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Advento, tempo de preservar as veredas existenciais  Pe Nelito Dornelas

Advento, tempo de preservar as veredas existenciais  Pe Nelito Dornelas

Advento exige, em primeiro lugar, uma verdadeira conversão pessoal, que consiste em reaproximar-se de Deus e de si mesmo, no sentido de reencontrar o centro motriz que movimenta a própria existência.

Cada Advento é uma quadra litúrgica especial para que os cristãos e cristas abram mais amplamente os seus corações ao amor de Deus, e à eterna salvação, oferecida por Jesus Cristo a toda a humanidade que a queira receber de boa vontade.

Desde 1º de Dezembro de 1974, todos os domingos do Advento têm precedência sobre todas as solenidades e festas do Senhor, segundo o Calendário Litúrgico.

Sobre a Liturgia do Advento, diz-nos o Catecismo da Igreja Católica 524: “Ao celebrar, cada ano, a Liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta expectativa do Messias. Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da sua segunda vinda. Pela celebração do nascimento e martírio do Precursor, a Igreja une-se ao seu desejo: “Ele deve crescer e eu diminuir” (Jo.3,30).

Protagonistas desse período são as figuras do profeta Isaías, do precursor, o profeta João Batista, e de Maria de Nazaré. O primeiro nos apresenta a boa notícia: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso” (Is 9,1). O segundo surge como um apelo à mudança, “a voz daquele que clama no deserto: preparem os caminhos do Senhor, endireitem suas estradas” (Lc, 3,4).

Quanto a Maria, aceitando ser mãe do Messias, torna-se o protótipo vocacional de quem diz “sim” ao projeto de Deus, exultando de alegria porque o Senhor “olhou para a humildade de sua serva, doravante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada” (Lc1,48).

Nos bastidores do palco, porém, esconde-se um quarto personagem, José, simplesmente José, o operário paciente e fiel, que age por trás das cortinas e dos holofotes, sem proferir uma única palavra. Aquele que se encontra sempre no lugar certo e na hora certa, quando se trata de defender a integridade física da família, cuja presença poucos notam, mas cuja ausência seria imediatamente sentida.

Na perspectiva da dimensão social e política do Evangelho, bem como na dinâmica do compromisso com a cidadania, cada celebração do advento representa um degrau na construção da espiritualidade natalina, um passo a mais na preservação das veredas que sustentam nossa reseva ética na construção de uma nova humanidade que ouse acreditar na força revolucionaria da solidariedade e da paz.

Advento exige, em primeiro lugar, uma verdadeira conversão pessoal, que consiste em reaproximar-se de Deus e de si mesmo, no sentido de reencontrar o centro motriz que movimenta a própria existência. Significa aprender a distinguir o essencial do supérfluo; o absoluto do relativo; os prazeres, paixões e desejos imediatos dos valores pétreos e imorredouros; o indispensável daquilo que pode ser descartado.  Resgatar as motivações mais profundas que dão significado aos nossos anos, dias, horas, minutos, segundos. Reformular o núcleo vital que move ações e reações, o sentido último da existência humana.

“Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde os ladrões assaltam e roubam”. “De fato, onde está o seu tesouro aí estará também o seu coração” (Mt 6,19-21). Trata-se não de espiritualizar o pão nosso de cada dia, que deve ser garantido para todos sem exceção, mas da consciência de que a resolução dos problemas sociais, por si só, não elimina as perguntas fundamentais do ser humano.

Os bens materiais, de tão sólidos e visíveis, facilmente se pulverizam e se dissolvem no vazio e no nada, ao passo que os bens celestes, de tão espirituais e invisíveis, permanecem solidamente como herança da alma que busca e espera. Efetivamente, nem as traças ou ferrugem, nem os ladrões os podem danificar!

Por Nelito Dornelas

Imagem Ateliê 15

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