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NOSSA SENHORA NO CARNAVAL?

Por: Quininha Fernandes Pinto

Perguntaram-me – já incluindo sua opinião na pergunta – se eu achava certo o desrespeito de misturar religião com carnaval, a ponto de fazerem fantasias de Nossa Senhora e sair dançando pela avenida…Este ano, também em outros, visualizamos várias fantasias sobre a Mãe de Deus, Nossa Senhora e algumas sobre a Nossa Mãe Negra Aparecida. Andei pesquisando o enredo dessas escolas e em todas, notadamente, havia um sentido de súplica, de agradecimento, de confiança, de entrega dos males, do sofrimento pelo qual passa o nosso povo: pobreza, racismo, uma pérfida discriminação que exclui e mata. Percebi que independente da fé intuída ou claramente manifestada pela escola, todas acreditam e reverenciam o poder desta mulher! A ela confiam ou agradecem o cuidado, o zelo, a proteção e o amor para com seus filhos, já que todos a chamamos de Mãe. Acredito que isto se deve à identificação com a sua história de sofrimento, discriminação, perda por assassinato do filho, morte por sua defesa dos pequenos, pobres e oprimidos… A história do nosso povo remete à história de Maria e seu Filho: * viveu numa sociedade preconceituosa e opressiva, refém do político do Império Romano! * conviveu com a pobreza e os pobres, que como hoje, são excluídos de seus direitos e explorados por excesso de tributos e deveres! * acompanhou o filho, mesmo sem o compreender, nas suas andanças pelas aldeias pregando o bem, curando os doentes, devolvendo a vida aos caídos e mortos! * sofreu a perseguição que os poderosos e religiosos lhe dirigiram! * viu seu Filho ser açoitado, morto, crucificado, mantendo-se firme, de pé, aos pés da sua cruz! E nessa sofrida dinâmica vivida por ela e seu Filho, ainda nos deu um imperativo conselho: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” – Jo 2,5 -. Refletindo sobre esse olhar, eu entendo a presença de Maria, repetidamente, em várias escolas do Carnaval 2022. Parece ter sido consenso que a temática do sofrimento vivido pelo povo brasileiro, sofrimento este caracterizado pelo racismo, pobreza, doenças/pandemia, intolerância religiosa, fobias sexuais, injustiça e corrupção, sobressaiu a olhos vistos por todas as escolas. Foi uma voz uníssona. A reflexão nos conduz a felizes constatações na perspectiva teológica: Maria é amada e respeitada pelo povo brasileiro e esse amor ultrapassa os muros das fechadas ortodoxias religiosas. O sincretismo religioso é um elemento cultural que precisa ser estudado e aceito. Os católicos terão que pensar em “dividir” a nossa Nossa Senhora com os irmãos das religiões de matriz africana, com os evangélicos, espíritas e outras possíveis denominações que também nela confiam, também a amam, também sabem que podem contar com a sua intercessão junto ao Filho Jesus! Maria não é propriedade dos católicos! Não vi falta de respeito na sua caracterização carnavalesca. Vi fé, confiança e muito amor por ela! Trazer para a avenida figuras e temas religiosos deve nos encher de alegria, pois na teologia nos esforçamos para integrar as diversas realidades que o dualismo platônico separou. Uma delas é sagrado/profano. Neste Carnaval houve um grande avanço nesse sentido. Fiquemos felizes por termos visto na avenida a Boa Nova de Jesus cantada e dita de outras formas, diferentes das tradicionais que julgamos corretas e imexíveis. Que o respeito, o amor e a justiça sejam sempre a tônica dos nossos carnavais e bem-vindos todos os personagens que podem nos ajudar nesta luta. Maria, nossa Mãe, a Mãe Negra com certeza entendeu que, cada um a seu modo, estamos tentando fazer o que o seu Filho disse. Bjs 😘 no coração ❤️Fotos tiradas da Internet.

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