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Dom Helder pode ser beatificado durante Congresso Eucarístico Nacional.

“Dois eventos eclesiais amplamente esperados e desejados e que agora se tornam realidade após muitíssimos anos – a beatificação de mons. Oscar Romero (El Salvador) e a abertura, em Olinda e Recife do processo diocesano de beatificação de dom Hélder Pessoa Câmara – representam, para os católicos do hemisfério americano, em particular para os da América Latina (a área geográfica com a maior presença de católicos no mundo) um momento de grande relevância, um verdadeiro momento histórico que presta justiça à fé de muitos povos obstinados nas pegadas de Cristo, frequentemente contra toda esperança.”

Luis Badilla

O processo de beatificação foi encaminhado ao Vaticano pela Arquidiocese de Olinda A Congregação para as Causas dos Santos emitiu o parecer favorável, autorizando o início do processo de beatificação, e Dom Helder recebeu o título de “Servo de Deus”. Após o reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão, ele será proclamado Bem-Aventurado (Beato) pela Igreja. Posteriormente, se houver a comprovação de outro milagre, poderá ser proclamado santo e canonizado. O poema é um dos muitos escritos por Dom Helder Camara, bispo brasileiro que pode ser beatificado nos próximos anos. O processo de beatificação foi encaminhado ao Vaticano pela Arquidiocese de Olinda e Recife, que já está se preparando para o XVIII Congresso Eucarístico Nacional, que acontecerá em novembro de 2020.

A expectativa é que a beatificação aconteça durante o Congresso Eucarístico. Em entrevista à rádio 9 de Julho, Monsenhor José Alberico, Secretário Geral do Congresso Eucarístico, informou que a fase diocesana está prestes a ser concluída [dia 16 de dezembro], após três anos da abertura do processo.

Ele falou também sobre a preparação para o Congresso que terá como tema “Pão em todas as mesas” e sobre o testemunho do Bispo. “Dom Helder foi um homem eucarístico. Sabemos o quanto ele vivia em ação de graças e fazia com que a Eucaristia fosse o centro de sua vida”, afirmou o Monsenhor.

VIGÍLIA

Antes da celebração eucarística que Dom Helder presidia pela manhã, ele acordava para rezar e se fortalecer diante do Santíssimo Sacramento. Ele mesmo chamava aqueles momentos de vigílias.  “Minha única escravidão é o despertador, que me desperta para a vigília”, costumava dizer Dom Helder, que se levantava todos os dias em torno das 4h para rezar.

“É na vigília que se inicia a celebração da Eucaristia que se prolonga por todos os embates do dia. Pai, se possível continua a permitir que a Missa seja sempre a primeira. Seja preparada pela Vigília e se estenda ao dia inteiro”, afirmava Dom Helder.

Atualmente, o quarto onde dormia Dom Helder, anexo às dependências da Igreja das Fronteiras, em Recife (PE), pode ser visitado. O local é mantido pelo Instituto Dom Helder Camara, que reuniu além de objetos pessoais, escritos e manuscritos do Bispo, reportagens e livros sobre sua vida e obra.

HISTÓRIA

Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará. Filho de João Eduardo Torres Câmara Filho, jornalista e crítico teatral, e de Adelaide Pessoa Câmara, professora primária. De família numerosa, Helder teve 12 irmãos.

Recebeu a primeira Eucaristia aos 8 anos de idade e aos 14 entrou no Seminário da Prainha de São José, em Fortaleza, onde fez o curso preparatório, e depois cursou Filosofia e Teologia. Foi ordenado sacerdote aos 22 anos, sendo necessária uma autorização especial de Roma para a sua ordenação.

Em 11 de abril de 1964, foi nomeado arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, tendo assumido no dia seguinte. Na ocasião, escreveu: “Ninguém se escandalize quando me vir frequentando criaturas tidas como indignas e pecadoras. Quem não é pecador? Quem pode jogar a primeira pedra? Nosso Senhor, acusado de andar com publicanos e almoçar com pecadores, respondeu que justamente os doentes é que precisam de médico. Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, antirreformistas ou reformistas, antirrevolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa ou de má fé. Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno”.

Dom Helder ficou à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife até 10 de abril de 1985, quando – por atingir a idade limite de 75 anos – foi substituído por Dom José Cardoso Sobrinho. Dom Helder morreu em sua casa, no Recife, em 27 de agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja Catedral Santíssimo Salvador do Mundo, em Olinda (PE).

O Bispo exerceu a função de Secretário Geral da CNBB, inclusive durante o Concílio Vaticano II (1962-1965). Padre José Oscar Beozzo, em entrevista publicada na Coleção Obras Completas de Dom Helder Camara, explicou que Dom Helder mantinha-se em silêncio durante as assembleias, mas participou ativamente do Concílio Vaticano II como articulador e atendendo jornalistas de veículos de comunicação de todo o mundo. “No Concílio Vaticano II, Dom Helder cumpriu um duplo papel, de animador e incentivador de propostas e iniciativas proféticas, e de articulador incansável da maioria conciliar”, afirmou Padre Beozzo, historiador.

Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Helder recebeu vários prêmios internacionais, como o Martin Luther King, nos Estados Unidos, em 1970, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, em 1974. Ele é autor de 35 livros, incluindo os 13 volumes das Obras Completas, a maioria composta de ensaios e reflexões sobre o terceiro mundo e a Igreja.

Por Nayá Fernandes

(Colaborou: Padre Edemilson Camargo/rádio  9 de Julho) Com informações de instituto Dom Helder Camara e Coleção Obras Completas de Dom Helder Camara
Fonte: Jornal O São Paulo.

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