Edição Especial de relançamento do 15º Intereclesial das CEBs
Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT. | Agosto de 2020.
Edição Especial on-line, nº 1
Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT. | Agosto de 2020.
Por Marilza J L Schuina, membro do Secretariado para o 15º Intereclesial das CEBs.
As CEBs surgem no Brasil na década de 60. Na narrativa de Marcelo Barros [i], “as CEBs tiveram várias origens ao mesmo tempo. Não se pode dizer: nasceram em tal lugar! ”. O fato é que vamos ter várias experiências, em todas as regiões do Brasil, com nome de círculos bíblicos, comunidades populares que começam na zona rural e em pequenas cidades e vai se consolidando como Comunidades Eclesiais de Base.
As Comunidades Eclesiais de Base são um conjunto de pessoas, que se conhecem, possuem características diferentes conforme as regiões e localizações sociais e geográficas em que se encontram. As pessoas se juntam para rezar, refletir a fé e a vida, participar dos sacramentos tendo a Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade.
São comunidades que não estabelecem oposição entre fé e vida. “Não podemos separar a fé da vida, mas pela fé, viver e realizar ações consequentes para a revelação e expansão do Reino de Deus na história” (CNBB 105, n. 133a). Não fazem distinção entre Igreja e mundo, pois o mundo é o lugar escolhido por Deus para nele habitar. “A Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1, 14). “O mistério da Encarnação nos ajuda a entender, ainda, que a espiritualidade cristã é encarnada, martirial e pascal” (CNBB 105, n.133c):
As CEBs, portanto, integram e relacionam todos os espaços da vida, descobrindo no cotidiano da vida os sinais do Reino. São presença da Igreja no meio popular, junto aos mais simples e afastados, seja nos espaços rurais ou nos espaços urbanos, nas periferias existenciais, onde estão os descartados e excluídos da sociedade.
Vivendo a dimensão comunitária da fé, de inserção na sociedade, de exercício do profetismo e de compromisso com a transformação da realidade, são a expressão visível da evangélica opção preferencial pelos pobres e a partir deles anunciam o evangelho do Reino a todos e todas e participam nas lutas pela libertação dos pobres e excluídos/as. “As Comunidades Eclesiais de Base têm sido escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega amorosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros” (DAp. 178). Elas buscam ser comunidades enraizadas na prática de Jesus de Nazaré (Gl. 4,4) e abraçam a experiência das primeiras comunidades, como descritas nos Atos dos Apóstolos (At 2, 42-47; 4, 32-35)
Os Encontros Intereclesiais são uma rica experiência que animam a vida das Comunidades Eclesiais de Base no Brasil desde a década de 70 do século passado, tendo em vista a sua articulação. “Nasceram com a finalidade de partilhar as experiências, a vida, as reflexões que se faziam nas comunidades eclesiais de base ou sobre elas” (Libânio, 1995).
Em 1992, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil redigiu o documento 25 em que falam sobre a importância dos Intereclesiais:
“altamente positivo enquanto dinamiza, aprofunda e sustenta o ânimo das comunidades, que dão igualmente testemunho de vitalidade e ardor pelo Evangelho a toda a Igreja”.
Durante os encontros, são de vital importância a partilha de experiências e reflexões das comunidades, o que aconteceu efetivamente nos primeiros encontros que tiveram um menor número de participantes. O I e II Encontros, reuniram, os dois juntos 170 participantes. Os encontros vão gradualmente aumentando em número de participantes e isto, envolve, inclusive uma reflexão sobre a natureza dos encontros que vai ganhando uma perspectiva mais celebrativa e de evento de massa. O 14º Intereclesial, realizado em Londrina/PR, em 2018, por exemplo, reuniu 3.300 delegados e delegadas. Com uma crescente participação da base desde o III Intereclesial, estes encontros “além de espaço privilegiado da partilha de experiências e reflexões das comunidades de base, constituem-se também um rico manancial de animação da vida das CEBs” (Teixeira, Faustino, 1996), uma “festa para os olhos e para o coração”. [ii]
Este Encontro acontecerá em Rondonópolis/MT, em 2023 e traz uma novidade no número de participantes: serão dois mil participantes, entre delegados e delegadas das comunidades, convidados e convidadas. O que acontece? Dois motivos:
Isto nos propicia uma vez mais refletir sobre a natureza do Intereclesial. O que se pretende? Onde queremos chegar? Qual a sua finalidade? O fato é que a partilha de experiências e reflexões das comunidades, o caráter formativo e o caráter celebrativo são igualmente fundamentais no processo de preparação e realização de um Intereclesial.
O Encontro Intereclesial não é um evento. Faz parte de um processo de animação da vida das comunidades, de articulação da rede de comunidades no Brasil, procurando assim manter viva a chama da esperança e da resistência de um “novo jeito de ser Igreja”, Igreja Povo de Deus, Igreja dos pobres, com os pobres, para os pobres, Igreja do diálogo, do anúncio, da denúncia, Igreja cuja natureza é ser missionária, profética, libertadora, transformadora.
Pensado inicialmente para ser realizado em 2022, o 15º Intereclesial foi adiado para 18 a 22 de julho de 2023, decisão tomada a partir de uma consulta realizada junto a todos os regionais das CEBs do Brasil, considerando:
Com o tema “CEBs: Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas” e o lema “Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova terra” (Is 65,17), as CEBs se desafiam a tornar concreto e real a solicitação do Papa Francisco para “uma Igreja em saída, que vai ao encontro das periferias sociais e existências”. Igreja presente, que anuncia o Evangelho, atinge o coração, para que “todos tenham vida plena”. Vida não para poucos privilegiados, mas vida para todos e todas, para o planeta, para os povos, independentes de raças, culturas ou credos.
O motivo da escolha do tema quer ser, em primeiro lugar, resposta a Jesus Cristo e seu evangelho acolhendo seu projeto “que todos tenham vida em plenitude”. Em segundo lugar, as CEBs querem assumir o compromisso de tornar-se uma Igreja de saída, desejada pelo Papa Francisco (Marco referencial para o 15º, em elaboração).
O processo de preparação requer um esforço concentrado. Nesta caminhada, a partir da constituição do secretariado executivo para o 15º Intereclesial já foram realizadas algumas etapas:
O processo de preparação do 15º Intereclesial quer estar atento às marcas de nosso tempo para “conhecer a realidade à sua volta e nela mergulhar com olhar da fé, em atitude de discernimento (…)” (1ª carta às comunidades, agosto/2019).
O trabalho é intenso. Exige envolvimento, entrega e participação de todos e todas. Estamos para servir. Conte conosco! Nós contamos com vocês!
[i] Andrade, William César de Andrade. O código genético das CEBs, São Leopoldo: Oikos, 2005.
[ii] Nas próximas edições do jornal, faremos essa memória histórica dos Intereclesiais.