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II OFICINA DE LITURGIA RUMO AO 14º INTERECLESIAL DAS CEBs

Com as equipes de liturgia, ornamentação e animação do 14º intereclesial das CEBs

Dando sequência ao processo de preparação ao  14º Encontro Intereclesial das CEBs,  acontecerá nos dias 26 e 27 de agosto, na cidade de Londrina,  a ll OFICINA  DE LITURGIA,  que contará com a assessoria da Rede Celebra, reafirmando a opção das CEBs por uma liturgia viva, orante, participativa e Inculturada, que brota do chão da vida, sempre aberta ao diálogo ecumênico, na solidariedade com os pobres e excluídos, e que expresse à mística e a espiritualidade das comunidades eclesiais de base.

Para esta oficina  é imprescindível a participação dos representantes dos  Regionais,  indicados para comporem a equipe Ampliada de Liturgia, e que serão os colaboradores  na  reflexões das grandes regiões, na elaboração e    realização das orações da manhã durante o Inter, bem como fazer circular informações acerca da contribuição e suporte da equipe local, caso  as grandes regiões necessitem.

A Equipe de Liturgia do 14º Intereclesial divulgou as datas e as grandes regiões responsáveis pela Oração da Manhã durante o Inter:

-24/01 /18 = Grande Região  Oestão –  Tema: o Ver da Conjuntura

– 25/01/18= Grande Região  Nordestão – Tema: o Olhar do Julgar

– 26/01/18= Grande Região  Nortão – Tema: as Perspectivas do Agir

– 27/01/18 = Encontro das Grandes Regiões, cada grupo fará sua oração

Para que a II Oficina de Liturgia, as reflexões nas Grandes Regiões e a organização da Oração da Manhã que acontecerá durante o 14º Intereclesial possam alcançar exito, e acima de tudo ser momento de louvor ao Criador e comunhão das comunidades com o Divino,   é importante que se faça uma boa leitura das reflexões e acordos estabelecidos na I Oficina de Liturgia, juntamente com a Rede Celebra que aconteceu em setembro de  2016.

O  Secretariado já encaminhou correspondência via email, com as orientações práticas  desse momento. Para maiores informações entre em contato: cebslondrina2018@gmail.com . Fiquem atentos ao prazo de inscrição.

Segue reflexões na íntegra: 

