Leituras: At 10,25-26.34-35.44-48 – Sl 97 – 1Jo 4,7-10 – Jo 15,9-17
Por Quininha Fernandes Pinto, do Regional Leste 1.
Em tempos sombrios como os que estamos vivendo com esta pandemia que assola o mundo e leva as pessoas sem dó nem piedade, com o descaso das nossas autoridades para com o sofrimento do povo à mercê do desemprego e da fome, com uma chacina que mata nosso povo e um político do alto escalão que diz “eram todos bandidos” – o slogan é matar bandidos! -, quando crianças e professoras são cruelmente mortas à facadas numa creche… o Evangelho deste domingo nos convoca a permanecermos no amor de Jesus. É continuidade do mesmo Evangelho de domingo passado. São palavras afetuosas, e, ao mesmo tempo um conselho e uma declaração de amor! “Assim como o Pai me amou, eu também vos amei!”.
O evangelista João coloca na boca de Jesus um longo discurso de despedida, contendo orientações intensas que hão de recordar aos seus discípulos a maneira como devem ser fiéis à pessoa do Mestre e ao seu projeto. “Permanecei no meu amor.” Este é o primeiro. Não se trata só de viver numa religião, mas de viver “no amor” com o qual nos amou ele mesmo, o próprio Jesus. E Jesus tem um jeito inconfundível de amar: ama aqueles que pouco são amados. Ama os pobres. Ama os marginalizados. Jesus é extremamente sensível ao sofrimento das pessoas. Captava-os com o seu humano olhar. Olhava-os e comovia-se: percebia que estavam como “ovelhas sem pastor”. Curava os doentes, alimentava os famintos. Ele foi simples e direto: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Por isso, em qualquer época ou situação, o decisivo para o cristianismo é não se distanciar do “amor fraterno”. Quem ama como Jesus, aprende a olhar o rosto das pessoas com compaixão – que é diferente de “ter pena” -. Podemos ter pena à distância… e nada fazer! Compaixão é colocar-se lado a lado com o sofrimento do outro; acompanhá-lo, dar-lhe sustentação, amparo.
Jesus não apresenta este mandato do amor como uma lei que fará nossa vida mais dura e pesada. Ao contrário, apresenta-a como fonte de alegria! “Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. O mistério da verdadeira alegria é algo estranho para muitas pessoas. Ainda que possam rir às gargalhadas, aparentem cordialidade e satisfação, podem, muitas vezes, esconder uma infelicidade e mal-estar profundos… há pessoas que têm quase tudo: estão rodeado de objetos valiosos e práticos, viajam, consomem muito, mas nada os satisfaz de verdade! Podemos até ter tudo isso… mas se não permanecermos ligados a Ele, que é a Videira, ficará sempre um vazio, uma insatisfação, e nossa “alegria” não será completa, plena, estará sempre ameaçada.
Talvez, os cristãos ainda não tenham entendido isto muito bem… Se não há amor, não há vida. Se falta amor na nossa vida, não fica nada mais que o vazio da ausência de Deus. E este vazio enche-se de outros “falsos deuses”, como o poder, o dinheiro, a ganância, a inveja ou o sexo que tomam o lugar do Pai e que não fazem brotar em nós a verdadeira alegria.
Nestes dias, tão sofridos e pesados pelos últimos acontecimentos, ouvir/saber/acreditar que temos o amor de Deus em nossas vidas é reconfortante! Mas ao mesmo tempo esta certeza nos compromete com os irmãos, pois eles precisam saber disso, precisam fazer a experiência desse amor! E os tempos parecem não ajudar muito nessa tarefa!!!!! Como dizer a tantas mães que Deus as ama quando veem seus filhos cruelmente assassinados em nome da lei e das autoridades que deveriam preservar e proteger suas vidas? Como consolar os familiares de mais 410.000 pessoas, vítimas do coronavirus, dizendo-lhes que Deus as ama? O que dizer às famílias que perderam cruelmente suas crianças numa creche e as professoras que delas cuidavam? Sem palavras… mas tentemos amar, no silêncio do nosso coração, amemos… não desistamos de amar, não nos cansemos de amar, da forma que for possível, com as nossas limitações e incoerências, mas permaneçamos no amor de Deus! Como? Que amor?
Que possamos amar do jeito que Jesus nos amou – deu a vida por nós, por todos nós – um amor que procure ser como o d’Ele, vivendo com confiança e alegria de quem sabe acolher a vida com gratidão. A alegria de quem descobriu que a existência inteira é pura graça!
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