do nosso Jesus “transfigurado” lá na montanha! São os mesmos! Foi ele que fez esta confusão toda: “… eu tive fome e tu me deste de comer… eu estava na cadeia e tu me visitaste… “. Quando foi Senhor que te vimos assim???? Todas as vezes que fizestes isso àqueles “desfigurados” pelas drogas, pela fome, pela violência da guerra, foi a mim que o fizestes! Simples assim… É fácil???? Não, não é fácil! Mas temos a garantia de que “nada poderá nos separar do amor de Cristo”, nada, Ele nos protege e nos guarda. A resposta e a garantia está na imagem do sacrifício oferecido por Abraão de seu filho Isaac, que faz menção ao Filho de Deus, nosso irmão Jesus, que o Pai oferece por nós como sinal do seu amor. Não nos esqueçamos: nada poderá nos separar do amor de Deus, nem a morte!

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