A Teologia da Libertação tem muitos antecedentes. A opressão e as lutas para superá-la acompanham a história da humanidade. Igualmente, desde as origens da fé judaica e cristã, comunidades proféticas testemunharam a justiça divina como Amor Libertador contra todas as opressões do mundo e em defesa da dignidade das pessoas oprimidas e dos direitos da humanidade.
Que significa, então, o marco dos 50 anos de Teologia da Libertação? Esta teologia não começou com a publicação de livros. E o que se denomina como TdL sempre foi uma realidade plural e uma diversidade de posturas proféticas e libertadoras, de reflexões simultâneas que aos poucos foram se encontrando e reconhecendo traços comuns. Esse processo criativo será explicitado ao longo desta obra. Importa ter presente que todo marco celebrativo é simbólico e há escolhas assumidas explicitamente que oferecem referências concretas, mas que sempre relativas e marcadas pela subjetividade de quem as assume. Nenhuma pretensão categórica. Aqui, considera-se os 50 anos do lançamento do paradigmático livro Teologia da Libertação: Perspectivas, de Gustavo Gutiérrez, mas também a publicação de artigos com a temática de Jesus Cristo Libertador, de Leonardo Boff, ambos publicados ao longo de 1971. Poderiam ter sido escolhidos outros marcos, por exemplo, a criativa recepção do Concílio Vaticano II, na Conferência de Medellín, e a da defesa da tese de doutoramento, Por umaTeologia da Libertação, de Rubem Alves sobre uma nascente teologia da práxis, capaz de alimentar a esperança dos fracos e oprimidos em contexto de luta por libertação, ambas acontecidas ao longo de 1968.
São 50 anos de uma teologia situada que enfrentou muitas barreiras, resistências e críticas, seja dos que dominam a sociedade, como dos setores religiosos que identificam Deus com poder e estavam habituados a uma teologia que legitimava essa realidade. O diálogo franco e nem sempre fácil com alguns setores da teologia europeia provocou em setores mais abertos do mundo teológico europeu a necessária autocrítica e a todos, de um lado e do outro, a abertura aos novos horizontes e desafios a partir dos quais o Espírito nos interpela.
Nossa obra está dividida em três partes distintas, sendo as duas primeiras no Volume 1 e a terceira no Volume 2. As três partes juntas se completam formando uma grande unidade: apresentar a TdL desde as suas origens, diante dos desafios de nosso tempo e com a necessária perspectiva capaz de descortinar horizontes de esperança para o compromisso coletivo de construção de outro amanhã possível.
É nesta alegria da fé que convidamos vocês a saborearem esse livro e assim fortalecermos nossa caminhada comum em uma fé profética e libertadora, para “estar sempre prontos/as a dar, a quem nos pedir, a razão da nossa esperança” (1 Pd 3, 15).
Desejamos a vocês uma proveitosa leitura.
Edward Guimarães
Emerson Sbardelotti
Marcelo Barros
Organizadores