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Reflexões da Palavra | 3º Domingo da Quaresma – Ano B

Leituras: Ex 20,1-17 – Sl 18 – 1Cor 1,22-25 – Jo 2,13-25

Por Quininha Fernandes Pinto, do Regional Leste 1.

Neste domingo temos como narrativa de reflexão a passagem em que Jesus expulsa à chicotadas os vendilhões do Templo. Ele deparou-se com cambistas, com o comércio religioso: vendedores de animais para serem oferecidos a Iahweh. Era um gesto cultual… quanto maior o valor do animal oferecido, maior as bênçãos alcançadas. Os pobres compravam pombas, o animal mais barato, mais acessível. Na verdade, Jesus não encontra pessoas que procuram Deus, mas uma espécie de barganha: comprar favores e graças divinas com suas ofertas! Jesus reage irado, vê a religião transformada em mercado. O Templo, chamado a ser o lugar onde deveria se manifestar a glória de Deus e o seu amor fiel, converteu-se em lugar de abusos e enganos, onde reina o desejo de dinheiro e comércio de interesses.

Como este texto é atual! As grandes mídias trazem a público roubos, falcatruas, verdadeiras máfias religiosas, envolvendo grande vulto de dinheiro e bens com ele comprados. Vemos templos serem destruídos pela intolerância religiosa de alguns adeptos “mais apaixonados”. Vemos as ideologias fundamentalistas que se propagam por parte de grupos que disseminam o ódio e a violência em nome de Deus, da tradição e da ortodoxia religiosa. Vemos o uso do nome de Deus para justificar opções, votos, ações desumanas e genocidas. Vemos o Brasil à deriva, sendo objeto de preocupação mundial, dado o rumo que a pandemia tomou em nossas terras.

E as leituras deste 3o Domingo da Quaresma parecem ter sido escritas para iluminar os acontecimentos que hoje vivemos! A leitura do Êxodo nos apresenta o decálogo – os Dez Mandamentos de Deus – que se enquadra no contexto da Aliança; a promulgação desta Lei é um momento fundamental da história da Salvação. Mas no Novo Testamento, Jesus, sem anular a antiga Lei, dá-lhe um novo sentido. Ele ratifica a validade da lei mosaica e a coloca no horizonte do diálogo e do amor com Deus. O amor, passa então a ser o resumo de toda a Lei. Uma lei em que o amor a Deus é vivido e manifestado no amor aos irmãos. E como se isso não bastasse, Jesus relativiza o espaço litúrgico do culto – tão valorizado naquele tempo e também hoje – apontando o coração humano como Templo/Santuário vivo do Espírito Santo – cf. 1Cor 6, 19 -. Para muitos, nossa aliança com Deus se reduz a uma apressada visita dominical a uma igreja ou a um passeio turístico a algum santuário. Muitos cristãos são capazes de atos heróicos uma vez por ano, e depois deixam-se enredar nas malhas da esclerose espiritual e do legalismo. Mas não conseguem perceber ou identificar o novo comércio religioso oferecido pelos tempos modernos e, agora pela conjuntura pandêmica que destrói quase 2.000 Templos do Espírito Santo por dia, só no Brasil. Não conseguimos ver em cada pessoa que sofre e morre por Covid a destruição do Templo de Deus, a destruição da vida, e nela seus sonhos e histórias, enterrando junto com elas a dignidade e a esperança humanas. Precisamos nos encher da indignação e da ira que moveu Jesus ao pegar o chicote e expulsar os que faziam mal ao povo, ludibriando sua fé e manipulando suas expressões religiosas.

Precisamos mudar o nosso olhar em relação ao nosso irmão/irmã – seja ele/ela quem for, é irmão, é irmã! – e praticar mais a amizade social, solicitada pelo Papa Francisco. Precisamos refinar as nossas práticas religiosas para fazer surgir a verdadeira lei que salva: a lei do amor. Precisamos expulsar do Templo do nosso coração – morada do Espírito de Deus – a violência, o sectarismo político, a prepotência religiosa, o orgulho que nunca se rende, a indiferença diante da morte, o ódio que mata…

Precisamos acordar para o perigo que aflige a humanidade e entender que precisamos de todos, que a defesa da vida é um dever de todos porque Deus nos ama, e ama a todos.

Que seja assim. Beijos no coração.

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