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O Bem Viver, expressão de Justiça Socioambiental na Amazônia brasileira

 “para nós indígenas, Bem Viver significa viver em harmonia com toda a criação porque entendemos que a Terra é nossa Mãe, geradora de toda a vida. Assim, nosso respeito se estende igualmente para todos os seres que habitam o planeta” 

José Luiz Kassupá

 O controle sob a Amazônia é uma das grandes lutas que a sociedade atual enfrenta e onde se faz presente interesses nem só políticos como, acima de tudo, econômicos. As grandes corporações empresariais internacionais colocaram seu olho num dos grandes pulmões do mundo e estão dispostas conseguir seus objetivos custe o que custar.

Quem sofre as consequências desta situação são os habitantes da região, especialmente os povos tradicionais, quem secularmente estiveram presentes neste lugar e que aos poucos estão sendo excluídos da tomada de decisões e no repartir do bolo, para quem muitos não querem deixar nem as migalhas, quando na verdade lhes pertence a totalidade.

Diferentes instituições que têm relação com a Igreja católica no estado de Rondônia, têm se reunido com o objetivo de aprofundar na reflexão sobre a justiça socioambiental na Amazônia, através de um seminário que quis ser instrumento que ajude a entrar cada vez mais na dinâmica do Bem Viver.

O seminário é consequência dos compromissos assumidos pela Rede Eclesial Pan Amazônica (REPAM), o que mostra que este trabalho em rede que a REPAM propõe é o caminho para poder tornar realidade um trabalho que ajude na defesa da Amazônia e dos povos que a habitam.

Não podemos esquecer que Rondônia é um dos estados brasileiros onde a violência no campo alcança o mais elevado índice de assassinatos, muitas vezes com a cumplicidade e omissão da parte dos poderes públicos e das forças de segurança, que não duvidam em se pôr ao serviço dos poderosos. Em 2016, as estatísticas dizem que no estado foram registrados 21 dos 61 assassinatos cometidos no Brasil em consequência da violência no campo.

Segundo Maria Petronila Neto, da Comissão Pastoral da Terra-CPT, “a estrutura de poder atual está intimamente ligada ao acúmulo do capital e à manutenção da propriedade privada”. A consequência desta situação, em sua opinião, é “a destruição da população empobrecida, das culturas dos povos tradicionais e do meio ambiente”.

Diante desta realidade destruidora, o seminário tem servido para conhecer experiências de comunidades indígenas que mostram que é possível assumir o modelo de ecologia integral que propõe a Laudato Si, e que no meio dos povos tradicionais latino americanos se conhece como Bem Viver.

José Luiz Kassupá, dizia aos presentes que “para nós indígenas, Bem Viver significa viver em harmonia com toda a criação porque entendemos que a Terra é nossa Mãe, geradora de toda a vida. Assim, nosso respeito se estende igualmente para todos os seres que habitam o planeta”. Partindo deste pensamento questionava o modo de vida ocidental, afirmando que “os não indígenas não compreendem esse modo de viver porque não respeitam sequer a vida humana e submetem a maioria às vontades de uma minoria gananciosa”.

Diante desta realidade, que desafia a humanidade a assumir modos de vida alternativos, é preciso agir, como recolhe a mensagem final do seminário, pois “somente através da união, solidariedade e organização construiremos novas relações geradoras de Vida Plena”.

Foto de Luis Miguel Modino

Mensagem conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Ecumenico Bartolomeu neste Dia Mundial de Oração pela Criação

A narração da criação oferece-nos uma visão panorâmica do mundo. A Sagrada Escritura revela que, «no princípio», Deus designou a humanidade como cooperadora na guarda e proteção do ambiente natural. Ao início, como lemos no Génesis (2, 5), «ainda não havia arbusto algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara ainda, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para a cultivar». A terra foi-nos confiada como dom sublime e como herança, cuja responsabilidade todos compartilhamos até que, «no fim», todas as coisas no céu e na terra sejam restauradas em Cristo (cf. Ef 1, 10). A dignidade e a prosperidade humanas estão profundamente interligadas com a solicitude por toda a criação.
«No período intermédio», porém, a história do mundo apresenta uma situação muito diferente. Revela-nos um cenário moralmente decadente, onde as nossas atitudes e comportamentos para com a criação ofuscam a vocação de ser cooperadores de Deus. A nossa tendência a romper os delicados e equilibrados ecossistemas do mundo, o desejo insaciável de manipular e controlar os limitados recursos do planeta, a avidez de retirar do mercado lucros ilimitados: tudo isto nos alienou do desígnio original da criação. Deixamos de respeitar a natureza como um dom compartilhado, considerando-a, ao invés, como posse privada. O nosso relacionamento com a natureza já não é para a sustentar, mas para a subjugar a fim de alimentar as nossas estruturas.
As consequências desta visão alternativa do mundo são trágicas e duradouras. O ambiente humano e o ambiente natural estão a deteriorar-se conjuntamente, e esta deterioração do planeta pesa sobre as pessoas mais vulneráveis. O impacto das mudanças climáticas repercute-se, antes de mais nada, sobre aqueles que vivem pobremente em cada ângulo do globo. O dever que temos de usar responsavelmente dos bens da terra implica o reconhecimento e o respeito por cada pessoa e por todas as criaturas vivas. O apelo e o desafio urgentes a cuidar da criação constituem um convite a toda a humanidade para trabalhar por um desenvolvimento sustentável e integral.
Por isso, unidos pela mesma preocupação com a criação de Deus e reconhecendo que a terra é um bem dado em comum, convidamos ardorosamente todas as pessoas de boa vontade a dedicar, no dia 1 de setembro, um tempo de oração pelo ambiente. Nesta ocasião, desejamos elevar uma ação de graças ao benévolo Criador pelo magnífico dom da criação e comprometer-nos a cuidar dele e preservá-lo para o bem das gerações futuras. Sabemos que, no fim de contas, é em vão que nos afadigamos, se o Senhor não estiver ao nosso lado (cf. Sal 126/127), se a oração não estiver no centro das nossas reflexões e celebrações. Na verdade, um dos objetivos da nossa oração é mudar o modo como percebemos o mundo, para mudar a forma como nos relacionamos com o mundo. O fim que nos propomos é ser audazes em abraçar, nos nossos estilos de vida, uma maior simplicidade e solidariedade.
A quantos ocupam uma posição de relevo em âmbito social, económico, político e cultural, dirigimos um apelo urgente a prestar responsavelmente ouvidos ao grito da terra e a cuidar das necessidades de quem está marginalizado, mas sobretudo a responder à súplica de tanta gente e apoiar o consenso global para que seja sanada a criação ferida. Estamos convencidos de que não poderá haver uma solução genuína e duradoura para o desafio da crise ecológica e das mudanças climáticas, sem uma resposta concertada e coletiva, sem uma responsabilidade compartilhada e capaz de prestar contas do seu agir, sem dar prioridade à solidariedade e ao serviço.

Do Vaticano e do Fanar, 1 de setembro de 2017.

               Papa Francisco       e     Patriarca Ecumenico Bartolomeu

Fonte: www.cebi.org.br

www.repam.org.br

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