Nós habitamos em um mundo violento, por isso conclamou o papa Francisco, na mensagem do Dia Mundial da Paz, de 01 de janeiro de 2017: “Nesta ocasião, desejo deter-me na não-violência como estilo duma política de paz, e peço a Deus que nos ajude, a todos nós, a inspirar na não-violência as profundezas dos nossos sentimentos e valores pessoais. Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais. Quando sabem resistir à tentação da vingança, as vítimas da violência podem ser os protagonistas mais credíveis de processos não-violentos de construção da paz”.

O tema da Campanha da Fraternidade proposto para o ano de 2018, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é “Fraternidade e superação da violência” e o lema, “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). Devido ao seu alto grau de complexidade, o tema da violência foi discutido, refletido e aprofundado em um seminário que aconteceu no dia 09 de dezembro de 2016, na sede da CNBB em Brasília.

A violência sempre foi uma das preocupações da Igreja como pode ser constatado no Compendio da Doutrina Social: “A violência nunca constitui uma resposta justa”. A Igreja proclama, com a convicção da sua fé em Cristo e com a consciência de sua missão, “que a violência é um mal, que a violência é inaceitável como solução para os problemas, que a violência não é digna do homem. A violência é mentira, pois que se opõe à verdade da nossa fé, à verdade da nossa humanidade. A violência destrói o que ambiciona defender: a dignidade, a vida, a liberdade dos seres humanos” (DSI 460).

Os problemas ligados à violência são numerosos, complexos e de natureza distinta, então pode-se perguntar: O que é a violência? É toda ação cometida ou omitida que implique a morte de uma ou mais pessoas ou que lhes inflige, de maneira intencional ou não, sofrimento, lesões físicas, psíquicas ou morais contra a sua vontade.

A violência está ligada à dimensão relacional da existência, por isso ela envolve três elementos constitucionais: ações, pessoas e situações. Convém, nesse sentido, fazer alguns questionamentos racionais a nós mesmos: Por que agimos de forma violenta? Por que somos, em princípio, contra a violência e, em certas ocasiões, a praticamos? Em que situações a violência pode ser praticada? Podem existir uma fundamentação racional e uma justificação moral da violência?

Ela é um fenômeno que desestrutura o ser humano psiquicamente, assim como também horroriza, constrange, envergonha, inquieta, aterroriza e revolta. Cotidianamente, é comum pensar a violência a partir de efeitos físicos: torturas, agressões, maus-tratos, mutilações, homicídios, lesões corporais, sofrimento, roubos, ferimentos e mortes. No entanto, ela precisa ser percebida também, como um produto social que tem os seus efeitos nas relações sociais: a fragmentação do espaço urbano, a degradação da vida nas grandes cidades, a miséria econômica, a marginalização social, desemprego, acesso desigual a terra, concentração fundiária, estruturas arcaicas de poder, violação dos direitos civis dos trabalhadores rurais, milícias armadas por latifundiários, precarização das relações de trabalho, tiroteios, grupos de extermínio, violência policial, violência doméstica, abuso sexual, tráfico para fins de exploração sexual, violência no trânsito, violência da imprensa sensacionalista, droga e racismo.

A violência não é uma fenômeno novo, nova é esta diversidade de formas que assume na atualidade. Pode-se constatar esta visão consciente na mesma mensagem do Papa Francisco: “Não é fácil saber se o mundo de hoje seja mais ou menos violento que o de ontem, nem se os meios modernos de comunicação e a mobilidade que caracteriza a nossa época nos tornem mais conscientes da violência ou mais rendidos a ela”.

Por isso que a Campanha da Fraternidade 2018 trabalhará essas modalidades violentas a partir do capítulo Violência e algumas manifestações na sociedade,  do Texto Básico, no qual se enumeram:
a) Drogas;
b) Processo de criminalização institucional (negligência do Estado em relação às políticas sociais; justiça punitiva);
c) Sujeitos violentados – juventude pobre e negra; povos indígenas, mulheres (feminicídio); exploração sexual e tráfico humano, mundo do trabalho;
d) Violência no contexto urbano e rural (conflito pela terra);
e) Intolerância (raça, gênero e religião);
f) violência verbal;
g) violência no trânsito;
h) violência doméstica.

Em comunhão com a Campanha da Fraternidade 2018, o 14º Intereclesial das CEBs (dias 23 a 27 de janeiro, em Londrina – PR), que tem como tema “CEBs e os desafios no mundo urbano”,  trabalhará  a violência como um dos desafios do mundo urbano, na dimensão do AGIR.

Para materializar o objetivo geral da Campanha da Fraternidade deste ano que é “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”, é necessário trabalhar o seu tema a partir das nossas relações como um todo, mas atentos à proposta do Papa Francisco, na mensagem do Dia Mundial da Paz, de 01 de janeiro de 2017: “Por isso, as políticas de não-violência devem começar dentro das paredes de casa para, depois, se difundir por toda a família humana”.

 Pe. José Cristiano Bento dos Santos
Pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida km9