CIMI realiza Seminário Ir Vicente Cañas – Cuiabá MT
“Obrigado Ir. Vicente Cañas por deixar-te amassar e germinar pela Amazônia e seus povos. Obrigado por teu túmulo florido, por doar-te todo, por teu martírio e transformação profética, irmão jesuíta, em (Kiwxi) irmão dos índios!” (Fernando Lopez)
Organizado pelo CIMI o Seminário Vicente Cañas realizado entre 31 de março e 2 de abril no Distrito de Aguaçu, em Cuiabá, no Mato Grosso e contou com a participação representantes vindos do Mato Grosso, Roraima, Tocantins, Amazonas, Maranhão, Pará, Rondônia, Acre, Brasília, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Equador, Porto Rico, Paraguai… participantes do CIMI, OPAN, REPAM, Comitê pela Memória, Verdade e Justiça da Amazônia, Casa da Cultura do Urubuí, CEBs do Brasil, Jesuítas, outras Congregações Religiosas e representantes dos povos Indígenas: Enawenê-Nawê, Rikbaktsa, Kaawyweté (Kayabi), Guarani Kayowá e Myky, Centro Burnier Fé e Justiça, pessoas que viveram próximos a Vicente Cañas e outras que assumiram sua causa e lutam incansavelmente por justiça, somando aproximadamente 60 pessoas, entre elas Dom Roque Paloschi, que acompanha o Conselho Indigenista Missionário. O seminário fez memória da luta de Vicente Cañas em favor dos indígenas e seus territórios e os longos trinta anos que em que o processo arrasta pelos tribunais de justiça do Brasil. Foi um seminário regado a dor, saudade, tristeza, alegrias, indignação, sede de justiça, mas acima de tudo um seminário esperançoso.
O seminário marcou o lançamento do livro “Provocar rupturas, construir o Reino: memória, martírio e missão de Vicente Cañas”, organizado pelo Cimi, e a memória dos 30 anos do assassinato de Kiwxi, como foi batizado pelos indígenas Myky.
“Seu testemunho e coerência de vida nos interpelam e questionam diante do atual contexto sócio-político-econômico em que vivemos. Vivenciamos neste encontro de memória, saudade e partilha momentos celebrativos que nos ajudaram a reavivar nossa fé, esperança e utopia”, afirma a mensagem dos participantes.
O documento também reafirma a necessidade da construção de uma rede em defesa do Bem Viver dos Enawenê-Nawê, povo ao qual Vicente dedicou importante parte de sua vida, e a relevância do novo júri popular “para a garantia dos direitos dos povos indígenas e a segurança para aqueles que, em apoio a esses povos, se colocam ao seu lado contra projetos que põem em risco as vidas, os costumes e as terras indígenas no Brasil”.
MENSAGEM DO SEMINÁRIO Ir. VICENTE CAÑAS, SJ.
“O Colaborador do Reino, necessariamente, será um provocador de rupturas. Vicente Cañas foi este colaborador” (Paulo Suess)
Nós, vindos de Mato Grosso, Roraima, Tocantins, Amazonas, Maranhão, Pará, Rondônia, Acre, Brasília, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Equador, Porto Rico, Paraguai… participantes do CIMI, OPAN, REPAM, Comitê pela Memória, Verdade e Justiça da Amazônia, Casa da Cultura do Urubuí, CEB´s, Jesuítas outras Congregações Religiosas e representantes dos povos Indígenas: Enawenê-Nawê, Rikbaktsa, Kaawyweté (Kayabi), Guarani Kayowá e Myky, nos dias 31 de março, 01 e 02 de abril de 2017, ouvimos os relatos e refletimos sobre os testemunhos das pessoas que conheceram, conviveram, sentiram o assassinato e martírio de Vicente Cañas, há 30 anos. Até os dias de hoje, infelizmente, o crime continua em total impunidade, assim como tantos outros crimes impetrados contra os povos originários.
Durante o Seminário foi feita uma retrospectiva histórica sobre a vida do Ir. Vicente Cañas, que foi assassinado em 06 de abril de 1987, abaixo do lugar chamado Caixão de Pedra, no Rio Juruena, Território Indígena Enawenê-Nawê. Seu corpo foi encontrado, quarenta dias depois, mumificado e preservado, ao lado do barraco que usava como espaço de apoio.
Ele passou a conviver entre os Enawenê-Nawê em 1977, trabalhando pela garantia de seus direitos e pela demarcação de seu território tradicional. Seu testemunho e coerência de vida nos interpelam e questionam diante do atual contexto sócio-político-econômico em que vivemos.
Vivenciamos neste encontro de memória, saudade e partilha momentos celebrativos que nos ajudaram a reavivar nossa fé, esperança e utopia. Os testemunhos das pessoas que conviveram com o Ir. Vicente foram momentos marcantes.
Nesses dias de afirmação do compromisso com a causa indígena, duas questões centrais foram reafirmadas:
– a necessidade das entidades envolvidas com a questão indígena buscarem formas concretas de realizar trabalhos em rede assim como efetivar presença na aldeia Enawenê-Nawê contribuindo para a garantia do bem viver frente às várias ameaças das PCHs, BR 174, mineração e agronegócio.
