Por Pe. João Mendonça,sdb
A última sessão da Etapa Continental do Sínodo, região Cone Sul, aconteceu na manhã de hoje, 10 de março de 2023. Num clima de fraternidade e de serenidade por termos concluído esta etapa, porém, não o processo sinodal, tivemos ainda a oportunidade de refletir em grupos específicos sobre duas questões:
1. Qual experiência significativa experimentei nesses dias?
2. Quais temas que considero importante para serem trabalhos na sessão de outubro no Vaticano?
Nos grupos específicos de leigos(as), diáconos, religiosos(as), presbíteros e bispos, após uns instantes de oração, cada um teve a oportunidade de contribuir com suas respostas. Não é possível transcrever aqui tudo que foi dito, seja nos grupos, como na plenária, mas tive a curiosidade de anotar algumas expressões que considero importantes dentro do processo; sem a pretensão de apresentar uma síntese:
– ficou evidente que a experiência vivida na oração e na escuta ativa, foi muito enriquecedora e ajudou todos(as) a crescerem no espírito sinodal;
Na segunda pergunta, os temas foram diversos e com o desejo de que o que aqui refletimos seja de fato OUVIDO no sínodo em outubro:
– é um consenso que necessitamos de uma eclesiologia do Povo de Deus, com o resgate da dignidade batismal, fonte das vocações e do sensus fidei[1];
– a corresponsabilidade eclesial, a partir da consciência batismal, insere a mulher não apenas em ministérios, mas nas estruturas de governo e nas decisões da ação evangelizadora em todos os níveis da vida eclesial;
– é preciso repensar a teologia dos ministérios, participação e inclusão, segundo a riqueza dos carismas;
– a liturgia precisa ser vivida na sua variedade e beleza, como expressão do ser Igreja e de fincar a Igreja em lugares de maiores desafios pastorais;
– a superação do clericalismo com um processo de formação integral para todo o Povo de Deus numa chave sinodal, é uma exigência da ação evangelizadora;
– a revisão do Código de Direito Canônico que proporcione a compreensão renovada da função dos conselhos e dos organismos eclesiais a partir da sinodalidade;
– é também necessário que a sessão sinodal reflita sobre a complexa conjuntura social, política, econômica, social da América Latina para situar a ação evangelizadora numa terra real onde a tenda precisa ser esticada e acolha a todos(as);
Após a plenária, as juventudes presentes na Etapa Continental, apresentaram uma oração nascida da iniciativa deles numa reunião privada dos jovens. A oração é um clamor que a todos(as) nós surpreendeu. Transcrevo aqui o que consegui anotar. A oração partiu da seguinte pergunta: Por que muitos jovens se afastaram da Igreja?
– Porque disseram que os jovens incomodam e são considerados pecadores, sem sequer serem escutados pela Igreja e comunidades;
– Percebem que a palavra que dizem não tem nenhum valor;
– Porque o jeito de ser jovem escandaliza;
– porque a condição sexual de muitos jovens é considerava vergonhosa para a Igreja que os excluem e rotulam;
– Porque muitos foram abusados de várias formas;
– Muitos jovens religiosos(as) e seminaristas foram embora porque sofreram abuso de autoridade;
– Porque não foram acolhidos e acompanhados em suas debilidades;
– Porque ninguém tem a paciência de acompanhá-los;
– Muitas jovens engravidam, outros trabalham exaustivamente para sobreviver e a Igreja não tem tempo para acompanhar e acolher suas demandas existenciais;
– Porque o discurso sobre família é excludente e preconceituoso;
– Porque jovens em situação de vulnerabilidade não são valorizados nem respeitados;
Na sequência a oração completou o clamor ao dizer:
– Deus Mãe e Pai, que a Igreja não se esqueça dos jovens e saiba acolhê-los como são;
– Que a Igreja não se esqueça dos jovens;
Algumas expressões escaparam, porém, tentei ser o mais fiel possível. Esta oração calou fundo em todos(as). É um clamor que brota da terra fincada com a estaca da tenda que é a Igreja e que não pode excluir ninguém.
Concluímos a Etapa Continental com a celebração eucarística clamando a Deus que a vinha dê seus frutos e que os vinhateiros se convertam.
[1] O ‘sensus fidei fidelis’ [sentido da fé dos fiéis] é uma espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica” (Cf. Documento ‘O Sensus Fidei’ na vida da Igreja publicado pela Comissão Teológica Internacional).