Leituras: Jr 31,7-9 – Sl 125 – Hb 5,1-6 – Mc 10,46-52
“Senhor, que eu veja!” – “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” – estes pedidos feitos pelo cego Bartimeu do Evangelho deste domingo vêm em nosso socorro neste momento tão sombrio pelo qual passa a humanidade, e, de modo particular o povo brasileiro. Tempos difíceis… acompanhamos nos domingos anteriores o fascínio que o dinheiro desperta e a ânsia pelo poder que a realidade provoca… estamos sucumbindo às manobras político-econômicas que, como uma avalanche arrasa, destrói e mata os mais belos projetos do Bem Viver, da fraternidade, da cidadania, de respeito à dignidade humana para todos. E neste cenário caótico de intrigas e de jogos de interesse, deparamo-nos com um pobre homem, sem voz e sem visão suplicando a Jesus para “ver”… Parece-me que é também o pedido que queremos fazer hoje a Jesus, em meio a este turbilhão de notícias que chegam, causando espanto, incertezas, medo…
Queremos ver! Queremos ver, mais que enxergar… ver e entender os rumos que os poderosos estão delineando para o nosso futuro;Queremos ver com transparência e honestidade nossos representantes falarem e agirem com ética e lisura;Queremos ver nosso povo ter trabalho, ter comida na mesa, ter moradia digna, ter acesso à educação de qualidade;Queremos ver a confiança restabelecida entre as pessoas sem fakes news, mentiras e trapaças que hoje têm um nome mais sofisticado;Queremos ver nosso povo sonhar com um futuro bom e feliz para seus filhos/as e ver viabilidade nesses sonhos;Queremos ver o Brasil sair dos noticiários como um país que devasta suas reservas ambientais, que mata sua população originária, nossos índios, por conta do agronegócio, do interesse do capital privado; Queremos ver nosso povo feliz, seguro, respeitado. O cego Bartimeu hoje representa a nossa cegueira, uma cegueira estrutural, provocada e mantida por uma política excludente e mortífera que elimina sempre os mais pobres. Mas representa também a nossa fé em Jesus, na sua palavra, no projeto do Reino de Deus. Significa o caminho da fé. Como Bartimeu, muitas vezes não vemos Jesus, mas temos a intuição de sua presença nos acontecimentos… sentimos que está por perto, e O chamamos… querem nos calar, mas Ele nos chama, e coloca-se a nossa disposição. Isto é fantástico! Isto é uma possibilidade real de “vermos”, isto é um apelo à nossa coragem e abertura ao seguimento de Jesus. É um convite e um encorajamento à conversão. “Levantar-se”, ou ressuscitar, “lançar fora o manto” = despojar-se do “homem velho” são as atitudes do cego Bartimeu! A visão é restituída como uma visão de fé, que nos engaja imediatamente no seguimento de Jesus, nos coloca no “caminho”. Uma fé comprometida. Num mundo como o nosso, não há mais lugar para uma fé piedosa, hereditária da família, anônima, passiva. É necessária uma fé fundada no aprofundamento da palavra de Deus, na opção e nas convicções pessoais. Uma fé consciente. Este é o sentido que Marcos dá a este trecho: a compaixão de Jesus que, diversamente da multidão, escuta o pobre, o cego, Ele nos ouve! Que alegria! Façamos a nossa parte! Amém e amem! Bjs no coração.