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DESAFIO DE SER MULHER

Por Magda Melo

 A questão da mulher é uma questão de toda a humanidade. Pode parecer pretensão essa afirmação, redução de todos os grandes problemas atualmente vividos a um único problema, entretanto, não é essa a pretensão.

Ao contrário, é uma percepção profunda de que, a partir do acordar da consciência histórica das mulheres, está se operando uma mudança qualitativa na humanidade, mudança que nos sugere uma nova antropologia presidindo as relações humanas.

A mulher por ser discriminada não somente sexualmente, mas, em todas as dimensões, esferas, em suas atitudes que compõe o universo feminino, é que sofrem as maiores consequências, assim, tem procurado ocupar seu espaço na proporção em que é discriminada, excluída, marginalizada.

A mulher foi assimilada à fraqueza da carne, à sensualidade, à volúpia, à tentação, ao pecado, enfim, considerada um ser humano pela metade. Alguns chegaram a afirmar que a mulher era um semi-homem, ou um homem pela metade. A mulher é símbolo de algo mais do que ela mesma. Ela é mais que o segundo sexo aparentemente frágil e desprotegido. Ela é um símbolo maior para a humanidade, homem e mulher.

A humanidade, em sua expressão feminina, faz aparecer mais fortemente as forças da vida, imensas, obscuras, indomáveis, sedutoras, ora silenciosas, ora estrondosamente barulhentas, escapando de certa forma ao controle da razão. Essa força vital de atração e medo é simbolizada na figura da mulher, como se nela fosse representado de certa maneira o caos. É como se o ser humano escolhesse uma parte de si mesmo e a combatesse pelo temor que sua grandeza lhe inspira.

Todas as mulheres tornaram-se Eva, responsáveis pela corrupção inicial da humanidade e, em parte, pela origem do mal. Por isso, temem-se aquilo que a mulher representa, mesmo que, como dissemos, historicamente a mulher tenha sofrido mais as consequências do exilio e desprezo em que sua própria imagem a aprisionou. Isso nos faz compreender por que, para grande parte das tradições judaicas e outras, nascer mulher é uma maldição.

Todo preconceito de qualquer natureza ele existe por falta de conhecimento, ouvimos por aí e não buscamos saber a verdade, não lemos, não temos consciência do que está acontecendo, ouvimos e saímos falando, vamos sempre atrás. Vivenciando inclusive a inferioridade como mulher.

É extraordinária a defesa que Jesus faz de Maria de Magdala, o ato dela é de uma beleza, feminilidade e sexualidade: o perfume, o cabelo, os pés, os beijos. E a defesa de Jesus Cristo: “Deixai-a em paz: ela fez uma coisa bonita! ”. Quanto à justiça, aos pobres, ao perfume caro podia se discutir e discordar, mas sobre a beleza não há porque discutir. Ela foi sensível a beleza e assim fazendo ela descobriu a vida.

E na música Maria, Maria de Milton Nascimento e Fernando Brant, encontramos a expressão acabada de nossos sonhos.

MARIA , MARIA É um dom, uma certa magia/Uma força que nos alerta

Uma mulher que merece/Viver e amar/Como outra qualquer/Do planeta

Maria, Maria/É o som, é a cor, é o suor/É a dose mais forte e lenta

De uma gente que rí/Quando deve chorar/E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força/É preciso ter raça/É preciso ter gana sempre

Quem traz no corpo a marca/Maria, Maria/Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha/É preciso ter graça/É preciso ter sonho sempre

Quem traz na pele essa marca/Possui a estranha mania/De ter fé na vida

Mas é preciso ter força/É preciso ter raça/É preciso ter gana sempre

Quem traz no corpo a marca/Maria, Maria/Mistura a dor e a alegria

As Marias carregam no corpo as marcas, tem força e sonho sempre, além de possuirmos uma estranha mania de ter fé na vida. Marias solidárias, que deveriam receber mais solidariedade, pois são Marias que merecem viver e amar como todos os outros seres humanos do planeta.

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