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Reflexão da Palavra | 6º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Leituras: Lv 13,1-2.44-46 – Sl 31 – 1Cor 10,31-11,1 – Mc 1,40-45

Entre todas as doenças, a lepra era considerada pelo judeus a que tornava mais impuro o ser humano, porque, destruindo-o em sua integridade e vitalidade física, era, por excelência, sinal de pecado e de sua gravidade. Neste domingo, o evangelho de Marcos oferece para nossa reflexão uma passagem em que Jesus cura um leproso. No tempo de Jesus, a doença da lepra nunca era considerada única e exclusivamente do ponto de vista médico. Ela revestia-se de um caráter religioso, percebido pelas medidas sérias que eram tomadas – cf. na primeira leitura do livro do Levítico: “O homem atingido por este mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!’”. A lepra era sinal do pecado e colocava seus portadores fora da comunidade, não apenas como medida profilática, mas também e sobretudo para preservar “a santidade do povo de Deus”. A lepra fazia dele um “excomungado”.

Vemos assim que as curas da lepra, narradas nos evangelhos tornam-se símbolos da libertação do pecado, sinal e prova do poder de Jesus. Ele toca-o com a mão e o limpa da sua impureza.

Infelizmente, ainda existe muita lepra em nossa sociedade. Ela tem a mesma face desumana de sempre, e, paradoxalmente, a condição do leproso hoje é muito diferente daquela do tempo de Jesus. Mas usemos a “lepra” como metáfora das exclusões de hoje: há muitos “banidos”, excluídos da nossa sociedade, pessoas marginalizadas e mantidas “fora do acampamento”, isto é, fora de uma sociedade onde se decide por eles, mas sem considerá-los ou interrogá-los. Os leprosos de hoje são os que vivem nos barracos das favelas das cidades ricas e opulentas que não lhes dão espaço no mundo urbano; são os fracassados profissionalmente, os desempregados das cidades industriais, os jovens e adultos drogados, todos vítimas da civilização do consumo e do sucesso do “ter”… Os leprosos de hoje são as crianças especiais, cuja sociedade de produção e consumo veem-nas como um peso; são os idosos que “esperam”, sem esperança, a morte num isolamento e numa inércia frustrada e degradante… são os encarcerados, “rotulados” mesmo depois de cumprirem suas penas… continuam para sempre impuros!

De joelhos, o leproso faz a Jesus uma súplica humilde. Sente-se sujo. Não lhe fala de doença. Só quer ver-se limpo de todo estigma: «Se queres, podes limpar-me». Jesus comove-se ao ver a seus pés aquele ser humano desfigurado pela doença, pelo desprezo e abandono de todos. Aquele homem representa a solidão e o desespero de tantos estigmatizados. Representa uma sociedade injusta, desigual, doente. Representa os leprosos de hoje, adoecidos pelo descaso, pela corrupção, pela ganância e ausência de fraternidade.

Onde quer que falte alimento, bebida, roupa, casa, medicamentos, trabalho, instrução, laser e justiça, meios necessários para levar uma vida verdadeiramente humana; onde houver um aflito por tribulações, um discriminado pelas fobias sociais e sexuais, pela hipocrisia dos moralismos religiosos, aí… exatamente aí, Jesus nos pede um milagre, nos pede que os/as curemos! Que façamos o milagre da inclusão, da reinserção social, da abertura de coração e os/as amemos! Sim, Jesus quer que amemos estes irmãos e irmãs, nada mais! Este é o apelo que também nos trará a CF 2024, que iniciaremos nesta semana. Este é talvez o grande e único testemunho que o mundo de hoje espera dos cristãos e cristãs! Só este! Que seja assim!

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