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Reflexões da Palavra – 22o Domingo do Tempo Comum – Ano A

22o Domingo do Tempo Comum – Ano A
Leituras: Jr 20,7-9 – Sl 62 – Rm 12,1-2 – Mt 16,21-27

Por Quininha Fernandes Pinto, do Regional Leste 1.

“Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder…” – este versículo de Jeremias é bastante conhecido e penso ser familiar a todos aqueles que, de algum modo e em diferentes medidas, tomaram “sua cruz” e seguiram Jesus, abraçando seu projeto, sonhando os seus sonhos, “perdendo as suas vidas” para realmente encontrá-las.
Tomar a “sua” cruz e seguir Jesus, não é uma vocação tranquila: é incômodo para quem fala e para quem ouve. Jeremias queria subtrair-se, fugir da missão profética, mas a Palavra de Deus queimava-o por dentro, não teve como fugir, só lhe restou deixar-se seduzir! E essa impossibilidade é como um fogo ardente a penetrar o corpo inteiro do profeta.
No início do Evangelho Jesus dá a entender a seus discípulos que deveria ir a Jerusalém e sofrer muito, ser morto e ressuscitar… e muitas vezes esse versículo é compreendido como algo anteriormente designado por seu Pai, para que aqui viesse e morresse do jeito que morreu… e, na verdade, a morte foi consequência das opções feitas por Jesus e pelas pessoas que rejeitaram as suas propostas. Poderia ter sido diferente… não “estava escrito”. Os textos do Novo Testamento que hoje lemos foram elaborados muito tempo depois de ocorridos. E assim devemos entender as palavras de Jesus que, se quisermos segui-lo, devemos tomar a nossa cruz, e possivelmente, perder a nossa vida… O seguimento a Jesus passa inevitavelmente pela cruz. Quem quiser segui-lo, não tem outra alternativa senão viver em si o sacrifício de Cristo para salvar a própria vida; é o paradoxo cristão: perder-se para viver.
Os valores do Reino vividos e anunciados por Jesus vão de encontro aos valores do mundo. O projeto de Jesus é uma proposta inclusiva, agregadora, que privilegia os últimos, os mais fracos, os simples, os pobres, os incapazes da sociedade… não é um projeto baseado ma meritocracia – é gratuito – mas na instauração da justiça, do amor e da misericórdia. O projeto de Jesus subverte a ordem sociopolítica e econômica que nos é oferecida pelos poderosos e pelo sistema econômico podre e corrupto que vivemos. Isto nos faz compreender o porquê da exigência da Cruz e da possibilidade de morrer por esse projeto. Também nos faz entender a revolta de Jeremias quando amaldiçoou o ventre da sua mãe… não é fácil dizer isto.
A renúncia à própria vida e o sofrimento não são vistos pelo Evangelho como uma necessidade à qual nos resignamos, nem como uma heróica, mas desesperada oblação à morte. São apresentadas como o caminho para pôr em relevo o profundo valor do ser humano. Estamos cercados por discursos egoístas e desumanos que visam salvar a própria pele e defender os seus interesses e privilégios. Diante das desigualdades sociais facilmente constatadas no nosso mundo – e de forma objetiva e real no Brasil – surge uma imperiosa necessidade de “tomarmos a nossa cruz” e soltarmos a nossa voz para que as injustiças não continuem a matar, a dizimar o nosso povo, os nossos irmãos. A carta aos Romanos, selecionada para este domingo é contundente: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-o, renovando a vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”.
Tenhamos coragem! Bjs no coração.

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