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Romaria faz memória de nordestinos mortos por política de “limpeza social”

Texto: Padre Anastácio Ferreira de Oliveira (Iguatu, CE). Fotos e vídeo: CEBs/Iguatu

Cerca de oito mil pessoas participaram da 37ª Romaria ao Campo de Concentração da Seca de 1932, em memória das almas da Barragem do Patu, município de Senador Pompeu (CE). Houve presença de muita gente das CEBs. A caminhada ocorreu no domingo (10), mas desde sexta-feira (08) romeiras e romeiros começaram a se deslocar para o local. Confira galeria de fotos ao final.

Foi uma romaria em memória das vítimas de uma política de “limpeza social” chamada eugenismo que imitava algumas cidades da Europa central. No Brasil dos anos 30 vários estados, estimulados pelo governo federal, empurravam as pessoas empobrecidas para as periferias, para evitar que elas “deixassem as cidades feias”.

No caso do Ceará, muitas trabalhadoras e trabalhadores foram confinados no sertão em sete campos de concentração para construir obras federais, e um deles foi em Senador Pompeu. Nesses lugares muita gente morreu de fome, sede, surto de cólera e teve os corpos jogados em valas comuns.

Por isso a Romaria traz essa memória como denúncia, para que nunca mais se repita tal situação de exploração à dignidade d@s pobres do sertão e para que os projetos mentirosos de combate à seca sejam coisas do passado.

 

Peregrinação

A diocese de Iguatu (CE) participou da Romaria com 31 pessoas das CEBs, Pastorais Sociais, Cáritas Diocesana, movimentos sociais e da “Urgência Defesa da Vida”. Durante todo o caminho tivemos a companhia de Maria, Mãe das Dores, e das Santas Almas.

Na noite de 08 de novembro a Comunidade de Piquet Carneiro nos acolheu, onde realizamos a atividade “Chá com o papa Francisco”. Foi um diálogo sobre o Sínodo da Pan-Amazônia, o Bem Viver e Bem Conviver no Semiárido. A Cáritas Diocesana animou a mística.

Momento forte de reflexão sobre os cuidados com a vida! Afinal, como diz a carta encíclica escrita pelo papa Francisco em 2015, “Tudo está interligado como se fôssemos um! Tudo está interligado nesta casa comum!”. Palavras que fazem parte também da música “Tudo está interligado”, de Cirineu Kuhn.

Saboreamos, ainda, o mel orgânico da agricultura/apicultura familiar.

No dia 09 (sábado), caminhamos 30 km de Piquet Carneiro a Senador Pompeu. Saímos às 4h30 e chegamos às 18h30. No meio da estrada realizamos duas rodas de conversa, uma na Comunidade do Engenheiro Zé Lopes e outra na Comunidade do Catolé. Para chegar à primeira comunidade andamos 15 km e caminhamos mais 6 km até a segunda.

Na Comunidade do Engenheiro Zé Lopes fomos acolhidos com uma mesa farta para o café da manhã! Agradecemos e ainda nos confraternizamos com um bom forró de raiz! Confira o vídeo.

Saímos por volta das 10h30 para a Comunidade do Catolé! A alegria fraterna e a festa da partilha continuou. Teve momento orante de reflexão e roda de conversa sobre convivência com o semiárido. Entre os assuntos, cuidado com a água, organização jovem, famílias reunidas e organizadas.

Depois deste maravilhoso momento, às 16h30 pegamos a estrada para Senador Pompeu! E foram mais 9 km de muita animação

Na madrugada do dia 10 fizemos a caminhada até o local do Campo de Concentração, na Barragem do Patu! Momento fortíssimo de memória, denúncia e compromisso com a construção de “Um outro Semiárido possível”!

Memória dos sofrimentos. Memória das lutas de ontem e de hoje. Memória da resistência e experiência de liberdade e fartura do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, padre Ibiapina, Maria de Araújo, padre Cícero, Antônio Conselheiro, beato Zé Lourenço! Lutadoras e lutadores do povo de Deus! PRESENTE, PRESENTE, PRESENTE! Hoje e sempre!

É a resistência do povo que resiste na teimosa alegria em meio às dores, animadas e animados pela fé no Deus libertador!

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