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Reflexão da Palavra | 6º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Leituras: Jr 17,5-8 – Sl 1 – 1Cor 15,12.16-20 – Lc 6,17.20-26

Por Quininha Fernandes Pinto


Neste domingo se inicia o conhecido “discurso de planície”, em que Lucas apresenta a nova lei, a vida moral dos cristãos. A clássica fórmula da lei moral do Antigo Testamento começa assim: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair do Egito, da condição de escravo. Não terás outros deuses diante de mim” – Ex 20,2-3. Em seguida, determina preceitos morais: não matar, não roubar, não cometer adultério. São fatos históricos lidos/vistos à luz da fé. Os mandamentos são a consequência dos acontecimentos e se referem à libertação do povo da escravidão, até a sua constituição em nação livre. No Novo Testamento o ensinamento moral está ligado ao anúncio do Evangelho. Mas aqui há um fato novo, um acontecimento histórico do qual deriva o compromisso moral. No evento-Jesus encontra-se a “hora-zero da experiência humana”, a hora que exige o ato supremo. É a entrada do Deus Santo na história humana! E isto muda tudo! É uma situação radicalmente nova, que muda a nossa existência. A relação do ser humano com Deus e, consequentemente, com os os outros seres humanos, é transformada pela raiz… Cria-se uma situação nova, que exige uma resposta, o sim ou o não, a fé ou a incredulidade… O evento-Jesus é a grande ocasião oferecida à humanidade para instaurar um novo tipo de relação com Deus, através de compromissos morais como possibilidade de uma vida nova.

Tudo isto está nas entrelinhas do texto do Evangelho de hoje, conhecido como as bem-aventuranças. Elas exprimem a inversão radical na ordem dos valores, que o evento-Jesus realizou. São sinais desse evento. Lucas proclama a ratificação das promessas messiânicas: bem-aventurados os pobres, os aflitos, os que choram, os famintos… Quem responde afirmativamente ao evento-Jesus tem a alegria de sentir-se amado por Deus e inscrito na história da salvação. Mas os quatro “ai de vós” são dirigidos àqueles que dizem não ao apelo feito por Jesus, aos que não creem no evangelho…
As bem-aventuranças não são lei, são boa notícia, são Evangelho! A lei abandona os seres humanos às próprias forças e o estimula a adaptar-se a ela até o extremo. O Evangelho, ao contrário, põe o ser humano diante do dom de Deus e o incita a fazer desse inexprimível dom o fundamento da sua vida. Em uma civilização de consumo, em que o dinheiro é o ídolo ao qual todos se sacrificam, pelo qual se mata, se escraviza e se morre, ver como “felizes”, “bem-aventurados” os pobres, os indesejáveis da nossa sociedade, os colocados à margem pelo sistemaa os “ninguém”, é um discurso revolucionário, nada aprazível… dizer que estes são os preferidos de Deus e caminho para encontrá-lo é um delírio! Esta é a mensagem: só as bem-aventuranças podem fazer redescobrir a verdadeira face do ser humano, criado por Deus à imagem do seu Filho.
Jesus louva os pobres que vivem ao mesmo tempo em dois mundos, o presente e o escatológico… ameaça os ricos que vivem neste mundo apenas, satisfeitos com o que conseguiram, alheios ao seu redor…
Que possamos entender e escolher o caminho a ser seguido, como nos sugere o Salmo 1: o caminho dos malvados, autossuficientes, perversos ou o caminho dos que encontram prazer na lei de Deus… Que seja assim. Amem e amém. Bjs no coração.

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