Há vinte dias algumas cidades da periferia de Brasília e de Goiás viviam temerosas pelo rastro de crimes e sangue deixados por Lázaro Barbosa.
Hoje a situação encontrou um desfecho. Previsível quando se trata da forma como a polícia no Brasil atua em casos semelhantes que envolvem pobres principalmente negros: numa troca de tiros, segundo os próprios policiais, ele foi alvejado com mais de trinta tiros.
O caso revela muito das tristes chagas que acompanham a sofrida sociedade brasileira: policiais e populares comemorando efusivamente a morte de uma pessoa e a pena de morte não institucionalizada, mas real.
Em situações assim, o senso comum ensina a entrar na onda e nos rebaixar aos instintos mais primitivos cultivados em nossa cultura e da sua estética da violência, aderindo ao aplauso fácil e ao fortalecimento do discurso corrente de que “bandido bom é bandido morto”.
Entendemos o sentimento de alívio das comunidades que se viam ameaçadas pela elevada periculosidade de Lázaro e as dores causadas por ele às famílias que perderam seus parentes envoltos na situação. Entendemos também a dor que a própria família do Lazaro deve estar sentindo. Nos solidarizamos com todas as dores.
Afirmamos que busca por Lázaro não pode ser ponte para práticas violentas e de racismo religioso. Os Terreiros do DF e do Entorno têm sido alvos de abordagens truculentas desde que foram associados – de maneira mentirosa – ao Lazaro e isso é inaceitável.
Repudiamos a forma leviana e sensacionalista com que a imprensa tratou o caso Lazaro e em nada ajudou a sociedade a entender que precisamos é de uma justiça ágil e que respeito o devido processo legal e não “justiça” pelas próprias mãos. A imprensa, na sua grande maioria, pediu ainda mais sangue e obteve.
Mas justamente em momentos assim, torna-se imperativo seguir outro caminho: o da civilização, da democracia e dos direitos humanos. Isso significa que toda pessoa, independente do crime que lhe atribuem, tem o direito a um julgamento justo e independente. Isso é o básico de qualquer sociedade civilizada. Fora disso é a barbárie, o fazer a justiça com as próprias mãos e se equiparar a quem provocou tantas dores.
Assim exigimos plena investigação das circunstâncias da prisão e morte de Lázaro, bem como das possíveis redes de apoio a ele na região. Pois segundo informa a imprensa, há sinais de apoio de fazendeiros em sua fuga. O que pode indicar muito mais coisas que os supostos crimes cometido pelo Lazaro. Isso precisa ser investigado.
Mais uma vez o caso mostra como temos que avançar na qualificação de nossas forças policiais que não têm licença para matar.
O caso Lazaro, assim como muitos outros, mostram a diferença de tratamento dado pela policia e pelas demais instituições do Estado e determinados fatos. O operação Lazaro mobilizou, segundo a imprensa, 19 milhões de reais e mobilizou em torno de 300 policiais. Quantos policiais estão envolvidos e quanto o Estado já gastou para localizar Lucas Matheus de 8 anos, Fernando Henrique de 11 anos e Alexandre de 10 anos? Crianças pobres e negras que sumiram a mais de 6 meses em Belford Roxo.
Queremos Justiça e não barbárie.
Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político
Fonte: https://reformapolitica.org.br/2021/06/28/barbarie-nao-e-justica/
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