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Festa de Todos os Santos –

Leituras: Ap 7,2-4.9-14 – Sl 23 – 1Jo 3,1-3 – Mt 5,1-12a

Por:Quininha Fernandes Pinto

Comemorada no dia 1o de novembro, celebramos liturgicamente neste domingo, a Festa de Todos os Santos. No princípio, a Bíblia reservou a Javé o título de “Santo”, palavra que tinha então o significado muito próximo ao de “sagrado” e Deus é o “Outro” tão transcendente e tão longíquo que o ser humano não pode pensar em participar da sua vida. Este Deus chamava o povo à santidade, e, por meios legais e práticas de purificação exterior, ele a tentava alcançar. Mas logo começaram a tomar consciência da insuficiência de tais procedimentos. Jesus – o Senhor – irradia para nós, a santidade de Deus, seu Pai e nos transmite essa santidade pela sua vida, ações e pelo seu evangelho. Vemos pelos Seus ensinamentos que a santidade não é fruto do esforço humano, de um esforço que procura alcançar a Deus com suas forças e até com heroísmo, mas ela é um dom do amor de Deus e resposta humana à sua iniciativa. Na festa que hoje celebramos – Todos os Santos – o evangelho de Mateus nos oferece uma das mais belas páginas das Sagradas Escrituras e, mais que uma simples introdução, é uma síntese do programa de Jesus: o Sermão da Montanha, conhecido também como Bem-aventuranças. São um retrato de Jesus… Falar de santos, santas e santidade, deve ser, acima de tudo, refletir sobre o autêntico seguimento de Jesus de Nazaré, e isso só é possível, quando temos certeza do seu projeto de sociedade e do seu programa de vida. O evangelho de hoje nos dá o roteiro para chegarmos à santidade e encontrarmos a felicidade.

Importante recordar que as bem-aventuranças não são sugestões, mas exigências radicais que devem ser vividas em sua totalidade. Não se pode escolher uma ou outra. Só tem sentido e valor quando vividas por completo, por isso, é desafiante ser discípulo/a de Jesus. As bem-aventuranças desconstroem os nossos parâmetros de felicidade; colocam como principais protagonistas “os últimos” e apresentam como alegria e felicidade o que o mundo detesta, abomina e esconde. Como entender a primazia dos pobres, dos que sofrem, dos que têm fome e sede de justiça? Como aceitar que é alegria colocar-se ao lado dos que sofrem, dos que são injustiçados, dos que são perseguidos… e ainda viver isso como promoção da paz?Talvez a primeira bem-aventurança seja a que provoca maior espanto, mas entendê-la ajuda a compreender as outras oito. Ela tem gerado controvérsias de interpretação. A preferência de Jesus pelos pobres é inquestionável. Alguns, para suavizar a sua interpretação, afirmam que Jesus não está aqui se referindo à pobreza material, à carência de bens, mas refere-se a um sentimento, que também os ricos podem possuir. É uma interpretação equivocada e absurda, quando confrontada com a postura de Jesus. Ele nos cobra o desapego aos bens e nos recorda a profecia de Sofonias – cf. Sf 3,11-13 – quando apresenta o “resto de Israel” como um povo pobre e humilde que buscará refúgio e consolo no Senhor, já que nada tiveram, aqui, por causa da ganância e da injustiça de sistemas que os fabricam e os mantém como massa de manobra para o seu enriquecimento. Santidade e alegria significam, portanto, lutar em defesa da justiça devida aos pobres! O programa de felicidade e de salvação que Jesus nos oferece é um paradoxo diante da proposta de felicidade que o mundo impõe como oferta: luxo, riqueza, poder, influência, prestígio e glória! Jesus nos convoca ao discipulado, trilhando caminhos que vão na contramão da nossa História. Ele nos solicita uma adesão radical ao seu programa de inclusão e defesa dos mais fracos, dos mais pobres, dos excluídos que sofrem e choram pelas injustiças cometidas pelos poderosos deste mundo. Ele exige o cumprimento do seu programa para alcançarmos, enfim, a santidade. Bem aventurado é sinônimo de feliz, de santo! A sutileza do Evangelho desta festa consiste em entender que as situações descritas não são objeto de santidade: fome, pobreza, injustiça, injúria, perseguição, lágrimas são expressão do mal , do não-Reino de Deus, mas pessoas que não se deixam derrotar por elas, são santas e bem-aventuradas. Se nos identificamos com as práticas lembradas por Jesus nesta belíssima página de Mateus, podemos então celebrar hoje o “nosso dia”, pois não são santos apenas os que vemos nos nossos altares, que foram canonizados pela Igreja, mas todos aqueles/as que anonimamente fazem o bem, defendem os pobres, lutam pela justiça… que o Papa Francisco chamou de forma tão familiar de “santos ao pé da porta” na sua Exortação Apostólica “Gaudete te Exsultate” – sobre o chamado à santidade no mundo atual, traduzida popularmente por “santos de casa”… Nesta festa, recuperemos a nossa fé no céu. E como nos diz o amigo teólogo Pagola: “Acreditar no céu… é rebelar-me com todas as minhas forças a que está imensa maioria de homens, mulheres e crianças, que só conhecem nesta vida miséria, fome, humilhação e sofrimentos, fique enterrada para sempre no esquecimento”. Amém. Amem e sejam santos.Bjs no coração.Quininha

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