Campanha da Fraternidade de 2017 – Reencantar e conscientiza o Povo de Deus!
Estamos iniciando nas comunidades os processos de estudo, de debate e de conscientização do Povo de Deus, sobre as questões ecológicas a partir dos seis Biomas Brasileiros. A Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal. Estamos com a Campanha da Fraternidade de 2017 na Rua! Está muito bonito de se ver a alegria, a curiosidade e a procura por material, por informação e por formação este ano. Nosso tema é uma continuidade do tema do ano passado quando refletimos sobre o cuidado de nossa casa comum, com ênfase no Saneamento Básico. Na verdade, com ênfase na falta de Saneamento Básico. Este ano de 2017, portanto, com o tema,“FRATERNIDADE: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida” e com o lema: “Cultivar a Guardar a Criação (Gênesis 2,15)”,a Igreja e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB -, nos convidam no Objetivo Geral da CF2017 a, “Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”. É, portanto, um convite ao reencantamento que necessita de uma conversão ecológica.
Desde 1964, há mais de cinquenta anos, portanto, a Igreja mantém esta ação profética, sempre abordando de forma contundente, um tema importante para a defesa da vida e do planeta. Sempre denunciando uma situação que põe em risco a vida. E anunciando, como Igreja seguidora de Jesus, o compromisso de despertar o povo de Deus para lutar pela transformação da realidade denunciada. Assim são muitas as experiências já vivenciadas pela Igreja, com os temas de outras Campanhas relacionados ao tema deste ano. Já em 1979, pregávamos, “Por um mundo mais humano” e o lema, “Preserve o que é de todos”; em 1986, “ Fraternidade e a terra” e o lema: “Terra de Deus, terra de irmãos”; em 2004, “Fraternidade e água” e o lema: “Água fonte de vida”; no ano de 2007, “Fraternidade e Amazônia” e o lema: “Vida e missão nesse chão”; em 2011, “Fraternidade e a vida no planeta” com o lema: “A criação geme em dores de parto (Romanos 8,22)” e no ano passado, 2016, Casa Comum, nossa responsabilidade” e o lema: “ Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca (Amós 5,24)”. É uma memória importante para mostrar que a Igreja vem incomodada e incomodando com o desrespeito contra a criação e contra a vida há muito tempo.
Celebremos com o teólogo João Batista Libânio, que soube captar com sutileza as maravilhas de Deus vistas pelo salmista. Assim nos diz ele, “Os Salmos captaram melhor tal significado. Todo o Salmo 136 (135) canta as maravilhas de Deus porque Ele é bom, a começar pela criação” (LIBANIO, 2010, p 12). Seguindo o exemplo de Libanio e do salmista reconheçamos também nós a sabedoria e a bondade de Deus e digamos juntos no grupo de oração, na pastoral, na sala de catequese, na reunião de Ministros e no retiro dos Diáconos, ou em casa em família. Ele criou a Amazônia.Porque eterno é o seu amor! Ele criou a Caatinga. Porque eterno é o seu amor! Ele criou o Cerrado. Porque eterno é o seu amor! Ele criou a Mata Atlântica. Porque eterno é o seu amor! Ele criou o Pampa. Porque eterno é o seu amor! Ele criou o Pantanal. Porque eterno é o seu amor! Antes, porém, leiamos alternadamente todo o Salmo 135. Façamos uma Leitura Orante e deixemo-nos ser motivados pela mensagem. Depois, o grupo pode definir ações concretas que vai assumir como Igreja para seguir a Campanha da Fraternidade deste ano. O que nós fazemos que não deveremos fazer mais para vivermos a CF2017? O que nós não fazemos e que deveremos começar a fazer para vivermos a conversão ecológica que nos pede a Igreja? Como diz o Poeta das CEBs, Zé Vicente, “Defender o direito, respeitar a justiça. Promover a vida eis a nossa missão neste chão”(Samba Social). Tudo isso vale também com relação ao planeta e aos seus biomas.