  1. Liturgia é todo trabalho feito pelo povo e a serviço do povo. Assim o próprio trabalho se torna serviço ao Deus da vida. Mas liturgia é também a ação gratuita da comunidade cristã, feita de palavras e símbolos para expressar a sua fé vivida no dia a dia em louvor a Deus. É a liturgia-celebração, que se expressa em linguagem simbólica, sinal visível de uma realidade invisível. Tomemos como exemplo o fogo. Em si ele é apenas fogo. Mas quando, na noite da páscoa, acendemos a fogueira e dançamos em torno dela, aí o fogo adquire um sentido que vai além dele. E quando acendemos o círio neste fogo novo, no meio da escuridão da noite, então o que era apenas fogo ou vela, agora é o símbolo da páscoa. O círio aceso evoca a luz de Cristo rompendo a escuridão do mundo. Este sentido aparece nas palavras que acompanham o acendimento do cirio: “a luz do Cristo dissipe as trevas do coração e da mente”. Em vez de falar de símbolos, mais adequado é falar de  ações simbólicas que envolvem símbolo, gesto e palavras.
  2. As ações simbólicos se ordenam em ritos. Emboraesteja desgastado em nossa cultura ocidental, o rito é um dado antropológico fundamental. A cultura moderna, racionalista, tem dificuldade de valorizar a mediação simbólico-ritual. O rito escapa do domínio da razão e por isso é rejeitado. Apesar desta negação, o rito reaparece nas sociedades modernas como expressão do “sagrado” ou do profano e mostra toda a sua importância. Nas religiões os ritos expressam em linguagem simbólica o sentido da vida e da morte.
  3. A palavra “rito” vem do latim ritus que quer dizer ordem: Um rito é um conjunto de ações ordenadas com determinada lógica interna. Rito tem a ver com ritmo, com rima, com rio, sugerindo que a ordem não é rígida, que ela obedece ao critério da harmonia, dos sentidos, e que flui como um rio (Terrin)[1]. Rito também tem a ver com arte [danças, música, poesia…].
  4. Rito não apenas responde a uma necessidade antropológica, mas é também um imperativo bíblico-teológico. No centro de nossa fé encontramos o mandamento de Jesus: “Façam isto para celebrar a minha memória”. Façam!
  5. O Rito é um consenso comunitário. É fruto de um processo, que ao longo do tempo agrega expressões e sentidos a respeito da crença de um grupo. Por isso ele não pode ser inventado simplesmente cada vez que a comunidade se reúne. A repetição de palavras e símbolos com determinado significado, dentro de certa ordem estabelece uma rotina que é benéfica e necessária, para que as pessoas se sintam “em casa” e possam mergulhar no mistério que o rito evoca. Em nosso caso, o rito expressa a fé da Igreja, cujo fundamento é Cristo, seu mistério pascal. Mesmo quando construímos um roteiro mais livre, como acontece nos Intereclesiais, é importante levar em conta referências do consenso comunitário. O que faz a novidade da celebração não é a invenção de coisas diferentes, mas a vida que é sempre nova, recordada à luz da novidade perene do mistério que se manifesta em cada celebração. Fundamental é superar o descompasso entre o viver e o celebrar, de modo que a liturgia leve em conta “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem” [GS 1]. Afinal, a liturgia que celebramos, com estilos diferentes de acordo com as diferentes assembleias, é sempre a liturgia da Igreja.
  6. O caráter comunitário da liturgia requer um mínimo de estrutura que transpareça a lógica teológica e espiritual na ordem dos elementos. Na ceia de Emaús há uma estrutura clara: a união dos discípulos no “caminho” confiantes na sua promessa: “onde dois ou mais se reúnem em meu nome ai estarei” [Mt 18,20]; a palavra do Ressuscitado em confronto com as Escrituras iluminando os acontecimentos e reanimando os corações; o gesto de tomar nas mãos o pão, dizer a bênção e repartir, recordando as tantas ceias de Jesus com os seus, sobretudo a sua última ceia, abrindo os olhos dos discípulos e reconduzindo-os em missão ao coração da Metrópole.
  7. A nossa missa guarda a mesma estrutura da ceia de Emaús. A IGMR, 28 resume assim: “A missa consta, por assim dizer, de duas partes, a saber    Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística, tão intimamente unidas entre si que constituem um só ato de culto. De fato, na missa se prepara tanto a mesa da Palavra de Deus, como a do corpo de Cristo, para ensinar e alimentar os fiéis. Há também alguns ritos que abrem e encerram a celebração”.  a) Os ritos iniciais expressam que é o Senhor quem reúne o seu povo e este se apresenta. O primeiro elemento é o canto, uma invocação, não um comentário. Os demais elementos se ordenam para juntar as pessoas, unir vozes e corações, passar da condição de indivíduos para o privilégio de ser povo de Deus, corpo de Cristo.  A oração coleta, conclui este momento inicial de oração do povo diante de Deus que agora está pronto para ouvir a sua Palavra. Nenhuma celebração, por menor que seja, pode eximir-se da Palavra de Deus que não é apenas meio para chegar ao sacramento, mas ela própria é “sacramento”, “pela ação íntima do Espírito Santo que a torna operante no coração dos fiéis” (VD 52. Cf. OLM 9), “pão da vida para os fiéis” como afirma Dei Verbum 21. Proclamada e ouvida é atualizada na homilia e repercute na vida, na adesão e na prece do povo reunido. E o Cristo que faz arder o coração enquanto fala em sua Palavra, se faz comunhão no pão e no vinho em torno da mesa. Comida e bebida em ação de Graças, como ele fez em sua ultima ceia, memória de sua morte e ressurreição, como fizeram os discípulos de Emaús. Abençoado o povo é enviado em missão.  b) Esta mesma estrutura observa-se nos sacramentos: Ritos iniciais, liturgia da Palavra, Oração e gesto sacramental, ritos finais. Também na celebração dominical da Palavra. Insiste-se sobre o Rito de ação de graças, tão próprio do domingo, como 3º momento da celebração. Outra referência é o Ofício Divino, especialmente em sua versão inculturada, o Ofício Divino das Comundiades: organiza os mesmos elementos obedecendo a uma sequencia própria que tem uma lógica interna: Chegada e abertura, recordação da vida e hino. Louvor a Deus mediante Salmos e cânticos bíblicos. Palavra proclamada. Cântico Evangélico ponto alto do louvor, à luz do Cristo sol nascente e Senhor da vida.  Preces, pai nosso e oração. Bênção.
