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CARTA ABERTA EM DEFESA DAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE DO 14º INTERECLESIAL DAS CEBS E TODOS AQUELES (AS) QUE SE COMPROMETEM COM A OPÇÃO PELOS POBRES

Recentemente aconteceu na cidade de Lodrina/PR o encontro do 14º intereclesial das CEBS, tendo como tema a “CEBs e os Desafios no Mundo Urbano”. O encontro reuniu milhares de pessoas, entre elas diversos bispos e padres da igreja do Brasil deram o seu apoio e auxilio.

Pessoalmente não pude comparecer, contudo acompanhei o evento por meio das midias sociais. Percebi pessoas engajadas com o projeto do Reino de Deus e com uma Igreja em saida, como o Papa Francisco a muito tempo vem exortando.

Contudo, o encontro sofreu diversos ataques, em especial nas redes sociais de pessoas movidas por um claro e incontroverso discurso de ódio, inclusive com ofensas a bispos e padres que ali se faziam presente.

O foco principal dos referidos ataques se deu em virtude de uma suposta tentativa de “politização” da igreja por meio das CEBs. Acusaram os participantes do encontro de quererem infiltrar na igreja pensamentos “comunistas”, “marxistas”, etc.

Para quem conhece minimamente a Doutrina Social da Igreja, bem como a Tradição dos cristaos dos primeiros seculos, tais acusações são dignas de risos, mas antes de comenta-las é preciso fazer alguns questionamentos.

Os que acusam os participantes das CEBs de quererem politizar a igreja, não estariam eles mesmos fazendo politica com essa atitude? Explico: sera que o mesmo alvoroço seria feito se no encontro tivessem visto fotos de Ronald Reagan, Margareth Thatcher ou um cartaz em apoio ao deputado e pré candidato a presidencia da Republica, Jair Messias Bolsonaro? Será que as ofensas seriam feitas caso os bispos e padres discursassem favoravelmente a um tipo de espiritualidade intimista e alienadora, sem qualquer compromisso fora das sacristias? Será que tais perseguições se dariam caso houvesse um dicurso apoiando as ditas “reformas” do governo Michel Temer? Será que as murmurações seriam ouvidas se tivessem um discurso alinhado com o perfil ideologico deles? Sinceramente, duvido!

Esquecem que o homem é um animal politico, como afirmava Aristoteles e mesmo que a Igreja, com razão, não tome lado na politica partidaria, os seus filhos podem e devem se posicionar, mas sempre tendo como centro de discernimento o Evangelho de Jesus Cristo. Francisco afirma que a politica é uma das mais altas formas de caridade. “Esquecem” ainda que o Catecismo da Igreja Católica no paragrafo 2425 condena varios aspectos do sistema capitalista.

Os que atacam possuem um claro perfil: adotam uma ideologia a direita do espectro politico, não suportam qualquer politica publica que favoreça os mais pobres, adotam uma espiritualidade de sacristia, apegados a normas, rubricas, devocionismos superfluos e se recusam a um compromisso com uma Igreja misericordiosa, acolhedora, pobre e para os pobres. Pasmem: mas, esses, acreditam que com isso servem a Deus e a Igreja!

Historicamente as CEBs e as pastorais sociais vão na contra mão: nascidas em um contexto de graves violações aos direitos humanos, buscam por meio da Palavra de Deus viver um projeto de solidariedade, justiça e fraternidade, buscam iniciar o Reino de Deus ja na terra para senti-lo plenificado na vida eterna.

As CEBs assumem o Magistério do Papa Francisco quando vão ao encontro de uma Igreja em saida, misericordiosa, simples e nos moldes das comunidades dos primeiros seculos.

Segundo o documento n.105 da CNBB as CEBs “são presença da Igreja, junto aos mais simples, aos descartados, aos excluidos. São instrumentos que permitem ao povo conhecer a Palavra, celebrar a fé e contribuem para o crescimento do Reino de Deus na sociedade”

Toda a atitude das CEBs são pautadas nas atitudes libertadoras e acolhedoras de Jesus Cristo. O Mestre ja ensinava quando se colocava ao lado das prostitutas, publicanos, leprosos, doentes, mulheres, crianças, samaritanos, adulteros, pobres, famintos, etc. E mais: disse que a condição para a nossa salvação é a pratica desses mesmos atos de misericordia e acolhimento, basta ler atentamente o que nos diz o Evangelho de Mateus, cap.25, v.31-46. Olhem só!

Quantas vezes os Evangelhos relatam o Cristo transgredindo a lei em favor do bem do ser humano? Quantas vezes vemos Jesus condenando o acumulo de riquezas? A hipocrisia dos Fariseus e Doutores da Lei? Certamente os acusadores das CEBs se escandalizariam se vivessem naquela epoca!

Com os inequivocos relatos dos Evangelhos, será que os detratores das CEBs vão acusar o Mestre de estar proliferando um discurso partidarizado, comunista, marxista?

“Os pobres estão no coração do Evangelho, neles encontramos Jesus”, como bem nos afirma o Papa Francisco, ecoando o Magistério da Igreja. A Igreja dos primeiros séculos não hesitava em tomar para si a opção pelos pobres, basta observar os documentos “desde os primeiros séculos do cristianismo. Se eu repetisse algumas passagens das homilias dos Padres da Igreja do segundo ou do terceiro século sobre o tratamento que devemos dar aos pobres, alguns ainda me acusariam de dar uma homilia marxista!” Papa Francisco

O próprio papa Bento XVI que tanto perseguiu a Teologia da Libertação afirma sem rodeios que “a opção pelos pobres está implícita na fé cristológica, naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza”.

No mais, é importante deixar claro que existem, sim, elementos de verdade no pensamento de Marx e que “referindo-se às ciências sociais, por exemplo, João Paulo II disse que a Igreja presta atenção às suas contribuições “para obter indicações concretas que a ajudem no cumprimento da sua missão de Magistério” EG §40. No livro Jesus de Nazaré, Ratinzinger afirmar que Marx “descreveu com vigor a alienação do homem”.

As questões levantadas no encontro (segurança, miséria, conflitos, etc) são questões HUMANAS e não partidárias.

Para o cristão a analise critica de qualquer pensamento deve ser feita a luz do Evangelho, para descobrirmos o que desses pensamentos é possível extrair e o que deles devemos descartar como incompatível com a mensagem do Mestre.

Esta carta, a faço para que com a minha pequena colaboração de leigo possa encorajar os membros das CEBs, das pastorais sociais e todos aqueles e aquelas que se comprometem com a causa dos pobres e marginalizados. ESTAMOS JUNTOS E NÃO SERÃO ACUSAÇÕES LEVIANAS, MOVIDAS POR ÓDIO, RIGORISMO E POR UM CONSERVADORISMO DOENTIO QUE NOS IMPEDIRÁ DE CONTINUAR NESTA MISSÃO QUE O SENHOR NOS CONFIOU!

Por fim, gostaria de terminar com uma frase de Dom Oscar Romero: “Quando nos chamarem de loucos, embora nos chamem de subversivos, comunistas e todas as ofensas que assacam contra nós, sabemos que não fazem mais que pregar o testemunho ‘subversivo’ das bem-aventuranças, que anima a todos para proclamar que os bem-aventurados são os pobres, bem-aventurados os sedentos de justiça, bem-aventurados os que sofrem”.

Dener Ricardo – leigo da diocese de São José do Rio Preto/SP

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