O texto bíblico que inspira a CF2017 é o relato da criação que se encontra logo no início da Bíblia. (Gênesis 1, 1 – 2,4a). A teologia também nos vem do testemunho e do anúncio do Papa Francisco, com a Carta Encíclica Laudato SI’ (Louvado sejas, meu Senhor). E com ela a mística e a espiritualidade ecológica do irmão São Francisco de Assis. Isto já nos seria suficiente para uma defesa vigorosa do tema da CF2017, a partir da fé cristã, mas o Libanio, já citado acima, nos traz a cosmologia de Teilhard de Chadin, ao nos dizer, “O núcleo do seu pensamento se expressa na ideia de um mundo em gênese, de uma matéria universal penetrada, animada e justificada em Cristo (…). Tudo foi criado por meio dele e para ele, e nele todas as coisas têm consistência (cf. C1, 15-17)” (LIBANIO, 2010, p 53). Esta é uma boa ocasião para atualizar o próprio texto do livro do gênesis. A carta de São Paulo aos colossenses, aos moradores de Colossas, é uma das quatro cartas do cativeiro e esta citação acima nos mostra como a criação é Cristocêntrica. Este é um texto que pode ser lido, meditado e que pode nos trazer perguntas novas. Dado que, por exemplo, restam-nos apenas 8,5% (oito e meio por cento) do que era o Bioma Mata Atlântica, quando chegaram aqui os colonizadores.
A exemplo do que fizeram com Jesus, com Dom Oscar Romero, com Chico Mendes, com o Padre Josimo e com a Irmã Dorothy Stang, nós não estamos matando o planeta e destruindo os seus biomas? Nós não estamos crucificando a terra, ou permitindo que ela seja torturada como fizeram com o Frei Tito e muitos e muitas irmãos e irmãs na ditadura militar? Nós não a estamos crucificando, como fizeram com Jesus de Nazaré? O Cerrado, bioma que armazena e distribui as águas para o nosso país inteiro, está não mãos de um Herodes que assina como MATOPIBA. Um projeto de destruição da natureza, que escraviza a terra e a faz produzir de acordo com a ganância do agronegócio, exportador de grãos para alimentar animais em outros países. A Mata Atlântica vive as consequências e os impactos da urbanização, pois acolhe as maiores metrópoles do país, sofrendo os maus tratos frutos do descaso dos governantes, sobretudo com o Saneamento Básico.
A Caatinga o único Bioma exclusivamente brasileiro, sofre os preconceitos e estigmas muitas vezes fruto da ignorância (desconhecimento) de quem a explora ou de quem não a conhece mesmo. A Amazônia e o Pantanal estão vendo as suas populações originárias serem exterminadas. O turismo e a pesca que desenvolveu o turismo ecológico, traz recursos financeiros, os faz conhecidos, mas deixa também rastros de destruição. Falta ainda uma compreensão dos Biomas como vidas que pedem e devem receber cuidados. O Bioma Pampa, que no Brasil só existe no Rio Grande do Sul, também teve suas populações indígenas, sobretudo Tupi-Guarani praticamente exterminadas. Hoje restam poucos descendentes destes povos e vivem em situações precarizadas. A progressiva introdução da monocultura causou uma degradação e descaracterização das paisagens originárias, a ponto de hoje restar pouco mais que 30% (trinta por cento) da vegetação nativa do Pampa.
Vamos concluindo esta reflexão, mas deixamos o espaço aberto para aprofundá-la em outros momentos, em outros textos ou de outras formas. Sobretudo, é necessário que deixemos o espaço para que o Espírito de Deus aja. E fica o desafio a cada um e cada uma de nós que não nos conformemos com os nossos limites. A Igreja busca permanentemente enfrentar e superar os desafios que nos distanciam da vontade de Deus. Acredita nos homens e nas mulheres, na sua capacidade de amar e na sua inteligência amorosa para ouvir o que Deus lhes pede. Cultivar e Guardar a criação. Muito embora o Frei Betto nos alerte de algo que não poderemos esquecer, “Não há leis ou cálculo que prevejam o que fará um ser humano, ainda que seja um escravo. Lá no núcleo central de nossa liberdade – a consciência – ninguém pode penetrar” BETTO, 199(7, p 96). Que possamos resgatar a nossa filiação divina, refazer a aliança com Deus, rompida mais uma vez por nós, e nos reencantarmos com tanta beleza, com tanta diversidade de vida e que Deus nos pede apenas isso. Que cuidemos.
Para aprofundar
BETTO, Frei. A Obra do Artista – uma visão holística do Universo. São Paulo: Ática, 3ª edição 1997.
– BÍBLIA. Bíblia Sagrada Nova Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.
– CNBB. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2017. Brasília-DF: edições CNBB, 2016.
– LIBANIO, João Batista. Ecologia vida ou morte? São Paulo: Paulus, 2010.
PAPA. Papa Francisco. Carta Encíclica Laudato SI’ (Louvado sejas, meu Senhor) sobre o cuidado da Casa Comum. Brasília-DF: edições CNBB, 2015.
Curitiba, 26 de Fevereiro de 2017.
João Ferreira Santiago
Teólogo, Poeta e Militante.- assessor das CEBs Regional Sul 2
Coordenador da Campanha Fraternidade de 2017 na Arquidiocese de Curitiba.
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