Shadow

A necessidade de atravessar as fronteiras

Aloir Pacini, sJ (padre jesuíta e assessor das CEBs/arquidiocese Cuiabá-MT)

Confira relato sobre atividades complementares à programação oficial do Sínodo da Pan-Amazônia, que ocorre em Roma. São ações organizadas pela tenda “Amazônia: Nossa Casa Comum”. Acompanhe o relato do dia 15.

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Na mística da oração, aprendemos a cruzar as fronteiras, ir de uma margem para a outra do rio. Depois a Associação Mawako Eon trouxe a questão da exploração sexual e o tráfico de pessoas, reflexões difíceis, mas que devem ser enfrentados com firmeza para superar os problemas que vivemos.

A questão é saber o que levamos conosco nesta travessia, as marcas de aprendizado e cicatrizes que ficam das experiências vividas. Entre uma atividade e outra teve coletiva de imprensa com os indígenas que estão retornando ao Brasil, pois virá outra equipe do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Enquanto Hosana Puruborá deu uma entrevista para a TV Aparecida, falamos com detalhes sobre o trabalho do Cimi para a Rádio Aparecida.

 

Educação Escolar Indígena

Estivemos numa mesa redonda no Centro Internacional Juvenil San Lorenzo para dialogar a respeito da Educação Escolar Indígena e as formas de Antropologia Aplicada. O bispo Anton Žerdín, O.F.M. (franciscano), vigário apostólico de San Ramón (Perú), Vescovo titolare di Tucca terebentina apresentou o programa “Es tiempo de educar” (Universidad Católica Sedes Sapientiae). Mas todos os olhares e atenções estavam para Delio Siticonatzi Comaiteri (do povo indígena Ashaninka, do Peru).

Em vídeo vimos o Simpósio de interculturalidade, pois diferentes etnias indígenas (Nipoki – Atalaya, 2015) estão aprendendo juntas, com o programa da Igreja na Amazônia peruana para formar professores bilíngues, que começou em 2006 e já atingiu mais de mil estudantes. A condição para participar é compreender e falar a língua de seu povo.

Delio falou que o lugar intercultural permite cumprir o sonho dos jovens que percebem que não estão sós na Amazônia. Quando regressam para suas comunidades com a alegria de ter compartilhado com os outros seus conhecimentos tradicionais, as formas de se relacionar com a natureza, sentem-se fortalecidos.

 

“O dinheiro não deve estar acima da pessoa! Lá fora nos esperam, pais, família, povo! Vou fazer isso por amor ao meu povo!”, disse Delio (Ashaninka do Peru)

 

Também falou que o centro é a espiritualidade, a oração que conecta com os mundos espirituais escondidos à primeira vista, mas que podem ser revelados no ambiente de confiança. Disse que tinha no coração a formação como antropólogo e a experiência espiritual básica dada pelo seu povo.

“Se eu não tivesse compreendido a palavra serviço, eu já teria desistido de estar ali na Universidade, com os estudantes com necessidades tão diversas. Como professor eu aprendi o que é servir. […] O dinheiro não deve estar acima da pessoa! Lá fora nos esperam, pais, família, povo! Vou fazer isso por amor ao meu povo!”

 

Vale a pena compartilhar

Perguntas surgiram: “Que mística usam para dar certo?”, “Que metodologia?”, “Como se dá o processo escolar ligando linguagem com matemática, com lógica, com economia?”, “Existe uma sabedoria ancestral dos povos? “Como se ensina isso?”.

“A cosmovisão, cada povo socializa seus conhecimentos, transmite seus mitos […], assim vivemos a interculturalidade no concreto.”

Depois continuou falando que devemos deixar nossos egoísmos, e trabalhar em redes interculturais, sem imposição. E concluiu que vale a pena compartilhar, pois existem muitas oportunidades de crescermos juntos. E convidou a todos para irem até lá comer os diferentes tipos de papas (batatas).

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