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Reflexão da Palavra | 2º Domingo da Páscoa – Divina Misericórdia – Ano B

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs, Regional Leste 1

Leituras: At 4,32-35 – Sl 117 – 1Pd 5,1-6 – Jo 20,19-31

As primeiras comunidades cristãs de Jerusalém são descritas como o ideal a ser seguido para as novas comunidades. Cada geração cristã que com ela se confronta encontra um estímulo para viver com a mesma coerência, ainda que em situações historicamente diversas, as exigências do anúncio cristão. Despojar-se dos bens e distribuí-los aos mais pobres é um gesto livre e não imposto, sinal de uma fraternidade mais exigente que a do sangue, de uma atenção especial àqueles aos quais é anunciado prioritariamente o reino de Deus. Será uma utopia cristã?

O caráter radical desta proposta de Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos chama atenção para o paradoxo de muitas parábolas do evangelho; não condena nem propõe um determinado sistema econômico ou social, não louva o pauperismo ou o assistencialismo e o paternalismo, mas introduz uma nova dimensão de utopia cristã, à qual são sensíveis muitos grupos eclesiais – CEBs – que compreendem que não se trata apenas de partilhar os bens materiais, mas colocá-los em comum. De colocar à disposição dos outros os bens econômicos, sociais, da cultura, do lazer… A discrepância no uso dos bens da terra em que poucos têm tudo e demais e tantos não tem nada, nem o mínimo, faz com que as palavras da leitura de Lucas nos incomode e nos interpele de maneira contundente. É preciso que nos interroguemos sobre o nosso comportamento no uso dos bens da terra. Sejam eles econômicos, ambientais, sociais, até porque não é possível separá-los. O Papa Francisco, na sua encíclica Fratelli Tutti, chama atenção para o uso dos bens que são de todos… e conclama à amizade social, tema da CF 2024. No fundo, a raiz destas reflexões está na uso indevido do Jardim-Paraíso, criado para todos, mas sequestrado pela ganância dos poderosos, pela soberba do mercado, pela insaciável fome de controle/poder, manifestada pelo consumismo que é outra forma imoral de poder sobre o outro. “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma”. Não é esta a proposta de “amizade social” que nos é feita hoje?

O Evangelho nos oferece uma das manifestações do Cristo ressuscitado aos seus discípulos; Tomé não estava com eles. Ao saber do ocorrido, não acreditou. Mais ainda: queria tocar as feridas de Jesus, só assim, acreditaria. Muitas críticas são dirigidas a Tomé por esta atitude… mas eu me ponho a pensar nos “Tomés” de hoje, e eu me coloco no lugar daqueles – cristãos devotos e praticantes – que vão anunciar que “Vimos o Senhor!”, a notícia de que “Ele vive! Ressuscitou!”, como proclamamos no domingo próximo passado.

E os “Tomés” do nosso tempo não acreditam, querem ver o ressuscitado através dos Seus seguidores, através de nós, e o que veem?

O mesmo de viam antes: irmãos e irmãs com fome, com frio, sem trabalho, o meio ambiente gritando pelo desmatamento, pela contaminação das águas, o flagelo da biodiversidade, o aquecimento global, as guerras que destroem a convivência social e humana, as epidemias, o ódio e violência entre os seres humanos… Ressuscitou????? Só vendo… só tocando nas feridas e vendo que estas cicatrizaram… Pensemos nisto; afinal não é este o sentido da Páscoa?

Que a Divina Misericórdia, hoje celebrada, nos ajude a dar testemunhos coerentes, eficazes, verdadeiros, convincentes para que o mundo acredite que o “Senhor Vive” e está no meio de nós. Que seja assim. Que assim seja!

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