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Reflexão da Palavra | 5º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Leituras: Is 58,7-10 – Sl 111 – 1Cor 2,1-5 – Mt 5,13-16

Por: Quininha Fernandes Pinto, Cebs Regional Leste 1

Após proclamar o Sermão das Bem-aventuranças – como vimos no domingo passado – Jesus continua mostrando aos discípulos e discípulas a importância de não se deixarem contaminar pela sociedade injusta, contrária ao Reino de Deus: “Vós sois o sal da terra… vós sois a luz do mundo” – cf. Mt 5,13-16 -. As pessoas simples da Galiléia captam espontaneamente a linguagem fácil e popular de Jesus. Todo mundo sabe que o sal serve, sobretudo, para dar sabor à comida e para preservar os alimentos de deterioração. Sem a luz do sol o mundo fica às escuras e não podemos orientar-nos nem desfrutar a vida no meio das trevas. Assim, os discípulos de Jesus hão de contribuir para que as pessoas saboreiem a vida sem deteriorar-se; podem aportar a luz que necessitamos para nos orientarmos, aprofundar o sentido último da existência e caminhar com esperança, esperançando…

As duas metáforas coincidem em algo muito importante. Se o sal permanece isolado num recipiente, não serve para nada! Só quando entra em contato com os alimentos e se dissolve no meio deles pode dar sabor ao que comemos… o mesmo sucede com a luz. Se permanece encerrada e oculta não pode iluminar ninguém. Só quando está no meio das trevas pode iluminar e orientar. O testemunho dos discípulos do Reino tem de ser eficaz, como o sal e como a luz, para transformar a nossa sociedade, o nosso mundo. É esta a nossa missão – Doc. 105 sobre os cristãos leigos e leigas – nos areópagos modernos – n. 250.

O papa Francisco viu que a Igreja vive hoje fechada em si mesma, paralisada pelos medos, e demasiadamente afastada dos problemas e sofrimento do nosso povo. Sua solicitação é objetiva e simples quando propõe uma “Igreja em saída” que possa dar sabor à vida moderna e oferecer-lhe a luz genuína do Evangelho. “Temos que sair para as periferias”, exorta-nos Francisco. O papa quer introduzir na Igreja e no mundo secular “a cultura do encontro”, a cultura da alteridade. O cristão/cristã sejam membros assíduos de uma comunidade eclesial ou não, são chamados a misturar-se, a diluir-se nos acontecimentos e problemas que o mundo apresenta e dar-lhes um novo sabor, novas perspectivas e novos rumos. O discípulo/a é chamado a penetrar profundamente no mundo para dar-lhe o sabor novo que é Jesus Cristo, o fermento de salvação que Ele nos oferece.

Assistimos ao vergonhoso aumento da fome – CF 2023 – no Brasil e no mundo; consequência de uma lógica férrea, própria de um sistema econômico desumano que prioriza o capital à vida, que acumula riquezas cada vez maiores nas mãos de uma minoria que já está fartos e saciados e despoja inexoravelmente os pobres e miseráveis!

Nestes conturbados tempos de divisões em que vivemos não estará faltando a nossa colherzinha de “tempero” e a nossa parcela de luz para nortear os caminhos, por vezes tão escuros e sinuosos que nos são apresentados? Não estaremos guardando os nossos carismas, os nossos conhecimentos, as nossas propostas e ideias apenas para criticar e derrubar as iniciativas dos outros?

Não estaremos trancafiados nos trabalhos pastorais das nossas igrejas, voltados muitas vezes para uma espiritualidade vazia e oracional, nos afazeres das nossas casas, nos nossos interesses e nos nossos projetos profissionais, no nosso pequeno mundinho egoísta e medíocre sem perceber que “o mundo lá fora” espera pela contribuição cidadã, pessoal e responsável que cada um de nós pode e deve dar? Ou o que sabemos é apenas e tão somente criticar, lamentar e rezar, pedir a Deus que faça o que nos é que temos que fazer? – “Dai-lhes vós mesmos de comer!” – Mt 14,16.

Que a liturgia deste domingo nos ajude na conscientização de que “eu” – cada um de nós – devo tornar este mundo muito mais saboroso, apetitoso, com paladares agradáveis e substanciais de justiça, paz, fraternidade, alegria, solidariedade, amor. São este paladares que podem nos ajudar a sair das trevas que têm ofuscado tanto a nossa vida, o nosso mundo e em especial, o nosso Brasil. Que seja assim! Que assim seja!

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