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Padre Martín-Baró, presente na caminhada! 30 anos de martírio do criador da Psicologia da Libertação

Gibran Lachowski e Ana Paula Carnahiba (assessoria de comunicação CEBs MT/Regional Oeste 2)

Foto: Cooperación Española Cultura/San Salvador

Criador da Psicologia da Libertação, o padre jesuíta Ignacio Martín-Baró foi um dos homenageados do XX Encontro da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso). Em 2019 completam-se três décadas de seu assassinato a mando da ditadura militar de El Salvador. Apesar disso, a obra científica, a história e atuação pastoral de Martin-Baró tornam-se mais conhecidas ano a ano.

O encontro da Abrapso teve a presença de aproximadamente duas mil pessoas, entre profissionais da área, estudantes, pesquisadoras e pesquisadores de campos correlatos, e foi realizado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo do dia 13 ao 16. O evento contou com grupos de trabalho, conferências, lançamento de livros e atrações culturais. O tema foi “A Psicologia Social frente aos autoritarismos, polarização social e crise sistemática do capitalismo: em defesa da democracia e da emancipação humana”. Galeria de fotos ao final.

O evento também homenageou a psicóloga Silvia Lane e o operário Santo Dias. Ela foi uma das fundadoras da Abrapso e uma das principais responsáveis pela consolidação da Psicologia Social Crítica na América Latina. Ele foi uma importante liderança da Pastoral Operária em São Paulo, assassinado pela ditadura militar em 1979.

 

Martín-Baró

Martín-Baró nasceu na Espanha em 1942, tornou-se jesuíta em 1959, seguiu para a América, fazendo estudos entre Quito (Equador) e Chicago (Estados Unidos), e aportou na Universidade Centro Americana (Uca), em El Salvador, em 1967. Lá foi professor e depois vice-reitor. Psicólogo e filósofo, dedicou-se a compreender a situação social de El Salvador e a ajudar seu povo, tomado pela miséria e pela violência institucional, principalmente durante a guerra civil (1980-1992).

Participantes da roda de conversa.

Em 1986 fundou o Instituto de Opinião Púbica para entender o que pensava a população salvadorenha. Investiu na Psicologia, criando um proposta voltada à América Latina, a partir do olhar das oprimidas e oprimidos. Na madrugada de 16 de novembro de 1989 foi assassinado a tiros por membros do exército por causa da ciência que defendia e da ação pastoral que desempenhava. Com ele foram mortos os padres jesuítas Ignacio Ellacuría, Segundo Montes, Armando López, Juan Ramón Moreno e Joaquim López e López, a cozinheira Julia Elba Ramos e a filha dela, Celina.

 

Psicologia da Libertação

A Psicologia da Libertação é uma área dentro da Psicologia Social Crítica. E a Psicologia Social Crítica compreende que os problemas psíquicos das pessoas têm tudo a ver com suas condições de vida social e não apenas com questões biológicas e individuais. Nesse sentido, a pobreza, o desemprego, o racismo, a homofobia, o machismo, a violência praticada pelos governos, o consumismo capitalista, a destruição ambiental…. tudo isto é levado em consideração quando se faz um atendimento psicológico. A relação dos problemas psíquicos com a estrutura da sociedade tem o objetivo de conscientizar as pessoas e ajudá-las a transformar a realidade.

 

“A Psicologia da Libertação se baseia em princípios da Teologia da Libertação, do Marxismo, da Educação Popular e no contato com os saberes do povo”

 

Uma das características que torna original a Psicologia da Libertação é ser uma proposta científica que nasce na América Latina a partir do olhar para a violência institucional e miséria social sofridas pelas maiorias populares. Ela se baseia em princípios da Teologia da Libertação, do Marxismo e da Educação Popular, no contato com os múltiplos saberes do povo, entre outros.

“Por isso Martín-Baró dedicava-se ao serviço acadêmico na universidade e ao trabalho de base nas comunidades. Temas como machismo, moradia, formação do psicólogo, violência pessoal e familiar faziam parte de suas aulas, pesquisas e conversas”, explicou o professor do Instituto de Psicologia da USP, Antonio Euzébio Filho. Ele integra o Grupo de Estudos Martín-Baró e América Latina e foi um dos mediadores da roda de conversa sobre as contribuições do referido psicólogo.

Imagem: Martires-al.

A diretora do Instituto de Psicologia da USP, Marilene Proença, fortaleceu a junção de teoria e prática na vida de Martín-Baró e no projeto ético da Psicologia da Libertação. Ela também compõe o grupo de estudos sobre o psicólogo. “Trata-se de uma psicologia engajada, com rigor teórico, que se debruça sobre a realidade concreta e parte do olhar de quem sofre. Porque Martín-Baró era simples, aberto e companheiro. Ele tinha compromisso com a luta popular”.

Essas características fizeram com que a Psicologia da Libertação tivesse várias contribuições à ciência, à atuação d@s psicólog@s e à participação popular. Algumas delas foram mencionadas pela doutoranda em Psicologia Social e do Trabalho pela USP, Marcela Pereira Rosa:

– a crítica contínua à própria Psicologia

– o resgate da memória histórica dos povos latinos

– o processo de desmascarar a ideologia dominadora que produz fatalismo e submissão

– e o fortalecimento das organizações populares.

Abertura do encontro teve homenagens a Martin-Baró, Silvia Lane e Santo Dias. (Foto: Marcos Paulo Lima/Conselho Federal de Psicologia)

Além disso, é preciso recordar que o rigor científico de Martín-Baró está ligado à sua ação pastoral, ressaltou o mestre em Sociologia e morador de Santo André (SP), José Carlos de Oliveira. “Martín-Baró tinha forte relação com a Teologia da Libertação e as pastorais sociais. Esse contato direto estimulava o ‘pensamento de mutirão’, resultante do diálogo aberto e respeitoso com os saberes populares”.

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