Carta às Comunidades nº 08 Rondonópolis/MT, 15 de março de 2021.
Mulheres nas CEBs – Semeando Resistência e Esperança na Luta pela Vida Plena!
“Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça.
Milton Nascimento
É preciso ter sonho sempre.
Quem traz na pele essa marca possui
A estranha mania de ter fé na vida… Maria Maria!”
Amadas Comunidades Eclesiais de Base organizadas no Brasil e na América Latina!
Queridas irmãs e irmãos das Comunidades Eclesiais de Base, neste tempo de pandemia, de crises e desafios sociais, políticos e eclesiais, queremos com esta carta encorajar a todas e todos a seguir acreditando na “estranha mania de ter fé na vida…” levando a cada comunidade deste nosso continente Latino-Americano uma mensagem de esperança e fé neste tempo quaresmal, no qual o mestre Jesus nos ensina a caminhar construindo “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” (CFE 2021).
Celebrando a vida e a luta das mulheres, trazemos para nossa reflexão o tema das mulheres na bíblia e na história de ontem e de hoje.
Na Bíblia vemos que Deus nos fez homem e mulher (Gn. 2,15-18), iguais em dignidade. Em muitos relatos bíblicos conhecemos mulheres, que desafiaram a lógica dos poderes de seu tempo tornando-se voz profética que ressoa até hoje. Em suas lutas usaram diversas estratégias, transgressões, seduções, para se defender e defender seu povo. Percebiam a realidade de seu tempo e lutaram contra o patriarcado e a exclusão. (Raab Js 2; Heb 11,31; Tg 2,25).
O mistério da Salvação passa pela mulher: Jesus se faz carne no ventre de Maria, jovem de Nazaré, um local que poderia ser confundido com quaisquer periferias de nosso Brasil. Maria foi consultada sobre ser mãe de Jesus, uma Menina-Mulher, na qual habitava o desejo de justiça social expresso no Magnificat (Lc 1,46-55).
Como Maria Madalena, a discípula incansável revelou ao mundo a novidade da Ressurreição, a vida nova para todas as pessoas, muitas mulheres hoje, a seu exemplo e de Lídia (Atos 16, 11-15), são as protagonistas da Boa Notícia em nossas comunidades, assumem esta missão com ternura, perseverança, criatividade e profecia.
Mulheres de ontem e hoje compartilham a dor, a exclusão, a submissão pelo simples fato de terem nascido mulheres. Certamente conhecemos mulheres que sofreram e/ou sofrem violências, ouvimos histórias das que foram mortas pelos companheiros, acompanhamos notícias de altos índices de feminicídios e a morosidade e impunidade da justiça, os dramas das vítimas que muitas vezes ao invés de serem protegidas são culpabilizadas pela violência sofrida.
No entanto, muitas mulheres reagem sem temor, sabendo que as violências, o estupro, o feminicídio não são um destino do qual não podem se libertar. As mulheres e a classe trabalhadora são as que mais sentem na carne a brutalidade dos tempos atuais. Mesmo diante de um mundo estupidamente violento, precisam acionar a criatividade revolucionária, construindo estratégias de enfrentamento a esta selvageria, por meio de contínua formação.
As mulheres unidas e organizadas já conquistaram muitos espaços e direitos garantidos em leis, mas há importantes desafios pela frente. No campo do trabalho, por exemplo, é gritante a desigualdade salarial entre homens e mulheres, a dupla jornada de trabalho que impõe a casa e criação dos filhos apenas à mulher. Na política as mulheres são mais de 51% do eleitorado, mas apenas 10% de deputadas federais e esses números se repetem e até diminuem em outras esferas. Na presidência tivemos apenas uma mulher ao longo de todo o período republicano e esta foi retirada de forma injusta através do golpe de 2016.
A luta segue e pouco a pouco as mulheres ocupam cada vez mais espaços de poder e decisão, em cargos políticos, empresas, nas igrejas e nas organizações sociais. São construtoras da autonomia, liberdade e relações de equidade nas comunidades e na sociedade e inspiram meninas e jovens para defenderem a Dignidade da Vida Humana.
Se aos poderosos interessa produzir uma humanidade violenta, às mulheres interessa a humanização. Comprometidas com a transformação da realidade à luz do Evangelho, elas se juntam a todas as pessoas e grupos que lutam pelo direito à vida plena de todas e todos. Têm como fontes de inspiração mulheres como Maria da Penha, Ir. Dorothy Stang, Marielle Franco, e tantas outras, que foram feridas e/ou assassinadas por lutarem por justiça e direitos das mulheres e dos pobres. Como diz o Papa Francisco: “as mulheres são as protagonistas da Igreja em Saída, são quem sustentam as dinâmicas de justiça desse mundo, sempre estabelecendo diálogos que respeitam e valorizam as diferenças.” Seguem semeando resistências e construindo na prática cotidiana o sentimento de confiança na coletividade capaz de construir uma nova sociedade.
Questões para debate/reflexão:
- Como as mulheres da Bíblia desafiaram a lógica dos poderes de seu tempo tornando-se voz profética que ressoa até hoje?
- Qual a importância da participação das mulheres nas CEBs? E o que essa participação vem revelando?
- Como as mulheres estão inseridas na sociedade? Quais seus enfrentamentos, reivindicações e lutas?
Colaboração: Antônia Marcel – Assistente Social e Assessora das CEBs Cuiabá; Ir. Cleofa Marlisa Flach – Congregação das Irmãs da Divina Providencia e Assessora das CEBs Cuiabá; Ir. Mara Buttini – Congregação das Irmãs da Divina Providencia e Assessora do CEBI/MT; Patrícia Itaibele – Professora e Coordenadora Nacional da Pastoral da Juventude (PJ) do Regional Oeste 2; Rosenil Conceição – Estudante de Pedagogia e da Equipe de Comunicação das CEBs Cuiabá; Vanessa Ribeiro – Coordenação Estadual do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra/MT.Assentamento 14 de agosto.
Secretariado do 15º Intereclesial das CEBs
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