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A territorialidade amazônica, como local teológico, nos faz experimentar mais fortemente o dom da comunhão

“Queremos uma nova estrutura regional Panamzônica que seja o veículo propício para levar adiante as novidades do Espírito neste Sínodo e que também nos permita afirmar a dimensão eclesiológica emergente”, pede Maurício López, secretário-executivo – REPAM, na sua intervenção na aula sinodal Pan-Amazônica, em Roma.

Segundo ele, “a territorialidade como lugar teológico não é uma ameaça contra o modo tradicional de compreensão e organização da Igreja, mas a expressão da continuidade do mistério da Encarnação, para o qual não há limites. Deus ainda está encarnado e se encarnando nas margens onde Ele próprio decidiu vir a territorializar-se através do ventre salvífico de nossa mãe Maria, uma mulher simples e da periferia”.

Evocando ‘o grande Paleontólogo, Teólogo e Místico’, ele conclui o pronunciamento com a frase: “Quanto mais vasto seja o mundo, quanto mais orgânicas forem suas conexões internas, mais as perspectivas da Encarnação triunfarão”.

Eis o texto.

Estamos vivendo, sem dúvida, um tempo de graça. Um verdadeiro Kairos. Não porque não estamos cientes dos enormes conflitos que afetam a vida e produzem tanto sofrimento no mundo e na Igreja, mas porque, justamente por isso, Deus está presente com mais força para nos chamar para ser uma presença eclesial mais relevante, coerente e significativa na vida daqueles que sofrem como Jesus. Não há outro caminho, não há outro caminho.

Mas qual é a verdadeira grande novidade de todo esse processo sinodal Panamazônico? É, como o número 2 do Instrumentum Laboris diz lindamente, o surgimento de um novo sujeito eclesial na perspectiva territorial que vem da periferia. Esse sujeito povo de Deus na Panamazônia é o resultado da constatação de que não podemos continuar respondendo isoladamente.

Precisamos abraçar com todas as nossas forças o Cristo que ainda está crucificado neste território, e caminhar com Ele até a Páscoa em que a morte não tem, e nunca pode ter, a última palavra. A territorialidade como lugar teológico não é uma ameaça contra o modo tradicional de compreensão e organização da Igreja, mas a expressão da continuidade do mistério da Encarnação, para o qual não há limites. Deus ainda está encarnado e se encarnando nas margens onde Ele próprio decidiu vir a territorializar-se através do ventre salvífico de nossa mãe Maria, uma mulher simples e da periferia.

Como REPAM (anexo à presidência do CELAM, e também co-fundado com CLARCáritas e CNBB), constatamos que essa territorialidade amazônica, como local teológico, nos faz experimentar mais fortemente o dom da comunhão. Na rede, nossas fragilidades são menos frágeis, nossa incapacidade de responder a tremendas limitações existenciais e materiais são mais suportáveis, e funcionamos como uma rede de apoio, troca e experiência de uma espiritualidade comum. Assim, ouvimos e acompanhamos com grande fragilidade e tentamos enfrentar a violência sistemática contra os mais vulneráveis e criar mecanismos mais eficazes de evangelização neste local.

Queremos, portanto, uma nova estrutura regional Panamzônica que seja o veículo propício para levar adiante as novidades do Espírito neste Sínodo e que também nos permita afirmar a dimensão eclesiológica emergente. Não é por acaso que a experiência de trabalhar na comunhão eclesial Panamazônica, como a que vivemos nesses anos, é uma luz minúscula que ajudou outros territórios a pensar dessa mesma perspectiva: no Congo, em Mesoamérica, em parte da região das florestas tropicais da Ásia-Pacífico, na articulação europeia em torno de Laudato Si e, mais moderadamente, na América do Norte e no aquífero guarani. Parece que algo novo está nascendo.

Na Amazônia, demorou um pouco, mas se conseguiu harmonizar áreas específicas, sempre incompletas: diversidade institucional, estruturas eclesiásticas, de diferentes estados e nações, congregações, identidades culturais, idiomas etc. sob a certeza de que não podemos sozinhos, que o presente convoca para responder aos graves sinais da crucificação de tantos irmãos e irmãs, às expressões da morte diária e irreversível de nossa irmã mãe terra.

Sinceramente, acredito que um dos grandes gestos proféticos deste Sínodo poderia ser a possibilidade de confirmar essa intuição do Espírito com uma estrutura que possibilite que tudo o que semeamos aqui possa subsistir e ser um serviço por mais vida.

Nesse sentido, o Papa Francisco disse que este Sínodo é filho de Laudato Si, e ele é; mas ele definitivamente é também filho da Evangelii Gaudium (e, portanto, seria sobrinho de Aparecida), e definitivamente é o irmão da Episcopalis Communio.

Ou seja, neste gesto poderíamos acompanhar as três conversões herdadas do Concílio Vaticano II, e que também são parte essencial do itinerário do Papa: conversão pastoral para uma Igreja em saída missionária (EG)conversão ecológica para o cuidado da casa comum (LS) e a conversão à sinodalidade da Igreja (EC).

Pedimos isso em nome de Jesus, fonte, origem e fim desse caminho de ascensão à cristificação.

Partilho a frase de um grande Paleontólogo, Teólogo e Místico: “Quanto mais vasto seja o mundo, quanto mais orgânicas forem suas conexões internas, mais as perspectivas da Encarnação triunfarão”.

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