“…Eram tantos os prodígios e sinais que os apóstolos realizavam que todos eram tomados de sentimentos de reverência. Todos que acreditavam eram unidos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens e os repartiam entre todos, conforme a necessidade de cada um…” (Atos dos Apóstolos 2, 42-45)
Estamos no período da quaresma, quadragésima, no latim, é conhecida como tempo de preparação para a Ressurreição de Jesus Cristo, a Páscoa, em que o jejum e a abstinência fazem parte do Ser cristão e principalmente do Ser Católico. É constituída de 40 dias em que somos convidados e convidadas a fazermos um retiro espiritual e refletirmos sobre o nosso compromisso com Jesus, o significado do ser cristão, do ser católico e do Ser Comunidade.
Afinal, a palavra quaresma tem sua gênese na bíblia onde encontramos várias passagens que relatam situações inéditas ocorridas e que foram vivenciadas por pessoas comuns, mas comprometidas com uma situação real de sua época. Lembramos alguns exemplos, como a experiência do povo Hebreu que caminhou 40 anos para atravessar o Mar Vermelho, para chegar à outra margem, a Terra Prometida, o povo de Nínive fez penitência durante 40 dias para receber o perdão de Deus, o Profeta Elias caminhou durante 40 dias e 40 noites para chegar à montanha de Deus e Jesus jejuou durante 40 dias e 40 noites preparando sua trajetória do Calvário.
Nessas experiências percebemos que a preparação para um acontecimento novo e realizar uma mudança e transformação só é possível no seio da comunidade que contem o sinal profético porque é uma comunidade de fé no Deus único e verdadeiro e nela são vivenciadas as alegrias e as dores, os sucessos e as limitações e produzidos os novos aprendizados e os novos saberes, as resistências contra as forças de um sistema opressor e negacionista.
Trata-se de comunidades de fé, de Comunidades Eclesiais de Base e de Pequenas Comunidades Missionárias, cuja fundamentação se encontra nos pilares da Palavra de Deus, do Pão (Eucaristia), da Caridade e da Ação Missionária. É esse contexto de quaresma e da pandemia que nos suscita a redobrar o nosso pertencimento às CEBs.
É o momento de reverenciar os nossos irmãos e irmãs através de várias manifestações de amor e de solidariedade, a nos reunirmos de várias formas, nas nossas casas ao redor da Palavra, via on line, quando possível ou enviar recados a fim de manifestarmos o quanto o nosso irmão e a nossa irmã são importantes e são motivos para louvar o Senhor. No entanto, os Atos dos Apóstolos nos convocam à dedicação total no sentido do despojamento, de abrir o coração sem reservas e reconhecer a humanidade existente em cada irmão e irmã. Talvez vender alguma coisa e dar uma parte ou uma esmola seja uma atitude mais fácil, porém, o esvaziar-se e o dialogar com o outro em sua alteridade seja muito mais difícil.
Por isso, esse tempo de graça, é um convitede pegarmos somente uma bolsa e uma espada (Lc. 22,36-38) e fazermos nosso retiro e, sobretudo estarmos em atitude de saída, de uma Igreja em Saída que vivencia e pratica a sinodalidade baseados no amor e na fraternidade, resistindo às estruturas de injustiças e desigualdades econômicas e sociais, convidando conforme a Encíclica Fratelli Tutti, à fraternidade e à amizade social (Papa Francisco outubro/2020) para alcançarmos o outro lado da margem, para construirmos uma nova sociedade!
Lilian Maria Moser
(Assessora das CEBs – Noroeste)
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