Leituras: Gn 14,18-20 – Sl 109 – 1Cor 11,23-26 – Lc 9,11b-17
Por: Quininha Fernandes Pinto, Leste 1
Hoje ao celebrarmos a Solenidade de Corpus Christi = Corpo de Cristo, somos desafiados a confrontar o significado desta festa com a realidade que nos cerca e nos agride.
Para a fé cristã, Jesus se faz alimento na Eucaristia, se dá nas espécies de pão e vinho – Ceia do Senhor – uma realidade que é memorial, dom e compromisso/responsabilidade. Memória que Ele mesmo nos convocou a fazer: “Fazei isto em memória de mim”, que implica não só o gesto litúrgico que denominamos missa/eucaristia, mas toda a sua vida, palavras, ações; uma memória que atualiza e realiza o que Jesus fez. E o que Ele fez, é dom, oferta de amor, culminando na sua morte de Cruz. A Eucaristia celebrada, torna-se, portanto, compromisso, responsabilidade de fazer ou dar continuidade ao seu projeto de amor, justiça e fraternidade entre nós. Compreender isto evita a celebração da eucaristia de forma mágica e alienante, pois, ao fazer-se alimento, Ele nos proporciona força e coragem para abraçarmos o seu projeto. A Eucaristia que recebemos nos leva – ou deveria levar – a eucaristizar o mundo: torná-lo espaço de convivência fraterna, sem guerras, sem dores, sem fome, sem racismo, sem violência!
A contradição é desumana: somos um país que se destaca dos demais pela liderança na produção de grãos; e temos uma vergonhosa estatística de 47 milhões de brasileiros com fome… O Evangelho da liturgia de hoje é a narrativa de Lc 9,11b-17, sobre a multiplicação dos pães, bastante conhecido! Jesus falava às multidões sobre o Reino e curava os que dele precisavam… e os discípulos, com o avanço das horas que trazia a tarde, perceberam que a fome chegava junto. Eram muitos e deveriam despedi-los para que procurassem hospedagem e comida… Mas Jesus lhes disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Haviam encontrado alguém com 05 pães e 02 peixes… na verdade, havia mais comida levada pelos que o seguiam… mas poucos colocaram em comum a sua merendinha! Jesus faz o gesto da ceia: toma, abençoa, parte e dá… o pouco encontrado se multiplicou e sobrou… Jesus, na verdade, tocou no coração dos outros… e o milagre aconteceu! Não foi mágica, foi partilha! Não falta comida no mundo, falta justiça social, solidariedade, equidade, fraternidade. Falta eucaristizar os corações com o Pão que é Jesus! Quem come deste pão não mais terá fome, e tornar-se-á responsável para que os demais também não tenham…
Temos uma enorme fome de pão, mas temos também outras “fomes” que precisam ser saciadas no nosso amado Brasil. Fome de respeito à dignidade das pessoas, de todas, mas sobretudo dos nossos povos nativos, dos pobres, dos trabalhadores, das mulheres, dos que lutam por estes irmão, dando-lhes voz e atenção. Estamos estarrecidos com o ocorrido na Amazônia esta semana… É Jesus sendo novamente assassinado por defender os direitos dos mais vulneráveis.
É isto que celebramos hoje! O Corpo de Jesus violentado, massacrado na pessoa de irmãos e irmãs. É muito digna e merecida a homenagem celebrativa com procissões, tapetes e liturgias belíssimas como reconhecimento do sacrifício redentor de Jesus, que hoje lhe dirigimos… mas que esta festa tenha continuidade no nosso dia a dia, nas nossas práticas sociais, no relacionamento com os mais pobres… A Eucaristia – o Corpo do Senhor – que eu recebo e hoje celebro deve ultrapassar as fronteiras das igrejas e fazer-se alimento ao Outro, por onde eu passar! E assim entendemos a música cantada nas nossas comunidades: “Comungar é tornar-se um perigo…” por isso nos matam! Amém. Que seja assim. Que assim seja! Bjs no coração
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