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Representantes rejeitam clericalismo e defendem espiritualidade comprometida com a transformação social

Segundo dia do 15º Intereclesial das CEBs discute impactos da realidade do país e da Igreja sobre as Comunidades Eclesiais de Base; encontro se estende até o sábado (22)

Gibran Lachowski – Comunica 15

Crédito/fotos: Renan Dantas

O ataque às minorias e a uma espiritualidade comprometida com a transformação social, assim como a criação de espaços de resistência e a articulação popular correspondem aos maiores impactos da realidade do país e da Igreja sobre a caminhada pastoral das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Prevalece uma clericalização sobretudo dos padres novos, sem generalizar, que vão disseminando essas ideias no meio dos leigos. “O clericalismo é uma perversão na Igreja” (Papa Francisco).

Esse é um dos pontos do levantamento feito pelos regionais e apresentado pelos cerca de 150 representantes de comunidades dos regionais Oeste 1 (Mato Grosso do Sul) e Sul 1 (São Paulo), destacado nesta quarta-feira (19), no segundo dia do 15º Intereclesial das CEBs, que se estende até o sábado (22), em Rondonópolis/MT.

O encontro trata do tema “CEBs – Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas” e busca refletir acerca do impacto da realidade do país e eclesial sobre as CEBs; assim como sobre os gritos e desafios em vista de sua superação. O Intereclesial tem a participação de aproximadamente 1,5 mil representantes das CEBs de todo o Brasil, além religiosas e religiosos, bispos, lideranças de organismos ligados à Igreja Católica, e outras denominações cristãs e expressões espirituais, movimentos sociais e populares.

Reunidos no Centro de Eventos Santa Terezinha, no bairro Jardim Belo Horizonte, na plenária chamada “Casa Comum”, os representantes das CEBs de Mato Grosso do Sul e São Paulo discutiram e socializaram suas impressões a partir de uma metodologia participativa, caracterizada pela escuta, pelo trabalho em grupo e o diálogo em plenária. Entre as CEBs e os meios populares essa forma de trabalho diz respeito ao método “ver-julgar-agir”. Ver a realidade social e eclesial, avaliá-la à luz da interpretação popular da Bíblia e dos parâmetros que orientam a atuação pastoral da Igreja e, por fim, desenvolver ações para transformar a situação atual.

Esse mesmo tipo de atividade ocorreu ao longo do dia nas demais plenárias do Intereclesial, distribuídas em comunidades de Rondonópolis, que receberam nomes dos biomas brasileiros (“Amazônia”, “Caatinga”, “Cerrado”, “Mata Atlântica”, “Pampa” e “Pantanal”).

Diversas músicas dos cancioneiros das CEBs, dos movimentos sociais e da MPB entremearam as colocações dos representantes. Entre elas, “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil), “Negra Mariama” (Maria Cecília Domezi), “Eu vim para que todos tenham vida” (José Weber), “Utopia” (Zé Vicente), “Eu sou feliz é na comunidade” (Maria Batista dos Santos) e “Pão da igualdade” (Cecilia Vaz Castilho).

“As CEBs são formadas por pessoas que lutam pelos direitos de todos e principalmente de quem mais necessita, já os grandes visam mais o agronegócio e prejudicam os pequenos. Sou agricultora e sei o quanto a gente padece nas mãos dos grandes, mas a gente tem conseguindo muita coisa no assentamento, através de muito sacrifício, luta e das cooperativas”. Palavras da agricultora Irley Menezes, que mora no Assentamento Itamarati 2, no município de Ponta Porã, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, representante do Regional Oeste 1 das CEBs. Ela acrescentou que as CEBs se contrapõem ao esplendor da instituição religiosa representada por uma visão hierárquica e oficial, sendo uma “Igreja em saída”, como defende o papa Francisco. “Somos uma Igreja ‘pé no chão’, que não fica só na oração”, destacou.

Alex Rossi, da Comunidade São Francisco, paróquia de mesmo nome, no município de Penápolis (SP), assinalou que o processo histórico e a situação atual interferem na caminhada pastoral das Comunidades Eclesiais de Base. “O patriarcalismo, o latifúndio, o autoritarismo e o racismo impactam na realidade das CEBs, assim como este momento de ódio e polarização política que vivemos na atualidade”, pontuou. Além disso, a estrutura clericalista, de caráter oficial, hierárquico e conservador promove “leigos clericalizados, contra a lógica da comunidade”. “Por isso, hoje em dia, ser de comunidade é ser contra a lógica clericalista e contra o neoliberalismo, que olha o próprio umbigo e não quer comunidade”, expôs o representante do Regional Sul 1. Alex

Programação

Amanhã pela manhã (quinta, 20) os participantes do Intereclesial vão se reunir no Centro de Eventos Santa Terezinha (“Casa Comum”) para partilhar o que foi discutido no “ver” e desenvolver o processo do “julgar” (discernir, iluminar) com base nos assuntos que compõem o encontro: educação; ecologia integral; economia de Francisco e Clara; poder e sinodalidade na Igreja; e dimensão político-social.

A partir das 13h15, terá início a Feira da Economia Solidária na Feira do bairro Vila Aurora, com visitação e compra aberta à população da cidade. Em paralelo, até as 17h os representantes das CEBs vão continuar as reflexões nas plenárias/biomas; em seguida se deslocarão para o local de realização da feira. À noite, no mesmo lugar, haverá shows com artistas atuantes na caminhada pastoral das comunidades.

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