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Reflexão da Palavra | 27º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Leituras: Is 5,1-7 – Sl 79 – Fl 4,6-9 – Mt 21,33-43

O tema da vinha é predominante na liturgia deste domingo. A figura da vinha, bem como a da esposa, tornam-se como que um exemplo da “História da Salvação”, do modo de agir de Deus perante seu povo e o mundo inteiro. Jesus conta a história de um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre para a sua vigilância. Arrendou-a a pessoas entendidas do negócio e viajou. Chegado o tempo da colheita mandou seus empregados para receber seus frutos, o combinado na época, do que chamaríamos hoje de aluguel. Estes porém foram espancados até a morte e apedrejados. O mesmo aconteceu uma outra vez, até que o dono enviou seu filho, pensando que, a este, eles respeitariam. Mas mataram o herdeiro, pensando que assim poderiam tomar posse da vinha. Esta parábola dispensa muitos comentários pois sabemos ser a vinha arrendada o mundo que vivemos, cujo proprietário é o nosso Deus Criador, os vinhateiros somo todos nós que dele usufruímos, certos de que ele não é nosso, e os frutos que o dono vem buscar é o que fazemos em prol do bem comum, o cuidado com todos os seres vivos – a Casa Comum – e com os demais irmãos/vinhateiros… O desfecho também é conhecido… Mataram o herdeiro quando este veio, a mando do Pai, ver como estavam as coisas. Penso que esta parábola pode ser refletida e aplicada ao contexto do mundo, do Brasil, nosso país e o que estamos vivendo hoje. Nas urnas, demos autorização para que alguns irmão/ãs – vinhateiros como nós – nos representem na tarefa de cuidar da vinha! É uma imensa responsabilidade, pois tivemos – será que tivemos? – que eleger pessoas que tivessem consciência, antes de tudo, consciência de que a vinha não é deles, que é do Senhor e que todos nós, seus eleitores, somos responsáveis pelo que fizerem, pelos frutos que produzirem, pelo excesso/lucro que deverão partilhar com justiça e equidade, pelo cuidado com as fontes de matéria prima não renováveis, com a criação de possibilidades de vida digna para todos! Enfim, nossos políticos/vinhateiros devem ou deveriam ter clara consciência de que estão a serviço de um bem maior, que não pode ser o seu próprio, o seu bolso, o seu “caixa-2”. O Senhor da vinha virá buscar e cobrar o que lhe é devido por direito. Na leitura do Evangelho, os sumos sacerdotes e os anciãos que ouviam Jesus, foram interpelados por Ele sobre a atitude que teria o dono da vinha diante de tal barbaridade e eles responderam-lhe, que o dono se vingaria mandando-os matar, arrendando a vinha a outros mais dignos e Jesus desapontou-os; lembrando as Sagradas Escrituras e dizendo que a “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”. Deus não se vinga… Ele nos dá sempre novas chances, pois a pedra rejeitada é Jesus, e só Ele pode nos dar os critérios de um bom funcionamento da vinha, só Ele nos mostrou a verdadeira forma de exercer o poder: colocando-se à serviço do outro, sobretudo dos mais fracos, pobres e pequenos. Temos sempre novas oportunidades. Esta semana tivemos o início do Sínodo sobre Sinodalidade, que vem sendo preparado já há algum tempo. Também a Igreja tem responsabilidade sobre o cuidado com a vida, com o Meio Ambiente, com a crise planetária… o Papa Francisco – sempre sintonizado com a vinha e não com as doutrinações e com as práticas ortodoxas da Igreja – apresentou também esta semana a Exortação Apostólica “Laudate Deum”, em que nos convida ao cuidado com a Criação, ao uso consciente e responsável dos recursos da natureza, ao exercício de viver com o suficiente, pois a “vinha” não e só minha… é de todos nós, dos nossos irmãos e irmãs que nela habitarão quando não mais estivermos aqui. Será que nossos políticos, os “vinhateiros” que têm responsabilidade sobre ela esqueceram-se disso quando o desenvolvimento, o lucro, o capital, as leis do mercado sobrepõem-se ao cuidado com a natureza e o respeito pela sua vida? Será que o meu voto corrobora para o mau uso dos recursos naturais, para o extermínio das populações originárias, para o desrespeito com a vida em nome do progresso? Vale pensar… O Senhor da vinha já veio, mataram-no…. virá novamente…

Que este cenário político e eclesial, em que tantas coisas estão acontecendo, desperte no nosso coração uma reflexão séria e comprometida com o Evangelho de Jesus. Que ilumine a nossa consciência e guie a nossa caminhada de fé, uma fé vinculada ao momento político, pela cobrança – quase todos/todas se dizem cristãos/ãs! – de posturas cristãs coerentes e humanas. Pensemos que a “vinha brasileira” é rica, exuberante, alvissareira, próspera, mas profundamente injusta no que tange à partilha e uso de tanta riqueza!!!!! Que possamos ser representados por vinhateiros dignos e honestos que queiram realmente cuidar e governar a “nossa vinha querida”, o Brasil, da forma que o Senhor quer e que o povo brasileiro merece.

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