– a importância de se buscar uma articulação para acompanhar e participar de maneira efetiva no novo júri popular, não apenas para que seja feita justiça no assassinato de Ir. Vicente Cañas, mas naquilo em que esse júri representará para a garantia dos direitos dos povos indígenas e a segurança para aqueles que, em apoio a esses povos, se colocam ao seu lado contra projetos que põem em risco as vidas, os costumes e as terras indígenas no Brasil.
Para manter viva a memória do Ir. Vicente Cañas, durante o Seminário, foi lançado o livro: “Provocar rupturas, construir o Reino: memória, martírio e missão de Vicente Cañas”, organizado pelo CIMI (Loyola, 2017). A Verbo Filmes esteve presente registrando o Seminário e será preparado um documentário em parceria com o CIMI, REPAM e SIGNIS do Brasil.
“Obrigado Ir. Vicente Cañas por deixar-te amassar e germinar pela Amazônia e seus povos. Obrigado por teu túmulo florido, por doar-te todo, por teu martírio e transformação profética, irmão jesuíta, em (Kiwxi) irmão dos índios!” (Fernando Lopez)
Aguaçu, Cuiabá, 02 de abril de 2017
Saiba um pouco mais sobre Vicente Cañas:
Em abril de 1987,um grupo de fazendeiros e pistoleiros chegavam sorrateiramente ao barraco de Vicente Cañas na beira do Rio Juruena, município de Juína (MT). Com pauladas na cabeça e uma facada, assassinaram friamente Vicente, em seu barraco, conforme depoimento de indígenas. Era o sangue de mais um missionário morto por defender a vida e os direitos dos povos indígenas, principalmente suas terras.
Vicente, juntamente com Thomaz Lisboa e alguns indígenas, fizeram contato com os Enawenê em 1974. A partir de então ele esteve com esse povo, sendo os últimos dez anos de sua vida dedicados integralmente aos Enawenê.
“Sim, Vicente estava à frente de seu tempo, de sua Igreja e Congregação e, talvez à frente até do Cimi. Para colocar o martírio de Vicente Cañas no contexto amplo de nossa Ameríndia, quero parafrasear outro santo mártir, Dom Oscar Romero de San Salvador: ‘Alegro-me porque o Cimi é perseguido, justamente por sua opção preferencial pelos povos indígenas e pelo esforço de se encarnar nos desafios dos povos indígenas, na defesa de seus territórios, de seu Bem Viver, de suas culturas e do reconhecimento das poucas leis que protegem seu futuro’”, afirma o presidente do Cimi e Arcebispo de Porto Velho, Dom Roque Paloschi, no prólogo ao livro.
Será um momento forte para animar e reforçar a presença junto aos povos indígenas. “A Vicente Cañas e a todos aqueles que, como ele, fizeram germinar com seu sangue e sua radicalidade a semente da justiça em tantos povos indígenas de qualquer parte do mundo”, afirmam José Terol e José Carrion, autores de “Traslashuellas de Vicente Canãs”.
No ano de 2016 Dom Roque Polaschi entregou Carta ao Papa Francisco denunciando a desesperadora situação dos indígenas brasileiros e a indiferença das autoridades:
Roma, 29 de junho de 2016.
Santo Padre,
Em primeiro lugar, desejo agradecer a confiança pela minha nomeação como arcebispo de Porto Velho-Rondônia na Amazônia brasileira.
Peço a sua bênção e a sua oração para que eu possa viver a missão nos caminhos da simplicidade e humildade, sendo um irmão entre os irmãos e irmãs.
Mas hoje também quero suplicar uma bênção muito especial para uma outra missão que a Igreja do Brasil me confiou: animar e acompanhar missionários e missionárias do Brasil que trabalham junto aos povos indígenas, como presidente do Conselho Indigenista Missionário – CIMI.
Somos profundamente agradecidos pela sua ternura e proximidade com os povos originários do mundo, como sentimos na sua Encíclica Laudato Si, nos encontros na Bolívia, México e em outros pronunciamentos.
Vivemos no Brasil uma situação desesperadora diante do sofrimento dos nossos primeiros habitantes; a indiferença, o avanço dos grandes projetos do agronegócio, a construção da grandes hidrelétricas, a mineração, e a devastação do meio ambiente em general. Isso tudo traz consequências desastrosas aos povos indígenas. A ONU tem denunciado em particular a violência contra os Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Os Guarani Kaiowá tem visto o direito às suas terras ser negado, além de sofrerem repetidas violências de grupos paramilitares e o continuado descaso do próprio Estado. Estudiosos chegam a afirmar haver um genocídio do povo Guarani Kaiowá.
Queremos agradecer o seu apoio ao trabalho da Comissão Episcopal para a Amazônia coordenado pelo seu amigo particular Cardeal Claudio Hummes. Alegra-nos muito o seu carinho para com a REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica e também sua atenção e estima pelo trabalho do CIMI.
Trago aqui o relatório de violência contra os povos indígenas, produzido pelo Conselho Indigenista Missionário. Santo Padre, isso só nos entristece e nos envergonha como brasileiros e cristãos. Mas posso lhe assegurar que há um grande número de missionários e missionárias que vivem martirialmente junto aos povo.
Roma, 29 de junho de 2016.
Com informações da Comunicação das CEBs Regional Oeste II
site : http://cimi.org.br/site
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