  1. “Rito” tem a ver com identidade. Por de traz de um rito, há sempre uma memória. Entre os indígenas aprender o rito é aprender a tradição dos antepassados, é aprender os mitos que explicam a origem e o sentido da vida e do mundo. Para as comunidades negras a fidelidade ao rito, teve papel importante na conservação da identidade como força de resistência. Na tradição judaica a liturgia é o permanente lembrar dos feitos de Deus na caminhada do povo. Os salmos estão repletos destas memórias. Na sua última ceia Jesus disse: “Façam isto em memoria de mim”. Na Ceia de Emaús, a “memória” foi, antes de tudo, a recordação dos “acontecimentos” recentes, sobre os quais, a memória dos acontecimentos distantes ajudou a fazer a “leitura pascal da vida”… Em nossas celebrações a recordação da vida, constitui o chão da escuta, da meditação e da oração.
  2. Na base da memória está a aliança que Deus fez com o povo desde Abraão, passando por Moisés e pelos profetas, até se cumprir plenamente em Jesus. “Este é o sangue da nova e eterna aliança”, diz Jesus em sua última ceia. Toda vez que a comunidade se reúne em memória do ressuscitado, renova-se a aliança de amor de Deus conosco. Eis porque na liturgia nunca falta a Palavra que recorda as ações de Deus e propõe de novo a sua aliança. A liturgia da Palavra é um diálogo entre os parceiros da aliança: Deus fala na Palavra da Escritura proclamada e atualizada e o povo acolhe e responde no canto dos Salmos, na profissão de fé, nas preces, no silêncio. Toda a Liturgia é resposta orante à Palavra: as músicas, as orações tipo coleta, as bendições, a oração eucarística.  Na celebração de Emaús a mesma Palavra do ressuscitado que anima os discípulos no caminho se expressa em ação de graças ao redor da mesa. Toda a liturgia é ação que renova a aliança entre Deus e seu povo.
  3. O sujeito da ação é o povo e é o próprio Deus. Enquanto ação do povo, o sujeito da oração é o “NÒS” eclesial. Mesmo quando aparece “EU” como no cântico de Maria e nos salmos, este eu tem dimensão coletiva. Portanto, não cabe subjetivismo, nem projeção individual do ego ou exibicionismo, ou qualquer tipo de clericalismo. Na Ceia de Emaús, o protagonismo é da comunidade em torno do ressuscitado. Enquanto ação de Deus, quando expressamos o que cremos na celebração, Deus, pelo seu Espírito que “faz novas todas as coisas”, realiza em nós o que celebramos.
  4. Por isso, uma das maiores exigências da liturgia é a participação do povo. Participação no mistério, “mediante ritos e as preces” [SC 48]. Paulo VI fala de uma participação ‘corporal e espiritual’,[2] envolvendo todo o ser com suas dimensões corporal, mental, afetiva e espiritual. Os ministérios e serviços não tem razões em si mesmos mas se justificam em função da participação ativa, consciente, plena e frutuosa, externa e interna. De fato, a dimensão comunitária não exclui a dimensão pessoal que requer silêncio e intimidade. Podemos ter celebrações animadas, com muita participação, sem ser show. São animadas no verdadeiro sentido da palavra: animação a serviço do “Animador”, que na origem deu “alma” ao barro [Gn 2,7] e que, reentrando nos ossos ressequidos os fez reviver [Ez 37,21-10]. Animação à semelhança do sopro do Ressuscitado reanimando a comunidade dos discípulos e discípulas no meio das contradições da vida. Afinal, “é o Espirito que habita em nós que faz o corpo dançar” [Romano Guardini].
  5. A liturgia, manifesta e modifica a Igreja [SC 26]. A finalidade última de uma celebração é expressar a fé, a utopia do Reino, e ao mesmo tempo ser uma fonte de inspiração para uma conduta de vida de acordo com o evangelho. Assim foi para os discípulos de Emaús: de um lado se manifesta na celebração a dúvida, a busca de nova alternativa no caminho de Jesus, o discernimento. De outro lado, a palavra do ressuscitado e o seu gesto de repartir o pão ressignificam a sua fé em Jesus e os reanima para a missão. Por isso é tão importante a qualidade dos textos, das músicas, dos símbolos… Por exemplo, o espaço. A simples disposição das cadeiras em circulo, em vez de enfileiradas, expressa melhor “o novo jeito de ser Igreja” e educa em um estilo de vida comunitário e circular. A música inserida na ação ritual [ SC 112] com uma letra poética e evocativa, como o são os salmos, e uma melodia em simbiose com o texto, evangeliza sempre de novo a comunidade.
  6. Outro imperativo da liturgia é a abertura ecumênica. Sem negar a identidade católica, é possível dar ênfase aos elementos que depõem a favor da unidade e evitar os que reforçam separações. Se isso vale para o cotidiano das nossas reuniões litúrgicas, mais ainda para as celebrações dos intereclesiais com uma assembleia tão diversificada. Se as CEBS querem ser um novo modo de ser Igreja tem que ter uma abertura universal, cuidando para que todas as celebrações tenham uma linguagem amorosa e respeitosa com as outras tradições. Cuidado especial merece a celebração ecumênica, com a participação de diferentes confissões cristãs e até, com representantes de outras religiões, especialmente as de tradições afros e indígenas. Mais que ecumênica, trata-se de uma celebração inter-religiosa ou macro ecumênica.

[1] Cf. TERRIN, Aldo Natale. O Rito. São Paulo: Paulus,  p. 18-19.

[2] Motu Proprio de 25 de janeiro de 1964, In: DOCUMENTOS do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), 2. ed., São Paulo, Paulus, 2002, p. 83.

Leoni Alves Garcia- Comunicação do Intereclesial

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