Festa da Assunção de Nossa Senhora
Leituras: Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab – Sl 44 – 1Cor 15,20-27a – Lc 1,39-56
Por Quininha Fernandes Pinto, do Regional Leste 1.
Um grande sinal apareceu no céu: uma mulher que tem o sol por manto, a lua sob os pés, e uma coroa de doze estrelas na cabeça – assim Maria é proclamado na antifona que abre a liturgia deste domingo.
A Mulher, adornada de todo o seu esplendor – o sol, a lua e as dozes estrelas, simbolizam o povo de Deus: antes de tudo, o antigo Israel, do qual nasceu Jesus, segundo a carne. Depois o novo Israel, a Igreja, Corpo de Cristo . Um e outro são vítimas das perseguições do dragão, isto é, do mal… o Menino dado à luz pela Mulher, é evidentemente o Messias, visto tanto pela sua realidade histórica como misticamente pelos cristãos.
A aplicação deste trecho do livro do Apocalipse à Maria tem um fundamento tradicional. Santo Agostinho e São Bernardo viram na mulher descrita no texto apocalíptico o símbolo de Maria, embora o autor sagrado não tenha dado este sentido ao seu escrito. A imagem da Arca da Aliança aplicada à Maria é de fácil compreensão: Maria fez do seu ventre a “Arca” que “guardou” e “carregou” Aquele que realmente concretizou a última e definitiva aliança com o Pai.
Maria está no céu em sua integridade humana, porque é sinal e instrumento da nova aliança. A arca continha a Lei e, por ela, Deus respondia aos pedidos do povo; Maria nos oferece Jesus, o proclamador da lei do amor, aquele que realiza a nova aliança da salvação; nele o Pai nos fala e nos escuta.
A festa da Assunção de Maria nos diz que assim como Jesus ressuscitou dos mortos e subiu à direita do Pai, também Maria, depois de concluir o percurso da sua existência na terra, foi levada ao céu. A liturgia nos recorda esta consoladora verdade de fé, enquanto canta os louvores daquela que foi coroada de glória incomparável. Estamos acostumados a ver em Maria uma mulher que se moldou à vontade do Senhor, que disse “Sim” ao seu projeto e, por vezes não percebemos quantos “nãos” ela teve que dizer para que o seu “Sim a Deus” fosse eficaz e redentor. O Evangelho narrado pela comunidade de Lucas nos apresenta a visita de Maria a sua prima Isabel, bastante conhecido por nós. Mas vale lembrar o teor político e subversivo que ele contém e que muito pode nos ajudar a compreender e resistir aos desmandos políticos pelos quais passa a humanidade, no mundo e no Brasil. Maria nos lembra que Deus destrói os injustificáveis desníveis humanos, abate os poderosos de seus tronos e exalta os humildes. Repele aqueles que se apoderam indevidamente daquilo que é de todos e aprova as atitudes levantadas em defesa da promoção do bem comum. Deus transtorna, enlouquece a aristocracia estabelecida sobre o dinheiro e o que isso gera na vida dos mais fracos. Deus cumula, enche de bens os pobres, os famintos, os necessitados e despede de mãos vazias os ricos, os corruptos, instaurando uma verdadeira fraternidade social, isto porque Ele ama a todos – todos são seus filhos – não apenas alguns! -.
A festa mariana da Assunção, hoje celebrada, vem nos lembrar toda a história da salvação, e vem também fazer renascer a nossa esperança num mundo mais justo, mais equânime; vem alimentar as nossas forças, tão fragilizadas pelo abuso de poder dos que o detém, que massacram e tripudiam sobre o povo, ignorando seus direitos, exterminando os povos originários do Brasil, em nome do capital, do lucro, do mercado. Que Maria fique conosco – como ficou com Isabel – e cante sempre o Magnificat para nos dar alento e esperança! Que seja assim. Bjs no coração.
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