23ºGrito dos Excluídos POR DIREITO E DEMOCRACIA A LUTA É TODO DIA
Rumo ao 14º Intereclesial das CEBs, em comunhão com a Igreja no Brasil e animados pelo Lema “Eu vi, ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo”, a comunidade londrinense foi para as ruas gritar por Direito e Democracia. Participaram representantes da Igreja Católica, Igreja Anglicana, Movimentos Sindicais e Sociais, Coletivos de Luta por Moradia e Direito das Minorias, Defesa de Direitos e Defesa da Juventude movidos pelo grito comum a todos os participantes: Vida em Primeiro Lugar e Nenhum direito a menos.
O Grito dos Excluídos congregou diversas forças proféticas londrinenses, que no cotidiano de suas lutas buscam a superação dos Desafios de Ser no Mundo Urbano, no qual predomina o poder do mercado e do Ter, formando uma multidão de excluídos.
Para animar as comunidades fazendo ecoar esse grito e fortalecer luta para os dias que virão, segue a oportuna reflexão de Mauro Lopes publicada no Blog Caminho pra Casa em 07/09/2017
Grito dos Excluídos: Os milionários tomaram todo o poder para si; os pobres têm direito sagrado à rebelião
O Deus da vida abençoa os pobres e sua rebelião, a sua sublevação e anima seu projeto de solidariedade e de partilha.
Celebrar o Dia da Independência na perspectiva do 23º Grito dos Excluídos só é possível a partir de uma leitura correta do fato que hoje define o país: os ricos tomaram de assalto todo o poder institucional do Brasil no processo que culminou no golpe de Estado de um ano atrás. Não há espaço para os pobres no Poder Executivo, no Poder Legislativo, no Poder Judiciário ou no quarto poder, a Imprensa dita “tradicional”. Tudo é para os ricos; aos pobres, nem as sobras do banquete.
As últimas semanas foram fartas em expressões simbólicas, condensadas, verdadeiras lições aos pobres sobre o que foi feito do poder institucional do país. (…)
É uma teia. Banqueiros, empresários, parlamentares e altos funcionários do Legislativo, juízes e a elite do Judiciário, ministros, secretários e outros membros da cúpula do Executivo, promotores, procuradores, delegados, altos executivos, jornalistas, grandes proprietários de imóveis urbanos e rurais… Todos eles, cerca de 2 milhões de pessoas, convergem para um único e grande interesse comum: embolsar os recursos do Estado e todas as riquezas do país para si e impedir os demais 206 milhões de brasileiros e brasileira de terem acesso a qualquer fatia desses recursos e riquezas.
Eles têm um programa urgente: liquidar os direitos trabalhistas e a Previdência Social, privatizar tudo o que possa ser rentável, entregar o solo e o subsolo do país ao capital internacional, cortar todos os investimentos sociais que eles definem como “privilégios indevidos” aos pobres, vetar o acesso de pobres, especialmente negros e indígenas à Universidade e garantir que os recursos do Estado sejam prioritariamente direcionados aos juros da dívida pública, toda ela nas mãos daqueles 2 milhões de pessoas, os rentistas.
Para executar este programa, os milionários que controlam o poder de Estado mobilizam-se num ativismo ímpar. O Legislativo aprova as leis; o Executivo dá consequência a elas ou endereça as medidas de interesse dos milionários para aprovação no Congresso, num jogo a quatro mãos; o Judiciário garante a cobertura legal e sobretudo que toda a contestação ao governo dos ricos seja criminalizada -para isso age, mantendo Rafael Braga, pobre, preto e inocente na cadeia, soltando os assassinos de sem terra e indígenas, garantindo a impunidade dos policiais-capitães do mato que massacram os pobres, perseguindo as organizações populares como o MST, o CIMI, o MTST e outras. A imprensa garante que a verdade seja mantida à distância da população e dissemina a versão que garante o poder e a hegemonia do seu grupo.
Qualquer ação que conteste o poder dos ricos é imediatamente definida como “antidemocrática” ou “atentado à democracia” e combatida, reprimida ferozmente. A isto reduziu-se a democracia, que um dia se pretendeu construtora de consensos e canal para gestão de conflitos e hoje é mera capa para o governo monocrático dos ricos.
O que cumpre aos pobres?
Resistir. Organizar-se. Sublevar-se. Inspirar-se nos valentes dos quilombos que vieram antes, nos libertários de todos os tempos; cultivar a esperança. É hora de acorrer às organizações pobres dos pobres, é hora de tomar coragem para ir às ruas, de atuar em redes de solidariedade e colaboração.
Há vida em abundância, escondida sob a inundação das mídias e poderes dos ricos. Nas comunidades de base que começam a reunir gentes de todos os credos nas periferias, nos núcleos do MST, nos sindicatos, no MTST, nas organizações multirreligiosas como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Pastoral Carcerária, nas iniciativas de economia criativa, ecológica e horizontal vinculadas à agroecologia como a Teia dos Povos e as práticas que se disseminam nos acampamentos do MST.
Há iniciativas localizadas e nacionais. Mas há também as regionais e globais, como o Encontro Mundial dos Movimentos Populares convocado a cada ano pelo Papa, o Fórum Social Mundial (FSM), a Via Campesina ou o Movimiento de Afectados por Represas en América Latina (MAR).
São dois projetos. O do deus-dinheiro. E o do Deus da vida. O deus-dinheiro dos ricos tomou o poder no Brasil. O Deus da vida abençoa os pobres e sua rebelião, a sua sublevação e anima seu projeto de solidariedade e de partilha.
Os ricos tomaram o país para si. Farão de tudo para impedir os pobres de mudarem a história.
Aos pobres cabe mudá-la.
Por Mauro Lopes
Leia o artigo na integra em CAMINHO PRA CASA Blog do Mauro Lopes
Fotos do Grito dos Excluídos Londrina Pr
Mateus Pallisser (Comunicação Intereclesial) e Ivo Ayres (rede social)
“Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e regerem, com humildade e convicção, este processo de mudança. Na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 Ts” (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais.” (Papa Francisco aos MPOs, na Bolívia, 2015)