Amigos queridos,

Hoje, na aurora de um novo dia, perdemos um grande amigo, alguém que para mim era muito especial, a quem eu costumava chamar de “irmão maior”. Luiz Alberto Gómez de Souza, um dos maiores sociólogos que o Brasil já teve. Uma pessoa brilhante. Uma pessoa que teve uma história e muitos dos frutos que colhemos hoje, na questão da justiça, da democracia, vieram por suas lutas. Alguém muito ligado às igrejas de base, por sua vivência na JUC e por sua militância ativa e libertadora. Eu tive a graça de conhecer o Luiz Alberto há alguns anos atrás, quando ainda estava começando e eu era estudante na universidade. Gostávamos de ler os seus textos e o chamávamos para participar de nossos eventos. A primeira vez foi em um simpósio na PUCPR, em Curitiba. Depois, fomos nos aproximando mais e nos encontramos no Conselho de Leigos, depois na SOTER, e quando nos mudamos para o Rio, ficamos mais próximos, tanto pelo Grupo de Emaús, tanto pela acolhida que nos dava em sua casa, nos eventos na Candido Mendes, nas celebrações do Pe. Ricardo Rezende e em várias ocasiões. Ultimamente os encontros eram virtuais, por e-mails, conversas de whatsapp ou os eventos virtuais do Emaús. A última vez que nos encontramos pessoalmente foi em Petrópolis, ano passado, depois descemos para o Rio no mesmo carro, eu, Luiz Alberto e Lúcia, Susin e Frei Betto.

Luiz Alberto se tornou um conselheiro. Não foram poucas as vezes que me voltei para ele pedindo ajuda, devido a meus posicionamentos e de algumas perseguições que sofremos por expressarmos nossas ideias e ideais. Ele sempre escutava pacientemente, lia com atenção aquilo que mandávamos, escutava cada palavra e nos dava uma voz de coragem e de afeto. Ele e a Lúcia, sua esposa, foram muito queridos e sempre estiveram abertos, passando para nós toda a sua experiência de caminhada, de lutas, de exílio, de vida, de fé, de esperança. Sinto a sua partida. Estou triste. Num momento em que precisamos tanto de um luz, perdemos mais um dos nossos melhores, como dizia D. Casaldáliga. Mas ele viveu a sua vida, passou por ela com firmeza e valentia. Uma vida que deve ser seguida. Se nós como leigos católicos falamos tanto de inserção na sociedade, de sermos sujeitos na fé e na vida, aí está um grande exemplo.

Hoje, choramos a sua partida, mas guardamos no coração as suas palavras, a sua história, a sua simpatia e leveza, a sua coragem e esperança. Precisamos disso. Muito. Hoje, na sua partida, a palavra a dizer é obrigado. Obrigado por tudo o que você fez, pois seus caminhos nos permitem ser também hoje.

Luiz Alberto foi um andarilho entre o mundo da fé e o da sociedade, e assim ele se definia. Mas fazia dos dois mundos um só caminho, e assim ele nos presenteia com a sua vida. Que vida!

Neste momento, gostaria de me colocar ao lado da Lúcia e de seus filhos, irmãos e amigos. Por aqui, ainda seguimos na vida turva, olhando em espelho, ainda na esperança, enquanto ele já contempla tudo face a face, na presença Maior, na justiça do Reino, na vitória da paz. Lá onde só existe vida e vida plena!

Um abraço grande, irmão maior!

Cesar Kuzma