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Reflexão da Palavra | 3º Domingo da Quaresma – Ano B*

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Leituras: Ex 20,1-17 – Sl 18 – 1Cor 1,22-25 – Jo 2,13-25

A promulgação da Lei é um momento muito forte na História de Salvação, caracterizado pela intervenção explícita de Deus que exprime a parte de Israel na Aliança. A proclamação dos mandamentos – cf. a 1ª leitura – se enquadra no contexto desta aliança. O decálogo corresponde a leis tão elementares da sociedade humana, que sem ele não seria possível uma convivência civil; a fórmula de sua promulgação é análoga à de outras legislações do mundo antigo, mas permanece o fato único de que o legislador agora é o Deus da história e que a observância das leis assegura a continuidade de uma relação à qual Deus não pode e não quer deixar de corresponder. Neste sentido, a lei é vista como um dom, como palavra de Deus que espera uma resposta.

Em Jesus tivemos uma ratificação da lei mosaica, a superação da sua radicalidade e rigidez de “olho por olho, dente por dente”, que a liberta do seu formalismo, reconduzindo-a às dimensões de interioridade e do diálogo de amor com Deus. Jesus nos apresenta um único mandamento que resume toda a Lei e do qual Ele mesmo é o modelo mais convincente: o Amor!

Entender isto evita sérios problemas relacionados à posturas religiosas, muitas vezes legalistas, farisaicas e nada cristãs. E o evangelho deste domingo nos narra a entrada de Jesus no Templo que ao encontrar pessoas “comercializando” a fé através de seus símbolos, utilizando-se do espaço religioso como lugar não condizente com a Boa Nova do Reino que anunciava, expulsou todos, com um chicote, exteriorizando a sua ira e o seu descontentamento com estas atitudes… eu penso que hoje Jesus ficaria muito brabo com algumas expressões de piedade/espiritualidade praticadas nos nossos templos, que em nada de assemelham ao mandamento do “Amor a Deus e ao próximo” vivido/praticado por Ele. Talvez usasse novamente o chicote! São muitos legalismo e rubricismos litúrgicos, muitos exageros nas vênias, nos incensos, nos paramentos, nos adornos, e pouca pureza de coração na oferta da própria vida pela construção do Reino. É muito “pode-não-pode” e pouca compaixão e, por vezes, quase nada de misericórdia!

O cristianismo é a religião do amor; da prática efetiva deste amor junto aos irmãos em situação de vulnerabilidade, toda e qualquer vulnerabilidade: física, social, econômica, psicológica, moral, afetiva… Se nos esquecemos ou negligenciamos isto, provocamos a ira do Senhor e quando nos encontrarmos com Ele, no Grande Encontro, apresentando algo diferente do amor ao próximo, por Jesus evidenciado nos “pequeninos” que são os seus preferidos, provavelmente Ele nos dirá “não vos conheço!” – cf. Mt 7,23 -.

Este caminho passa pela cruz, indubitavelmente, mas é o caminho da nossa conversão a percorrer nesta quaresma, culminando na Páscoa, festa do triunfo do Amor.

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