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Revitalizar a lingua indígena, evangelizar recuperando a identidade dos povos.

“a primeira luta foi pela nossa terra. A segunda luta é pela nossa língua e pela nossa cultura macuxi”

A cultura, o território, a língua, são elementos que, entre outros, ajudam a preservar a identidade dos povos. Na Amazônia, como em muitas regiões do planeta, essas identidades têm desaparecido gradualmente e, em alguns casos, foram perdidas. Atualmente, existem cerca de seis mil idiomas no mundo, dos quais 90% podem desaparecer no presente século.

Na região de Roraima, na fronteira entre o Brasil, a Venezuela e as Guianas, vivem os macuxi, um dos povos cuja língua é ameaçada. Isso se deve a vários motivos, mas principalmente ao fato dos pais falarem apenas com seus filhos em português e a língua indígena permanecer só como uma disciplina a mais no currículo escolar. Junto com isso, não podemos negar a grande influência que a mídia e as novas tecnologias têm no universo indígena.

Esta é uma preocupação para os macuxis, que, como reconhecido por seus líderes em uma reunião realizada no início deste ano, “a primeira luta foi pela nossa terra. A segunda luta é pela nossa língua e pela nossa cultura macuxi”. No Brasil, existem cerca de 150 línguas indígenas, sendo a língua Tikuna a mais numerosa, reunindo cerca de trinta mil falantes. No caso dos macuxis, com uma população de dezenove mil pessoas, nem todos falam a língua materna.

O cuidado com as línguas indígenas sempre foi uma preocupação para a diocese de Roraima, que acompanha o povo macuxi. Este aspecto também é abordado no documento preparatório do Sínodo da Amazônia, onde se diz, falando dos povos indígenas, que “uma presença estável, o conhecimento do idioma local, cultura e experiência espiritual é necessário. Só então a Igreja fará presente a vida de Cristo nestes povos”. Os bispos da diocese sempre incentivaram a revitalização das línguas indígenas. Em 1983, dois missionários leigos italianos, Emanuele Amodio e Vicente Pira, com a ajuda de líderes locais, publicaram um dicionário bilíngüe Macuxi-Português com alguma gramática.

Mas, sem dúvida, o grande promotor da língua Macuxi é Padre Ronaldo MacDonell, Missionário de Scarboro do Canadá, e lingüista profissional. Chegado na Amazônia brasileira em 1986, ano em que ele tinha sido ordenado padre, trabalhou na Prelazia de Itacotiara até 1992, de onde ele se mudou para Roraima, onde após estudo lingüístico, ajudou catequistas e professores Makuxi na publicação da segunda edição do dicionário e em 2007 da terceira edição.

Em 2011, o missionário-linguista organizou a publicação de um livro de trinta lendas Makuxi, “Antas, Onças e Raposas” lendas gravadas pelo monge beneditino, Dom Alcuin Meyer, OSB, que viveu com o povo Makuxi entre 1926 e 1948. Em 2017, o Padre MacDonell publicou a “Bíblia das Crianças” em Makuxi.

Juntamente com os escritos, o missionário de origem canadense colaborou na produção de 55 áudios intitulados “Vamos aprender Makuxi!”, que foram ao ar entre 2004 e 2006 e estão sendo usados em diferentes rádios ao longo deste ano. Este material tornou possível para jovens, adolescentes e crianças nas comunidades de Raposa Serra do Sol, onde o povo Makuxi viver, eles poder aprender a língua de seus antepassados. Segundo o Padre Ronaldo “cada programa tem um tema, por exemplo, as saudações, uma visita em casa, o trabalho, os nomes de parentes. Os temas são apresentados em forma de diálogo entre duas pessoas. A nossa conversa cotidiana é geralmente em forma de pergunta e resposta. É esta dinâmica que os falantes – catequistas, professores, lideranças – estão usando para ensinar os jovens, em pequeno grupos, de ouvirem e repetirem o diálogo. Somente depois que são entregues um folha com o diálogo escrito”.

Aos pouco, as atividades também são realizadas no interior, nas próprias comunidades. A este respeito, deve-se notar que o curso de revitalização de cinco dias já foi oferecido em quatro das maiores comunidades e está planejado repetir essa experiência duas vezes por ano durante três anos. A esperança é que um entusiasmo seja criado pelos próprios jovens, para que eles se tornem “multiplicadores” da língua Makuxi.

Por Luis Miguel Modino

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